Recentemente, o Brasil alcançou a menor taxa de desemprego dos últimos 10 a 15 anos, fechando com 6,1% em novembro de 2024. Essa notícia foi amplamente comemorada pela mídia, mas será que há motivos reais para soltar fogos? Antes de celebrar, é fundamental analisar o cenário mais amplo e entender o que esses números realmente significam. O desemprego tem diminuído desde 2021, após o auge da pandemia, e atingiu agora uma mínima histórica. Mas isso, por si só, não garante que a economia está em boas condições.
A taxa de desemprego mede a proporção de pessoas economicamente ativas – com 14 anos ou mais – que estão procurando emprego e não conseguem encontrar uma ocupação. No entanto, quando analisamos o dado com mais profundidade, percebemos que apenas um pouco mais da metade da força de trabalho apta a trabalhar está efetivamente ocupada. Pior ainda, quase metade dessas pessoas ocupadas está na informalidade. Esse dado revela uma falha estrutural séria no mercado de trabalho brasileiro.
A alta taxa de informalidade aponta para um sistema que dificulta o trabalho formal. Muitos trabalhadores encontram mais vantagens na flexibilidade e na possibilidade de ter dois ou três empregos informais, mesmo que isso signifique a perda de direitos trabalhistas e previdenciários. Para essas pessoas, o trabalho informal pode ser mais rentável, mas a longo prazo, gera um desamparo em relação à aposentadoria e à segurança social. Profissões como motoristas de aplicativos são um exemplo emblemático: embora façam parte da população ocupada, sua contribuição previdenciária é mínima ou inexistente, comprometendo o futuro dessas pessoas.
Países desenvolvidos geralmente não apresentam esses mesmos níveis de informalidade. A informalidade elevada no Brasil reflete uma economia que ainda carece de soluções estruturais para oferecer condições dignas e seguras para a maioria da população. É preciso, portanto, ir além da análise superficial dos números de desemprego e avaliar a qualidade das ocupações geradas, bem como as condições dos trabalhadores.
Por mais que a redução do desemprego seja positiva, ela não significa que o Brasil esteja em um cenário econômico ideal. A saúde econômica de um país deve ser medida pela capacidade de garantir empregos formais, direitos trabalhistas e acesso a serviços básicos de qualidade, como Educação e Saúde. Em um contexto onde esses elementos ainda são frágeis, a comemoração da queda na taxa de desemprego precisa ser vista com cautela.
Refletir sobre esses indicadores é essencial para entender as reais condições do país e buscar mudanças significativas. Enquanto a maioria dos brasileiros não tiver acesso a empregos formais e direitos básicos, será difícil afirmar que o Brasil está no caminho do desenvolvimento econômico sustentável.
No vídeo, explano sobre a falsa sensação de estarmos com a nossa economia indo muito bem.