A alta do dólar em relação à moeda brasileira tem forte influência desde as coisas mais simples, como o preço do pão, até as mais complexas, como a taxa de juros, comércio estrangeiro, fluxo de capital e, é claro, inflação.
Entenda a seguir alguns pontos importantes que corroboram com a trajetória da nossa moeda.
O que explica a valorização do real?
Em um ano marcado por temores de recessão e uma inflação persistentemente alta globalmente, o real teve uma valorização de +5,69% ante o dólar em 2022.
O superávit na balança comercial e investimentos estrangeiros foram pontos-chave para o resultado.
- Em 2022, a balança comercial brasileira registrou superávit de R$ 63 bilhões, de acordo com a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o melhor resultado da série histórica, superando o recorde anterior de 2021. Isso considerando que a China, uma das maiores economias e importadoras de commodities do Brasil, ficou os últimos três anos quase integralmente fechada por conta da Covid-19.
Com uma eventual reabertura da economia chinesa nos próximos meses, a demanda por commodities deverá aumentar consideravelmente, resultando em uma balança comercial melhor ainda.
O superávit na balança comercial, de forma simples e resumida, significa que o país recebeu mais dinheiro do que gastou. Mais dólares na economia refletem uma oferta maior e, consequentemente, uma valorização da moeda local.
- Outro ponto é que hoje temos as maiores taxas de juros reais das economias ‘investíveis’. Com o último ciclo de alta de juros, chegamos novamente ao patamar de dois dígitos, aumentando o diferencial de juros contra demais países e, consequentemente, aumentando a atratividade para investimentos no país.
Mais investimentos no país significa maior entrada de recursos e, novamente, força positiva para apreciação da moeda.
Na ponta contrária, temos:
A dúvida agora é se, com o atual governo, o real manterá o mesmo vigor em 2023.
Olhando para os fundamentos, enxergamos dois possíveis movimentos que podem ter impacto negativo sobre o câmbio – um é o risco de desaceleração global e o outro é o risco fiscal.
- A desaceleração das principais economias do mundo gera um certo grau de incerteza no mercado para novos investimentos. Os principais players e instituições aumentam o grau de cautela e, nesses momentos, há uma fuga de capitais para locais seguros, os famosos “safe heaven”.
- Por fim, no ponto mais importante para a trajetória do câmbio nos próximos meses, temos a política fiscal e econômica do país no centro das discussões. Caso tenhamos uma política fiscal mais expansionista e que coloque em xeque a trajetória da dívida local, haverá uma pressão negativa para a saída de capitais e, consequentemente, forte depreciação do real.
Esse é o fator que mais nos traz preocupação, uma vez que o movimento é feito de forma rápida e exponencial, vide o ocorrido com países parecidos com o nosso como Turquia e Argentina. Caso tenhamos um cenário mais adverso de deterioração econômica relevante, nenhum dos pontos a favor citados acima terão forças para sustentar uma apreciação do Real.
Como se proteger da alta do dólar?
No caso da alta do dólar, a única bala de prata é a diversificação da carteira. Diversificação entre classes, setores e principalmente moedas/geografias.
Exemplo:
Entre os países emergentes com condições levemente similares ao Brasil, temos a Turquia.
Do início do século até o começo de 2016, a Turquia teve uma dinâmica cambial bastante parecida com o nosso país, sustentada principalmente pelo diferencial de juros, dinâmica de balança comercial, crescimento mundial e dinâmica política/fiscal.
Imagine um investidor da Turquia com 100% do patrimônio no país. Enquanto nós vimos o Dólar/Real sair de R$ 3,20 para R$ 5,20, o investidor da Turquia viu o Dólar/LiraTurca sair de ₺3,20 para ₺18,80, uma desvalorização de mais de 80% nos últimos seis anos. Seu poder de compra em padrões internacionais foi destruído.
Como dissemos, é essencial para os investidores que pensam em preservação de capital terem parte do seu recurso dolarizado, mantendo assim o poder de compra caso de fato haja uma rápida ou relevante deterioração econômica.