Continuamos avançando no esforço de estabilização (ou normalização) da economia brasileira. Na decisão do Copom não houve maiores surpresas, até porque boa parte do mercado já esperava o início do ciclo de redução da taxa Selic. Talvez tenha decepcionado um pouco a intensidade do corte, em apenas 0,25 ponto percentual, a 14,0%, mas os últimos acontecimentos políticos (ou judiciais) talvez possam ter contribuído um pouco para esta postura mais cautelosa da autoridade monetária. A prisão de Eduardo Cunha, suas ameaças por ser um “arquivo vivo” de muitas negociatas, pode ter contribuído. Importante observar também que o ajuste fiscal segue avançando, mas nada é para já. Muito se comenta que a estabilização da dívida bruta só deve ficar para 2019 ou 2020. A “PEC do teto” precisa ser aprovada sem “mudanças” ainda neste ano e a Reforma da Previdência entrar na pauta do Congresso, com desfecho, no mais tardar, ao fim do primeiro semestre do ano que vem.
Falando da economia real, por outro lado, as coisas parecem não acontecerem no momento ou intensidade prevista. Muitos estavam, há alguns meses atrás, vislumbrado a economia apresentando recuo no segundo trimestre (0,6%), mas se estabilizando no terceiro e começando a crescer no quarto. O gráfico abaixo, sobre o desempenho do PIB do segundo trimestre, bem mostra este “ponto de virada”.
No entanto, pelos dados mais recentes da indústria, dos serviços e do comércio, o que se tem é ainda uma economia fragilizada. Em agosto, as vendas do varejo recuaram 0,6% contra o mês anterior, 5,5% contra o mesmo mês do ano passado e cerca de 6,6/6,7% no ano e em 12 meses; o setor de serviços recuou 1,6% contra julho, 3,9% contra o mesmo mês do ano passado e entre 4,7% e 5% no ano e em 12 meses, e a indústria levou um tombo de 3,8% contra julho, talvez explicável pelo péssimo desempenho da indústria automobilística, recuando 10,4%, em função das paralisias em algumas montadoras da Volkswagen.
Reflexo disso tudo, no IBC-Br, uma espécie de prévia do PIB publicado pelo IBGE, o tombo acabou reverberando, com recuo de 0,9% pela série dessazonalizada, indo a -4,4% contra o mesmo mês do ano passado. Em 12 meses o recuo chega a 5,6%, sendo que pela média móvel trimestral a queda atinge 0,4% no período terminado em agosto, mesmo patamar de julho (-0,39%).
O problema é que neste cenário de “terra arrasada”, com o desemprego chegando a 11,8 milhões de brasileiros e a atividade totalmente retraída, difícil encontrar possíveis “vetores de crescimento”, ou seja, indicativos consistentes que nos dêem subsídios sobre a retomada da atividade. Pelo lado do Consumo das Famílias, o que se tem é total retração pelo elevado desemprego, crédito escasso e ainda pouco confiança. Esta até está reaparecendo, mas algum gap se observa no olhar sobre o momento presente, ainda muito turvo, e as perspectivas futuras, mais otimistas. Isto até se reflete numa retomada gradual das captações externas, neste ano em torno de US$ 19 bilhões, bem acima do registrado em todo o ano passado (US$ 6,5 bilhões) e se aproximando da média das captações nos anos anteriores (US$ 24,4 bilhões).
Falando, por outro lado, dos investimentos, alguma perspectiva há, ainda mais depois do pacote de concessões, anunciando para 2017 algo em torno de R$ 24 bilhões, volume considerado aceitável, até porque não deve vir do governo, do BNDES, mas sim de mecanismos de mercados, como bolsa de valores ou mesmo das captações externas. Chama atenção também que a capacidade ociosa elevada da indústria neste momento (cerca de 21%), pode se tornar algo positivo mais à frente, por haver espaço para a expansão da economia sem gargalos ou repasses de custos, assim como o aumento da produção sem investimentos adicionais.
Isto posto, estamos até achando que não haverá novidade sobre o mergulho recessivo sofrido pela economia como um todo neste ano, não sendo surpresa se a retração for maior do que os 3,19% previstos pela Focus, mas para o ano que vem já dá para vislumbrar alguma reação. Para esta Consultoria, o PIB previsto para 2017 ainda é de crescimento de 1,2%, mas pode vir acima disto. Muitos acham que pode chegar a 2%, mas o FMI, ainda preocupado com os imbróglios políticos, os desdobramentos da Lava-Jato, as dificuldades da agenda fiscal e outros fatores de perturbação, acha que não cresce mais do que 0,5%.