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O Verdadeiro Risco

Publicado 20.05.2014, 21:01

“Arriscado”

Em entrevista recente, Edemir Pinto, presidente da Bolsa, fez questão de frisar logo de início que ações são um investimento de risco. Quatro anos atrás, em campanha de popularização da Bolsa, Pelé (o garoto-propaganda) já havia alertado que não investe em ações pois considera arriscado: “eu investi em alguns imóveis que me deram a segurança que tenho hoje”. Aproveitando a ressaca do noticiário corporativo após a temporada de resultados, tirei o M5M de hoje para comentar a questão.

PELE3

Naquela campanha de popularização, Edemir não estava errado - nem mesmo ao contratar o Pelé (a priori). A ideia original era usar os altos e baixos da carreira do rei do futebol como exemplo de que, ao longo do tempo, as ações são um bom negócio. Vai ao encontro do estudo de Jeremy Siegel, importante docente de Wharton (Universidade da Pennsylvania), que prova justamente a melhor performance da renda variável em longos períodos de investimento, concluindo pela importância de adicionar um pouco de ações à carteira. Siegel estudou o comportamento de vários ativos entre 1802 e 2006, concluindo que US$ 1 investido teria resultado em:

- US$ 32,84 se o destino tivesse sido ouro;

- US$ 5.061,00 se o destino tivesse sido um título do Tesouro norte-americano;


- US$ 18.235,00 se tivesse comprado outros títulos um poucos mais arriscados; e - US$ 12,7 milhões se tivesse comprado ações.

Mesmo sabendo que até o Pelé teve os seus altos e baixos, você não compraria uma ação PELE3 em 1958?

Pelé não compraria

O rei não entendeu a pergunta, e também não assumiu que sua carreira teve altos e baixos. Acabou atrapalhando a ilustração. Mas mesmo que tivesse ensaiado melhor, Pelé provavelmente não faria grande diferença na campanha - nem mesmo o Cumpadi Washington ou o Joel Santana salvariam a meta de 5 milhões de CPFs cadastrados na Bolsa em 2015 (atuais 600 mil). Portanto, a campanha por si só não alteraria o que está enraizado no cidadão médio brasileiro, que definitivamente não tem uma cultura de investimento em ações... assim como o rei, ele prefere a “segurança” dos imóveis...

O que é risco?

Em finanças, “risco” geralmente é associado a volatilidade, às grandes oscilações. Mas oscilações são para cima e para baixo. Você não gostaria do risco de alta? Com base nesse tipo de risco, o preço dos imóveis oscilou muuuuito de uns anos para cá, não? Há também a vertente que associa “risco” ao grau de incerteza. Mas isso também não representa uma vantagem da classe dos imóveis; longe disso. Você não sabe o que acontecerá com o preço da ação no futuro, mas sabe o que acontecerá com o preço do imóvel? Pior: você não saberia me dizer com precisão o preço do seu imóvel; com tanta precisão quanto poderia me dizer quanto vale a sua posição em ações. Fato.

A segurança ilusória

Enquanto está lá parado, o imóvel acaba criando a falsa impressão de que vale quanto você pagou por ele.

Sem perceber, o mercado imobiliário também está variando todo dia, mas você tem menos liquidez (demora mais e é mais difícil comprar e vender) e maior dificuldade na determinação do preço.

Na Bolsa, há a temida marcação a mercado. Mas entre ser amada e temida, ela deveria ser amada. Todo dia você sabe exatamente quanto vale a sua posição, não há distinção de preço (você venderá por aquilo, independentemente de quem for o comprador) e muito maior liquidez para a negociação. Talvez o Pelé não tenha percebido, mas a impressão de segurança dos imóveis, que eles oscilam menos ou preservam valor, é completamente ilusória.

Você tem fome de quê?

Poderíamos ampliar esse comparativo a diversas outras classes de ativos, por mais exóticos que possam parecer. Conheço um dealer de quadros que vendeu uma obra para um grande banqueiro de investimento da Faria Lima por R$ 500 mil. Ao chegar orgulhoso pelo negócio à galeria, para retirar o quadro, ouviu da curadora que: “Nossa, você vendeu por 500 para ele? Você sabe quanto dinheiro esse cara tem? Para ele daria para ter vendido por 700”.

No mercado de arte, nem se comenta por quanto vendeu ou comprou uma obra. Há discriminação de preço. Preços diferentes para diferentes compradores, de acordo com o perfil do comprador. No mercado de feijão, você compra uma carreta e paga na frente, sem nota. E se ele não te entregar? Não há uma câmara de liquidação de custódia por trás. Ouvi o seguinte de um grande atacadista: “funciona na base da confiança. E se não entregarem, a gente resolve na bala.”

Boxe vs. MMA

Diante de tudo isso, pergunto: qual a diferença entre o boxe e o MMA, sob a ótica de segurança (do lutador)? A priori, o MMA aparenta ser mais violento, pois você vê as escoriações, é um esporte mais sangrento. Enquanto isso, pelas dimensões e peso, a luva do boxeador acaba protegendo o mesmo de traumas aparentes. Nessa o boxeador “aguenta” apanhar muito mais tempo sem o juiz interromper a luta. Lá na frente a gente vê o resultado.

Sangue bom

Paradoxo: assim como a marcação a mercado, o sangue, aparentemente o risco, na verdade acaba sendo a proteção do indivíduo.

Como o homo economicus não é um ser completamente racional, o que em tese seria uma vantagem (da marcação a mercado) acaba despertando o seu espírito animal e estimulando decisões baseada no fator emocional. Se todo dia você recebesse um relatório informando o quanto o preço do seu imóvel variou, provavelmente veria as coisas de maneira diferente. Risco mesmo é a chance de perda do capital no longo prazo. Isso é bem diferente de volatilidade.

A gente se vê.

Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.

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