Sob ataque
Prezado leitor, infelizmente tenho notas desagradáveis – embora necessárias – a compartilhar nesta quinta-feira.
Ontem comentei aqui sobre os infortúnios enfrentados pelo mercado de títulos do Tesouro Nacional, que vem sofrendo paralisações diárias por conta da volatilidade extrema, algo atípico para a renda fixa.
Contando esta quinta-feira, é o quarto dia seguido que o Tesouro enfrenta paralisação ou suspensão nos negócios.
Hoje soltamos uma nota de manhã aos clientes, refletindo uma situação histórica e insustentável.
Todos os mercados nacionais enfrentam um fogo cruzado sem paralelos.
Ontem os juros futuros brasileiros bateram no limite de variação diária de 80 pontos-base, disparando o mecanismo de circuit breaker, tendo, assim, os seus negócios congelados.
Por sua vez, o seguro contra calote brasileiro (Credit Default Swap) ultrapassou a marca de 500 pontos nesta sessão, patamar equivalente ao de economias de grande porte em guerra civil e/ou sofrendo sanções comerciais de EUA e Europa, como a Rússia.
O gráfico abaixo dá uma dimensão do tamanho dessa percepção de risco atrelada ao Brasil:
Fonte: Bloomberg
Estamos completamente vulneráveis
Hoje o dólar chega ao patamar inédito de R$ 4,23.
A Bolsa brasileira, que já não é a mais valiosa da América Latina, sofre outro tombo.
Com isso, adentramos a marca de 10 mil pontos em dólar para o Ibovespa.
Para se ter ideia da dimensão do problema, isso já é 20% abaixo do piso atingido na crise de 2008.
Ou seja, as empresas brasileiras estão na prateira praticamente de graça para os estrangeiros.
PS: todos os pontos acima reforçam a tese da virada de mão e a importância deste momento único para alguns investimentos. Caso ainda não tenha visto, segue aquio material.
O que os argentinos podem ensinar para a Petrobras (SA:PETR4)
Pode parecer piada em primeiro momento, mas não é...
Para os hermanos, não é novidade que a dívida estoure por desvalorizações da moeda local.
A questão é como os diferentes países têm abordado a situação.
No caso argentino, a estatal YPF também tem uma dívida crescente em dólares e um consequente descompasso em seu balanço.
Porém, o jeito de resolver o problema desde a nacionalização da companhia (2012) tem sido muito diferente:
1) Mesmo tendo sofrido interferência política no Conselho, o CEO da YPF é um renomado executivo com experiência internacional em óleo e gás (Schlumberger). Por sua vez, Aldemir Bendine não é propriamente um técnico do setor - pelo contrário, era o homem do governo no Banco do Brasil (SA:BBAS3).
2) No mesmo sentido, o diretor financeiro da YPF foi previamente alguém com uma carreira muito bem-sucedida em um grande banco de investimentos internacional, com experiência em aquisições, captação de dívida, entre outros.
3) O governo interfere nos preços da gasolina e do diesel na Argentina, porém a divisão de logística mantém uma lucratividade (mais ou menos visando a que 30% do lucro venha dela). A ideia é manter aumentos em linha com a inflação ou se aproximando da paridade de importação. O país também é importador líquido de combustíveis, como o Brasil, mas o governo tem aproveitado a queda dos preços do petróleo em níveis internacionais para ir desfazendo os subsídios.
4) O governo argentino também interfere no preço do petróleo a que vendem os produtores dentro do país para frear as exportações. Porém, como o país é importador líquido, tem subido o preço máximo (é função do preço internacional) como o objetivo de incentivar o investimento no setor no longo prazo.
5) O governo argentino tenta interferir na parte operacional para ajudar a YPF a desenvolver o seu programa de investimentos (por ex. aliviando a burocracia na importação de equipamento). Por aqui, o modelo do pré-sal, por exemplo, obriga a Petrobras a participar com um mínimo de 30% em todos os projetos da fronteira exploratória, sendo que a estatal simplesmente não tem capacidade financeira para fazê-lo.
6) Seguindo o ponto anterior, a Argentina aceitou que não tem expertise na área de oleo e gás e que tem que aproveitar a disponibilidade internacional e não implementar uma política de conteúdo local (casos como a Sete Brasil não existem). Contudo, alguns estados exigem que uma certa porcentagem de contratações venha da região (efeito pouco relevante).
7) O jeitinho argentino... O governo é ciente de que não tem financiamento para o capex alto da companhia e está ajudando proativamente ao management na procura de alianças estratégicas. Recentemente (nov/2014) para facilitar um acordo com a Chevron o governo conseguiu um acordo em menos de uma semana com o congresso para reformar a lei inteira de hidrocarbonetos e conseguir desenvolver Vaca Muerta (principal formação de gás da Argentina).
Resultado?
A argentina está longe de ser uma referência, mas ainda sobra ante a brasileira:
Fonte: Bloomberg
Não à toa, YPF paga juro menor do que Petrobras em suas captações.
Quem chega nos 5 primeiro?
Agradeço a enorme colaboração dos leitores na enquete de ontem.
O candidato 2 saiu vitorioso da pesquisa com os leitores. Ele será o analista responsável pela edição portuguesa do Mercado em 5 Minutos.
Para preencher o vazio de enquetes em seus corações, deixo aqui outra.
Quem chega primeiro em 5?
a) dólar
b) ação da Petrobras
c) popularidade da Dilma
d) volume do Cantareira