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Paradoxo nos mercados

Publicado 08.01.2024, 09:04
Atualizado 10.01.2024, 08:22
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A recuperação do Ibovespa e das bolsas de Nova York na última sexta-feira (5), após dados fortes sobre o emprego nos Estados Unidos, mostra o paradoxo em que vivem os mercados neste início de 2024. Afinal, a criação de mais postos de trabalho que o esperado em dezembro não combina com cortes nos juros pelo Federal Reserve já em março.

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Porém, como as ações globais vinham acumulando queda nos primeiros dias do ano novo, os números robustos do payroll foram a senha para uma caça por pechinchas. Ainda assim, o principal índice acionário da bolsa brasileira abriu 2024 acumulando perda de 1,6% na semana. Em Wall Street, o Dow Jones caiu 0,6% no período e o S&P 500, -1,5%.

É sob essa condição que contraria o cenário básico do mercado financeiro que os ativos de risco iniciam esta semana. Os investidores ainda relutam em se desfazer das apostas de queda na taxa dos EUA mais cedo do que tarde e em ritmo bem agressivo, de até seis cortes, mas essa convicção tende a trazer mais instabilidade aos negócios globais.

Com isso, o chamado “efeito Janeiro” - ou a teoria de que as bolsas sobem mais neste mês do que em qualquer outro mês do ano - é colocada à prova por ventos contrários vindos da realidade. Afinal, vários cortes na taxa dos EUA são mais frequentes em cenários de recessão. No entanto, quando ocorrem em meio a um pouso suave da economia podem levar a uma reviravolta na batalha contra a inflação.

Contágio na China

Daí porque os indicadores econômicos previstos para esta semana devem movimentar os mercados globais. Por ora, os futuros dos índices acionários nos EUA exibem queda firme na manhã desta segunda-feira (8), em meio às perdas de mais de 1% do petróleo e após uma sessão negativa na China, o que também afetou o minério de ferro.

O pedido de falência do grupo chinês Zhongzhi pesa no sentimento dos investidores, em meio ao temor de contágio da crise do setor imobiliário da China no sistema financeiro - ou ao menos no setor bancário paralelo, o chamado shadow banking. A situação do conglomerado financeiro se agravou após uma investigação de Pequim por supostos crimes cometidos pela empresa.

Vale lembrar que o sistema bancário paralelo na China, que movimenta aproximadamente US$ 3 trilhões, funciona às margens de muitas das regras que regem os tradicionais bancos comerciais e o sistema financeiro chinês. A canalização de recursos se dá através de patrimônios imobiliários vendidos de investidores para incorporadoras. Ou seja, o efeito tende a ser maior na indústria de fundos de investimentos, em especial offshore.

Agenda guia mercados

O destaque nesta semana fica com os índices de preços ao consumidor brasileiro (IPCA) e norte-americano (CPI), ambos na quinta-feira (11). Os resultados podem calibrar as expectativas em relação aos próximos passos do Fed e do Comitê de Política Monetária (Copom). Aliás, 2024 começa com uma “Super Quarta” - no último dia de janeiro.

Até lá, as divulgações da agenda serão lidas com lupa, em busca de pistas sobre a situação da atividade econômica. Aliás, vale lembrar que a surpresa positiva com o crescimento da economia brasileira (PIB) nos três primeiros trimestres de 2023 é apenas um dos exemplos dos erros nas projeções dos economistas, humilhando os pessimistas.

Por isso, também merece atenção nesta segunda-feira (8), a divulgação do Boletim Focus (8h25), do Banco Central. Porém, o calendário local é modesto, em termos de divulgações relevantes. O mesmo é observado lá fora. Além dos EUA, que também tem a inflação ao produtor norte-americano (PPI), a China também divulga os números do seu CPI e PPI.

Os dados saem na virada para sexta-feira, fechando o dia de divulgações de índices de preços, e serão conhecidos juntamente com os números da balança comercial chinesa em dezembro. Porém, os dados brasileiros divulgados ao final da semana passada já dão pistas da robustez da demanda chinesa.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a exportação brasileira para a China superou a marca de US$ 100 bilhões em 2023, com o superávit do comércio bilateral alcançando o recorde de US$ 51,1 bilhões. O valor representa mais da metade do saldo comercial total do país, que atingiu a marca também histórica de US$ 98,8 bilhões.

Mas muitos “especialistas” por aí continuam decretando o fim de uma das maiores economias do mundo. Prepara-se, então, para novas previsões catastróficas para a China em 2024 após o episódio mais recente no setor imobiliário, ao menos até o gigante emergente sair de cena para as celebrações do Ano Novo Lunar, em meados de fevereiro.

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