Nesta ressaca de Natal, após ter dado um château margaux e recebido um par de meias do amigo secreto, talvez você esteja matutando sobre o conceito de stop loss.
Stop loss é como ter um freio de mão logo ao alcance para o caso de um investimento feito lá atrás mergulhar no prejuízo.
Há cem maneiras arrojadas de se calcular e implementar o stop loss “ótimo”, mas a ideia em si é bastante simples.
Por exemplo: se você suporta perder, no máximo, 10% com determinado trade, deixe uma ordem programada no homebroker para zerar a 90 uma posição que você comprou a 100.
Há alguns sérios problemas associados à execução prática do stop loss, dos quais destaco:
- 1) A dificuldade de estimar quanto de vol negativa o investidor tem que aceitar para ter o direito de beber da vol positiva.
- 2) As restrições de liquidez ou de efeito manada na hora de zerar, pois zeragens sistêmicas podem fazer com que um stop loss de 10% seja liquidado com perdas de 20%, 30% ou 50%.
Tudo isso para lhe revelar que não quero falar sobre stop loss hoje.
Estou longe de achar a ferramenta inútil, mas eu mesmo não costumo usar stop loss.
Prefiro controlar risco por meio de size positioning – o tamanho, definido logo de cara, para determinada alocação de alto risco em seu portfólio.
Pequeno e com muito risco acontece desta forma: se você perder, não machuca. Se você ganhar, faz diferença no todo.
E gosto ainda mais de pensar no risco com exatamente o mesmo algoritmo que uso para estimar assimetrias favoráveis, pautando-me na chamada “margem de segurança”.
Em sua versão canônica (Graham, Dodd, Buffett, Munger, etc…), a margem de segurança prega o mandamento de comprar por 50 centavos aquilo que vale um real.
Ou, numa versão um pouco mais flexível e mundana, comprar por – no máximo – 67 centavos aquilo que vale um real.
Assim, mesmo que estejamos errados quanto à perspectiva de valer um real, temos uma boa margem para continuar lucrando caso o ativo valha 70c, 80c ou 90c, por exemplo.
Quanto maior sua margem de segurança, maiores suas chances de lucrar mesmo estando errado.
Isso é importantíssimo, pois o cenário-base em finanças é justamente o de estarmos errados ou, na melhor das hipóteses, estarmos apenas aproximadamente certos.
Outro ponto essencial da margem de segurança é a de que ela é definida por você no momento da compra, ao preço de compra.
Quem faz margem de segurança na venda (“melhor colocar essa grana no bolso, pois sabe-se lá o que vai acontecer com o ativo”) na verdade está inseguro em relação ao investimento.
É claro que ninguém sabe exatamente quanto vale um ativo; o dito “valor intrínseco” é meramente um conceito platônico.
Mesmo assim, a ideia de margem de segurança continua útil e prática.