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Petróleo: Possível Acordo EUA-Irã Pode Não Ser Suficiente para Reduzir os Preços

Publicado 10.02.2022, 09:52
Atualizado 09.07.2023, 07:31
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Publicado originalmente em inglês em 10/02/2022

As tensões no leste europeu estão ajudando a manter o petróleo em alta, porém o fato mais relevante no setor e na geopolítica nesta semana é a situação das negociações entre EUA e Irã. De acordo com diplomatas norte-americanos, as tratativas entre os dois países estão progredindo para uma “fase crítica”.

WTI semanal

Os mercados parecem encarar a notícia como um indicativo de que um acordo final acontecerá em breve, o que pode aliviar as sanções ao país persa. Na terça-feira, os preços do petróleo caíram mais de 2% diante da notícia de que as tratativas entre os dois países estavam avançando.

Qual é a probabilidade de um alívio nas sanções?

É pouco provável que a atual rodada de tratativas resulte em uma resolução completa ou em um novo acordo nuclear entre os EUA e o Irã, na medida em que ainda há diversas questões pendentes de resolução.

Os representantes de ambos os lados ainda precisam se reunir pessoalmente, haja vista que todas as conversas estão sendo feitas através de intermediários. Dito isso, alguns analistas do Irã estão muito otimistas com a iminência de um novo acordo nuclear e apontam que ambos os lados estão bastante motivados a concluir as negociações.

É possível que vejamos o fim de todas ou parte das sanções antes mesmo de que um acordo nuclear final seja selado. Já faz algum tempo que o governo Biden defende que as sanções petrolíferas só possam ser encerradas mediante a assinatura de um novo acordo nuclear. Contudo, há indicativos de que tal determinação não é tão forte assim. Isso porque o governo Biden já considera relaxar as sanções antes mesmo de um acordo final.

Em 4 de fevereiro, o secretário de estado Blinken assinou diversas isenções associadas aos projetos nucleares civis do Irã, permitindo que países e empresas estrangeiras trabalhem em tais projetos e evitem penalidades associadas às sanções norte-americanas. Ainda que essas isenções não tenham nada a ver com o petróleo, o fato de que os EUA as assinaram sem qualquer concessão por parte do Irã poderia ser um sinal de que poderemos ver em breve uma minimização das barreiras impostas ao petróleo persa.

O governo Biden parece estar desesperado para reduzir os preços mundiais do petróleo e do processamento de gás nos EUA. Ele está enfrentando pressão política para fazer algo que reduza essas altas de preços.

No fim de novembro de 2021, o governo americano tentou baixar os valores da gasolina para os consumidores do país antes das festas de fim de ano, combinando uma liberação coordenada das reservas petrolíferas estratégicas com diversos países. O esforço não teve impacto nos preços do petróleo e da gasolina, ao contrário da variante ômicron, responsável pela queda subsequente nos preços.

Dessa forma, o alívio das sanções ao Irã seria uma maneira rápida de aumentar a oferta mundial de petróleo e facilitar o arrefecimento dos preços.

Qual volume de petróleo o Irã consegue de fato injetar no mercado?

No último ano, as exportações iranianas de petróleo e condensados variaram da máxima de 1,65 milhão de barris por dia (mbpd) em março de 2021 até a mínima de 746.000 barris por dia (bpd) em maio de 2021. Recentemente, a média das exportações do país gira em torno de 1,37 mbpd. (Os dados sobre as exportações persas baseiam-se nas informações do portal TankerTrackers.com). Durante o governo Trump, logo após a imposição das sanções, em 2018, as exportações do Irã caíram para cerca de 200.000 bpd.

Antes dessa medida, as remessas persas para o exterior chegaram a atingir 2,8 mbpd, segundo a TankerTrackers.com. De acordo com  a Rystad Energy, o Irã pode começar a aumentar sua produção e, consequentemente, o volume de petróleo e condensados no mercado mundial dentro do prazo de 4-6 meses a partir do alívio das sanções.

Por outro lado, a National Iranian Oil Company (NIOC) afirmou, em junho do ano passado, que se as sanções fossem levantadas, poderia restaurar sua produção para 3,8 mbpd no prazo de um mês. É mais sensato que os investidores do petróleo confiem mais em analistas independentes do que no governo iraniano.

Se as sanções terminarem, é possível que o país persa venda imediatamente seu petróleo estocado em navios-tanque, o que corresponde a cerca de 87 milhões de barris, segundo a Kpler.

Já o Goldman Sachs (NYSE:GS) estima que, se o acordo com o Irã for assinado no próximo mês, o petróleo do país só teria algum impacto no mercado no 3º tri. Os analistas de commodities do Goldman, entretanto, estão mais céticos do que os analistas iranianos com a possibilidade de um acordo no curto prazo. (Nota do departamento de pesquisa sobre commodities do Goldman Sachs de 8 de fevereiro de 2022).

Como o desenrolar da situação pode impactar os preços do petróleo?

A notícia de um acordo provocaria a queda dos preços do petróleo diante da perspectiva de aumento de oferta. Contudo, essa queda provavelmente se reverteria após o noticiário digerir o acordo, na medida em que ainda há forças altistas em vigor (inflação, políticas ambientais dos EUA, imbróglio entre Rússia-Ucrânia e potencial alívio da baixa demanda gerada pelo vírus).

A previsão do Goldman Sachs é que, se o acordo for assinado em março de 2022, as exportações petrolíferas persas poderiam crescer até o 3º tri de 2022 a ponto de reduzir as previsões de preço em US$7 por barril.

Além disso, a capacidade de produção do Irã não é o único obstáculo para o retorno do petróleo persa para o mercado global. Muitos clientes em países como Japão, Turquia, Índia e Coreia do Sul devem mostrar relutância em comprar o petróleo iraniano, em razão de questões de pagamento e seguro ainda não resolvidas. Pode levar vários meses para que esses antigos clientes se sintam à vontade para se comprometer financeiramente com o Irã.

Como o alívio das sanções deve ocorrer através de uma ação executiva, alguns compradores estrangeiros também ficarão hesitantes em retomar as relações com o Irã, dado que um novo presidente (possivelmente eleito em 2024) pode simplesmente acabar com esse acordo, como fez Trump ao assumir a presidência em 2018.

 

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