Ainda não se sabe qual é o real impacto do coronavírus na China, mas algumas das maiores empresas norte-americanas já começaram a sentir suas repercussões econômicas. Isso se aplica principalmente às companhias que têm importantes mercados ou fornecedores estratégicos no país asiático.
A Apple (NASDAQ:AAPL) tem ambas as coisas. Ontem, as ações da fabricante do iPhone e de computadores se desvalorizaram mais de 2%, depois que a empresa anunciou, na segunda-feira, que poderia não atingir suas projeções de receita para o trimestre que se encerra em março. A razão é a desaceleração dos trabalhos e a demanda mais fraca de smartphones na China, um dos maiores mercados da empresa sediada em Cupertino, Califórnia, onde registrou quase US$ 52 bilhões em vendas no último ano fiscal.
Produção restrita e demanda reduzida
A Apple afirmou que a produção do iPhone – responsável pela maior parte da receita da companhia – está temporariamente limitada devido a problemas relacionados ao vírus. “O trabalho está começando a ser retomado ao redor do país, mas o retorno às condições normais tem sido mais lento do que prevíamos”, declarou a empresa em um anúncio. Além disso, a demanda de iPhones teve uma queda, pois as lojas na China foram fechadas ou estão operando com horário reduzido por causa dos poucos clientes, afirmou a companhia.
A Apple planejava iniciar a produção de um novo iPhone de baixo custo em fevereiro e comercializá-lo no início de março, de acordo com uma reportagem da Bloomberg News. Ainda não se sabe como o coronavírus impactou esses planos.
Em janeiro, antes da disseminação do vírus, a companhia afirmou que esperava registrar vendas líquidas entre US$ 63 e 67 bilhões em seu segundo trimestre fiscal. Ela não forneceu qualquer atualização dessa faixa de receita na segunda-feira.
A atual fraqueza das ações da Apple (NASDAQ:AAPL) ocorre após uma fortíssima disparada nos últimos 12 meses, quando a capitalização de mercado da companhia cresceu mais de US$ 725 bilhões, atingindo cerca de US$ 1,38 trilhão. O papel fechou o pregão de segunda-feira cotado a US$ 318,25, três por cento abaixo da máxima histórica de US$ 327,85. As ações se valorizaram 8% no ano e 86% nos últimos 12 meses.
Os investidores estão convencidos de que o impacto do vírus terá vida curta, principalmente porque a força subjacente da economia norte-americana continua intacta e os bancos centrais tanto nos EUA quanto na China estão prontos para intervir e respaldar a economia. Esse foi o principal vetor responsável por fazer o S&P 500 registrar um fechamento recorde na sexta-feira, pela décima segunda vez no ano.
Esse recuo é uma oportunidade de compra?
Para alguns, a disseminação do vírus mortal pode ser o próximo "cisne negro” capaz de encerrar a corrida de alta de 11 anos nos mercados acionários dos EUA. Até hoje já foram confirmados mais de 75.000 casos do coronavírus, com pelo menos 2.000 mortes, em sua maior parte na China.
Em uma nota nesta terça-feira, o Credit Suisse afirmou que “o impacto do coronavírus representa mais um distúrbio/deslocamento da demanda do que uma destruição propriamente dita". O banco acredita que qualquer fraqueza será recuperada no segundo semestre de 2020.
Dito isso, será quase impossível que grandes empresas saiam ilesas dessa situação de emergência à saúde mundial. Mas esse recuo de curto prazo também pode fornecer um ponto de entrada para quem estiver aguardando de fora uma boa oportunidade.
As ações da Apple (NASDAQ:AAPL) continuam oferecendo uma das melhores oportunidades de longo prazo no setor de tecnologia, graças ao seu forte modelo de negócios. Um dos principais fatores para que as ações da Apple sejam uma boa opção no longo prazo é a rápida evolução do seu ecossistema de produtos e serviços, o que permite que a empresa tenha uma penetração de mercado cada vez maior.
A unidade de serviços da Apple (NASDAQ:AAPL), que inclui áreas de crescimento como App Store, Apple Pay e Apple Music, está crescendo e contribuindo mais a cada ano com as vendas totais da companhia.
Outro fator que contribui para esse otimismo é a expectativa de que as vendas de iPhones continuem robustas e aumentem ainda mais com o lançamento dos modelos 5G, programado para setembro de 2020. Esses aparelhos permitirão que os consumidores tenham maior velocidade de conexão, aumentando as entregas de iPhones pela primeira vez em dois anos.
Graças a essa perspectiva de maiores vendas de iPhones após a implementação da tecnologia 5G, também se espera um crescimento nas receitas provenientes das vendas de AirPods, smartwatches e serviços, como assinaturas de streaming de música e pagamentos móveis, alimentando a crença de que a companhia está dependendo menos dos negócios de hardware mais cíclicos e se tornando uma empresa de serviços.
O crescimento da sua divisão de serviços no ano passado ajudou a Apple (NASDAQ:AAPL) a compensar o declínio de 14% nas vendas de iPhones. Neste ano, a previsão é que as vendas de serviços atinjam US$ 54 bilhões, respondendo por um quinto das vendas totais, uma alta em relação aos 18% no fim de 2019.
Resumo
Os transtornos econômicos causados pelo coronavírus fazem com que a Apple (NASDAQ:AAPL) seja uma das empresas de megacapitalização mais expostas na Ásia neste momento. Mas qualquer fraqueza prolongada, em nossa visão, é uma oportunidade de compra, principalmente em vista dos esforços que a companhia tem feito para elevar suas vendas de serviços, que já estão dando resultado, sem falar na retomada do crescimento dos iPhones.
Essa poderosa combinação deve ajudar conter um recuo mais acentuado no papel. Mas se isso de fato ocorrer, deverá ter curta duração.