Em artigos recentes, discutimos em várias ocasiões o fato de que o rali nas ações dos EUA neste ano teve pouca abrangência. Para ser mais claro:
"A corrida pela IA está resultando em um mercado bastante restrito. Como disse Bob Farrell certa vez:
'A força dos mercados pode ser medida pela abrangência dos seus movimentos. Quando estes são amplos, têm mais força; quando são mais restritos, são mais fracos e geralmente envolvem um pequeno número de blue-chips.'
A amplitude é importante. Um rali com pouca abrangência indica participação limitada e aumenta as chances de fracasso. O mercado não pode continuar a subir apenas com algumas ações de grande capitalização na liderança. As pequenas e médias empresas também devem participar para dar credibilidade ao rali. Um rali que 'impulsiona todos os barcos' indica força abrangente e aumenta as chances de ganhos adicionais."
Conforme observamos anteriormente, podemos visualizar o desempenho superior das ações de megacapitalização ao observar a diferença entre os índices ponderados por valor de mercado e os índices com mesmo peso entre os componentes.
O gráfico a seguir destaca o desempenho notável do Nasdaq não ponderado em comparação com o índice de igual ponderação neste ano. Essa diferença entre NDX e NDXE agora está em +11% no ano, sendo a maior diferença em um período de 4,5 meses nos últimos 18 anos.”
O gráfico é atualizado até o final de maio e mostra a diferença histórica completa de 5 meses. Esse diferencial agora é o maior já registrado, ultrapassando 15%.
Um mercado de mão única
Como mencionamos em nosso artigo da semana passada, a comparação entre o desempenho absoluto e relativo dos setores do mercado S&P 500 mostra uma participação semelhante. Ou seja, uma falta de participação.
“O setor de tecnologia está recebendo a maior parte dos investimentos, enquanto os outros setores do mercado continuam sob pressão. Isso se deve às perspectivas econômicas e fundamentalistas que apontam para um crescimento mais fraco, estresse no setor bancário e taxas de juros mais altas.
Ao aprofundarmos a análise, percebemos que o mesmo problema de abrangência se torna mais aparente ao considerarmos a participação dos fatores. Essa análise utilizou o fundo Vanguard Mega Cap Growth Index (NYSE:MGK) como referência para as 10 principais ações em comparação com ações de pequenas e médias empresas (IWM) e o índice de igual ponderação (RSP). Incluímos até mesmo o ETF Vanguard High Dividend Yield Index (NYSE:VYM) .
O que fica evidente é que quem investiu em qualquer outro ativo que não as ações de maior capitalização teve um desempenho bastante decepcionante este ano.
No entanto, ao analisarmos a relação de avanço e declínio do S&P 500, temos uma história muito diferente.
Como está a amplitude de mercado?
Recentemente, Barry Ritholtz publicou um artigo intitulado “10-Bad Takes On This Market” ("10 análises equivocadas sobre o mercado"), que vale a pena ler. E ele destaca que a abrangência do mercado é muito melhor do que muitos acreditam. Por exemplo:
"Há várias maneiras de mostrar a abrangência da participação de mercado, porém a mais simples é a linha de AVANÇO/DECLÍNIO. Ela mede quantas ações estão subindo em relação às que estão caindo. Aqui estão o NDX e o SPX (linhas vermelhas na parte inferior). Ambos parecem estar bem."
De fato, parece que a abrangência é muito melhor do que sugerem muitos dos dados disponíveis.
No entanto, há um problema com a análise. É necessário entender melhor o conceito da linha de Avanço/Declínio para compreender a questão.
“A linha de Avanço/Declínio (A/D line) é um indicador técnico que mostra a diferença entre o número diário de ações que estão em alta e em baixa. Esse indicador é acumulativo, ou seja, um número positivo é adicionado ao número anterior, enquanto um número negativo é subtraído.” – Investopedia
É importante ressaltar que a linha de Avanço/Declínio registra apenas o número de ações que sobem ou caem diariamente, sem considerar dois aspectos fundamentais:
- A variação percentual dessas ações em alta ou em baixa.
- A volatilidade e a rotatividade entre os setores do mercado. (Algumas ações podem apresentar ganhos em um dia, mas perdas no dia seguinte).
Analisando o S&P 500
Ao analisarmos o S&P 500, podemos observar o seguinte gráfico que mostra todas as ações desse índice e indica se tiveram retorno positivo ou negativo no ano. É evidente que várias ações apresentam retornos positivos no ano, porém mais da metade apresenta retornos negativos. A linha vermelha horizontal representa o número de ações com retorno superior a 10% no acumulado do ano. Esses dados são claramente diferentes do que é sugerido pela linha de Avanço/Declínio.
No entanto, vamos nos aprofundar um pouco mais na análise dos dados. O próximo gráfico apresenta somente as ações do S&P 500 que têm retornos positivos até o final de maio deste ano. Dentre as 500 ações do índice, menos da metade registra retornos positivos no ano, e muitas delas têm um desempenho apenas ligeiramente positivo.
Além disso, no acumulado do ano, menos de 25% das ações apresentam retornos superiores ao desempenho médio do mercado até o final de maio.
É importante destacar que as ações de megacapitalização estão liderando os retornos do ano com uma grande margem. Esse fato é relevante ao considerarmos o peso dessas empresas de mega capitalização dentro do índice S&P 500.
Cada ponto percentual ganho por essas empresas tem um impacto desproporcional sobre o índice como um todo. Conforme ilustrado no gráfico, cada ponto ganho pelas 10 principais empresas do índice tem o mesmo impacto que o ganho obtido pelas outras 426 ações juntas.
Por exemplo, se as outras 426 ações ganhassem um ponto cada, mas as 10 principais ações permanecessem estáveis, o avanço do mercado seria nulo. Em outras palavras, a abrangência do mercado, conforme determinada pela linha de Avanço/Declínio, seria forte, mas o mercado não avançaria.
Percebe o problema?
Bull market permanece até sua reversão
Embora o caráter estreito do mercado seja um ponto de preocupação, como ressaltamos antes, esses avanços podem durar muito mais do que o esperado. Como mostramos antes, o atual avanço do mercado baseado na especulação em "inteligência artificial" segue uma trajetória semelhante ao que vimos durante o "boom" das empresas de tecnologia em 1999.
Se você investiu no mercado em 1999, deve se lembrar da verdadeira "mania" que ocorreu naquela época. Empresas estavam lançando websites freneticamente e alterando seu foco corporativo para o mundo online durante as teleconferências de resultados. Gestores criavam fundos para investir em ações relacionadas à internet, e outros simplesmente mudaram o nome de seus fundos para atrair recursos provenientes dessa euforia desenfreada.
Evidentemente, tudo chegou ao fim em março do ano seguinte, e a maioria dos ganhos obtidos foi perdida.
É importante destacar que a internet continua presente e transformou o mundo como o conhecemos. O problema, assim como ocorre hoje, é que o crescimento dos lucros esperados das empresas ligadas à internet não se concretizou.
Isso não significa que as empresas não tenham aumentado seus lucros consideravelmente, mas as expectativas eram tão exageradas que muitas delas nunca seriam capazes de atingi-las.
Em termos mais simples, chegou uma hora em que os valuations passaram a ter importância.
Atualmente, estamos presenciando uma situação muito semelhante, em que um rali de mercado restrito impulsiona o índice, anima os investidores e gera sonhos de riquezas inimagináveis.
Portanto, é essencial que os investidores participem dessas evoluções do mercado. Contudo, é igualmente importante se lembrar de vender quando as expectativas ultrapassarem a realidade dos fundamentos.
Como disse o lendário investidor Bernard Baruch:
"Eu ganhei dinheiro vendendo cedo demais".