- Após a última reunião do Fomc, comitê de política monetária dos EUA, os mercados estão precificando um Fed mais “dócil”.
- Mas dirigentes e membros do conselho do Fed têm se manifestado no sentido contrário.
- Pode ser que os mercados tenham cometido um enorme erro de cálculo.
Os mercados podem ter cometido um enorme erro ao acreditar que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) adotará uma postura mais “dócil” daqui para frente. Nesta semana, diversos dirigentes e membros do conselho do BC americano se pronunciaram no sentido de que os juros terão que subir mais e permanecer elevados por algum tempo para que a inflação volte para a meta de 2%.
Tudo indica que essa mensagem está chegando aos mercados, com os contratos futuros dos fundos do Fed sendo os primeiros a reagir. No fim de semana, a mudança mais notável ocorreu em relação ao momento do primeiro corte de juros do Fed.
Na semana passada, os Fed Funds futuros estavam precificando o primeiro corte em março de 2023, mas mudaram para maio do ano que vem. Além disso, registraram um pico de 3,25% nas taxas, que agora devem alcançar 3,45%. Se o Fed conseguir o que almeja, os cortes de juros continuarão avançando no tempo, e as expectativas de juros subirão.
Pode ser uma mudança sutil, mas é significativa, na medida em que o mercado havia se convencido de que, após a reunião do Fomc, o Fed se basearia mais nos dados e adotaria uma postura mais “dovish” (flexível) e favorável ao mercado. Mas o tom dos dirigentes do Fed desde a última reunião de política monetária sugere justamente o contrário: o Fed pode precisar subir muito mais os juros e mantê-los elevados por um período maior que o esperado.
O recente rali nas ações, principalmente em empresas de crescimento, ocorreu devido à flexibilização das condições financeiras e queda dos juros reais, em razão da visão distorcida do mercado. No entanto, à medida que os agentes reprecificam o fato de que o Fed não cessará de subir os juros no futuro próximo, as condições financeiras devem voltar a ficar apertadas, juntamente com a alta dos juros reais.
Essas condições financeiras mais apertadas resultariam em cortes nos níveis de margem, enquanto os juros reais atuariam no sentido de reduzir a relação P/L e os valuations das ações. O ETF TIP, que investe em títulos protegidos pela inflação, indica, durante suas quedas, que os juros reais estão subindo, além de demonstrar alta correção com o ETF QQQ. Com o tempo, o ETF QQQ tende a seguir o TIP, e se este começar a cair novamente, tudo indica que ambos seguirão em queda.
O recente declínio nos juros e a flexibilização das condições financeiras não devem durar, já que o Fed seguirá emitindo pronunciamentos duros. Além disso, quanto mais as condições se flexibilizarem, mais irão de encontro com o que o Fed está tentando fazer, que é trazer a inflação para baixo. Para tanto, o BC americano precisa que as condições financeiras se restrinjam, e não o contrário, o que faz com que o recente rali das ações seja um absurdo em vários níveis. A alta do mercado acionário ajuda a flexibilizar as condições financeiras e, em última instância, dificulta o trabalho do Fed, além de indicar que o banco terá que elevar os juros ainda mais no longo prazo.
Portanto, sim, as ações podem continuar subindo, mas o risco de queda ainda é grande.
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