Moderadamente aprazível
Dia de otimismo. Principal tema lá fora é petróleo, impulsionado pela leitura de que cortes de produção pela Opep manterão barril a preços aprazíveis mesmo que produção americana se expanda.
O front europeu é embalado por resultados corporativos, que dão algum ânimo ao setor financeiro. Preocupações com o cenário político persistem, mas melhor se manifestam nos mercados de dívida soberana. Falo a respeito mais adiante.
Por aqui a agenda econômica é fraca. Bolsa tem alta moderada com predominância de nomes locais — e alguns outliers embalados por balanços vistosos. Juros têm queda discreta; dólar estável.
Como fazer amigos e influenciar pessoas
Não se engane: a despeito do estilo agressivo, Trump há de saber ser agradável quando convém. Donald recebe o primeiro ministro japonês Shinzo Abe amanhã. A programação? Uma amistosa partida de golfe.
Seria de bom tom deixar Abe vencer. O que se fala é que, para além de gestos diplomáticos, a camaradagem encontra motivações adicionais na possibilidade de recursos japoneses serem investidos em projetos de infraestrutura nos EUA. Make America Great Again.
O momento é de escolher parceiros. A troca de afagos com os japoneses contrasta com claro distanciamento de China: ao contrário dos rapapés das últimas semanas com outros líderes mundiais, Trump optou por responder às tradicionais saudações de Pequim em uma lacônica nota escrita.
Novos tempos nas relações sino-americanas.
O que se vê e o que se sente
Em meio ao discurso do Make America Great Again , pedidos de seguro-desemprego na terra dos livres foram, em janeiro, em menor número desde novembro — que já tinha sido bom. Já a confiança do consumidor se encontra no melhor nível desde abril de 2015.
Desnecessário dizer que uma coisa é altamente correlacionada com a outra: as coisas melhoram, quem procurava emprego acaba por encontrar e os níveis de dopamina sobem.
Esse fenômeno é precedido por outro mais silencioso, que exige que perscrutemos outros indicadores mais sutis. Transponho a ideia para o caso brasileiro, aproveitando dia de agenda econômica fraca.
Tráfego em rodovias pedagiadas, produção de embalagens, consumo de energia elétrica, demanda de segmentos industriais específicos… são alguns dos sinais silenciosos que merecem monitoramento atento em busca de indícios de que dias melhores virão.
A gente está começando a olhar com mais cuidado, e primeiras impressões são positivas. Investimentos em máquinas e equipamentos cresceram em dezembro, após cinco recuos mensais consecutivos. Pode ser um suspiro... mas também pode não ser. A ver.
Quebrando o tabu
O cenário de Bolsa do front europeu coexiste com preocupações renovadas com os rumos de França, Itália e Grécia.
Na primeira, variações sobre os temas dos quais já falamos ao longo dos últimos dias. No país da bota, maus presságios com relação ao sistema bancário e ao clima político impulsionam as taxas dos títulos soberanos.
Mas mais do que tudo merece atenção, de novo, a situação grega. A explosiva dívida do país é negociada à maior taxa desde setembro, em meio a dissenso entre credores com relação às próximas rodadas de socorro.
A temperatura está subindo: ministro das finanças alemão sugeriu que, diante da necessidade de re-reestruturar sua dívida, o vizinho deveria deixar a zona do euro (na qual, cá entre nós, nunca deveria ter entrado). Quebrou-se o tabu.
Nem ouse pensar que Grécia não faz preço: basta olhar para trás.
Por que não os dois?
É antiga a rixa entre análise fundamentalista e técnica. A disputa entre o quadriculado das planilhas eletrônicas e das folhas de papel monolog (sim, antigamente fazia-se em papel!) já tem décadas, e novos entrantes do mercado são sempre, em maior ou menor medida, coagidos a escolher sua igreja favorita.
Por que não os dois? A idéia, que sempre soou agradável a gregos e troianos, encontrava resistência da turma dos balanços em função da falta de evidências palpáveis da eficácia do gráfico, sempre visto como uma espécie de cristalomancia.
Estudos acadêmicos mais recentes, no entanto, levaram a turma das finanças a no mínimo assumir uma postura agnóstica. Me incluo aqui, diga-se de passagem.
Era pedido antigo de leitores uma série que conciliasse a seleção rigorosa de empresas com base em fundamentos e omarket timing da análise técnica. Pois bem, aí está: conheça o X-Pattern.