Olá, pessoal! Em uma coluna de fevereiro deste ano, expliquei que a ciência ainda não possui instrumentos para determinar ou prever o futuro e, por exemplo, onde a nossa bolsa estará no final deste ano: e eu sei que isso frustra muitas pessoas que buscam saber o futuro (vide alguns comentários deste artigo acima, fruto claríssimo desse tipo de frustração). Entretanto, como escrevi nesse mesmo texto, o conhecimento científico nos permite, sim, avaliar o grau de incerteza de um determinado investimento e como o futuro poderá ser. É isto que farei hoje por aqui ao analisar o que pode acontecer com a nossa bolsa até o final deste ano. Espero que esta análise o(a) ajude a tomar as melhores decisões de investimento.
Para entender melhor a incerteza do Ibovespa, analisei o histórico dos últimos dez anos. Calculei prêmios históricos de risco em relação ao CDI realizado e ajustei tais prêmios à atual projeção do CDI até o final do ano. Utilizei, então, a técnica conhecida na literatura como simulação de Monte Carlo via bootstraping, onde simulo caminhos aleatórios para o Ibovespa até o final do ano com base exatamente no histórico passado. É o futuro simulado muitas vezes com base não exatamente no que aconteceu (porque o passado jamais se repetirá de maneira precisa), mas sim numa distribuição de probabilidades que respeita o que aconteceu. Trata-se de uma técnica bastante utilizada em muitas situações de análise e tomada de decisão em Finanças e em outras áreas do conhecimento.
O resultado projeta uma expectativa de mercado para o Ibovespa ao redor de 150 mil pontos ao fim deste ano. É muito importante ressaltar que “expectativa” não indica o que eu ou a ciência (aqui representada pelo modelo e premissas consideradas) de fato esperamos que acontecerá. Em outras palavras, a técnica não tem o menor intuito de cravar um Ibovespa em 150 mil pontos ao fim de 2025. Na verdade, este representa o valor de equilíbrio dentre todas as expectativas que existem no mercado, a julgar, claro, pelas premissas que utilizei (notadamente que o histórico passado de dez anos é um bom estimador do que pode acontecer nos próximos meses).
Faço uma analogia com o lançamento do dado, onde o valor esperado é 3,5 (média tomada dos números de 1 a 6) e jamais poderemos esperar que o dado resultará neste valor, até porque não há nenhuma face com o resultado 3,5. Aliás, nem mesmo podemos afirmar que valores mais próximos a 3,5 (3 e 4) têm mais chances de ocorrência porque qualquer dos seis resultados têm a mesma probabilidade. Mas o 3,5 indica um valor de equilíbrio entre todas as possibilidades (faça a analogia com todas as expectativas de mercado) e, se lançarmos o dado muitas vezes e tirarmos uma média dos valores encontrados, essa tenderá para o 3,5. Essa é a correta interpretação de qualquer valor esperado, segundo a boa e velha estatística.
ENTENDENDO A INCERTEZA DESSA PROJEÇÃO DO IBOVESPA NO FINAL DE 2025
Na figura abaixo, apresento o histograma da simulação que fiz em intervalos de 10 mil pontos. Relembro que ele foi construído a partir do Ibovespa a 133.491 pontos, no fechamento da última segunda-feira, dia 5. Perceba que o histograma mostra o nível de risco ao qual um investidor se expõe ao investir no principal índice da bolsa brasileira. O eixo vertical representa a probabilidade de ocorrência, ao final do ano, para cada faixa ilustrada no eixo horizontal.
Há uma conhecida métrica de risco chamada VaR (valor em risco ou value at risk) que significa a perda possível, com determinado nível de significância estatística (chance). Na tabela abaixo, apresento os VaR’s a 10%, 5% e 1%. O VaR a 10% deve ser interpretado da seguinte maneira: de acordo com a análise e suas premissas históricas, há 10% de chance do Ibovespa fechar o ano no valor de 119.281 pontos ou abaixo. As outras interpretações são análogas. Caso você invista no Ibovespa, é importante dormir confortavelmente com esses valores e probabilidades. Só invista quando você estiver preparado para perder.
Como sempre gosto de ressaltar, o risco ruim (da perda) jamais vem sozinho, mas sempre acompanhado do risco bom (do ganho). O histograma acima mostra isso. Por exemplo, há cerca de 10% do índice atingir os 183 mil pontos (ou mais) ao final do ano, o que significaria uma bela valorização de aproximadamente 37% (no mínimo).
CUIDADO COM O VIÉS DE CONFIRMAÇÃO AO TOMAR SUAS DECISÕES DE INVESTIMENTO
Uma rápida pesquisa no Wikipedia ensina que o viés de confirmação “é a tendência de se lembrar, interpretar ou PESQUISAR POR INFORMAÇÕES DE MANEIRA A CONFIRMAR CRENÇAS OU HIPÓTESES INICIAIS”. Se eu estiver muito otimista, tenderei a procurar e dar credibilidade a projeções que apontem o Ibovespa na casa dos 180 mil pontos ou mesmo acima! Essas projeções, de fato, existem e, com enorme respeito aos profissionais que as fazem, precisamos entender que estão baseadas em premissas fortes e fundamentadas em opiniões do que acontecerá em diversos aspectos econômicos e até políticos. O contraponto é que projeções baseadas em premissas opostas que concluem em um Ibovespa na casa dos 110 ou 120 mil pontos também existem, da mesma forma. Precisamos entender que o patamar hoje do Ibovespa é aquele que equilibra as projeções, tal como o 3,5 é o valor de equilíbrio ao se lançar um dado.
Repito: ambas as projeções podem estar muito bem construídas, por profissionais do mais alto gabarito, mas estarão baseadas em premissas fortes e, na maioria das vezes, opinativas. É como num Fla x Flu, no qual eu posso estimar que Arrascaeta e companhia estarão impossíveis e o Flamengo vencerá com autoridade, tal como o fez em 2019 ou na final do campeonato Carioca neste ano. Mas lembre-se que o Fluminense andou vencendo Cariocas e diversas partidas em cima do seu maior rival. Uma premissa forte como “a do Arrascaeta e companhia estarem em um dia inspirado” indica apenas um cenário possível (que inclusive eu posso acreditar ou não que acontecerá), mas não podemos desprezar outros cenários e a tal da incerteza, sob o perigo de se negligenciar o risco. Não compreender o risco ao qual estamos expostos é um caminho fácil para o fracasso com seus investimentos.
Espero realmente que esse artigo o ajude a entender como é o mercado, não se deixando levar por nenhum viés por falta de conhecimento. Entender os riscos de forma imparcial e realista é fundamental para que você tome as suas melhores decisões de investimento. Aproveito e convido cada um de vocês a me seguir nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Também tenho um canal no Youtube, com muitos vídeos didáticos, o qual recentemente atingiu a marca de mil seguidores. Quem sabe, você não quer conhecê-lo?
Um forte e respeitoso abraço a todos vocês.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Certificado pelo CNPI e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros. Além disso, ele é Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e Sócio-Fundador da CHC Finance e da Four Capital. Campani pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na quinta-feira.