Mais quatro anos. O senado americano confirmou, na semana passada, por 80 votos a 19, o segundo mandato de Jerome Powell à frente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), em uma votação bipartidária que já era amplamente esperada.
Assim, um membro mediano do conselho de governadores – que se tornou, por assim dizer, um chairman acidental após o então presidente Donald Trump ter se equivocado com suas intenções com a elevação das taxas juros – é agora devidamente reconduzido ao cargo, e o senado confirmou que irá continuar ouvindo os economistas do Fed e seguindo seus modelos.
As pessoas dão a Powell muita credibilidade por ter seguido o “livro de estratégias” do seu predecessor, Ben Bernanke, ao enfrentar o desafio da Covid-19: imprimir dinheiro feito louco e torcer pelo melhor.
Funcionou, exceto pelo fato de que agora temos uma inflação em disparada, talvez por causa da quantidade excessiva de criação de dinheiro.
De qualquer forma, o agora reconfirmado presidente do Fed disse, na semana passada, algumas coisas interessantes em uma entrevista a Kai Ryssdal, da Marketplace. O subtítulo é chamativo:
“A questão sobre a nossa capacidade de executar um pouso suave ou não pode depender de fatores que não controlamos”.
É uma afirmação interessante, pois há meses Powell vinha insistindo que o Fed tinha os “instrumentos” necessários para controlar a inflação. Infelizmente, ao que tudo indica, os instrumentos não eram suficientes. Talvez o Fed deveria ter agido antes?
“Se tivéssemos uma visão retrospectiva perfeita, talvez fosse melhor ter elevado os juros mais cedo”.
Sim, talvez, em vez de rotular a inflação de transitória e não agir como qualquer banco central sensível reage quando a inflação dá as caras.
E mais:
“O processo para fazer a inflação cair para 2% também envolverá alguma dor, mas, no final, a dor maior seria uma falha em lidar com ela, com a inflação se consolidando na economia em níveis elevados”.
Os dezenove senadores que votaram contra sua confirmação eram republicanos insatisfeitos com o desempenho de Powell contra a inflação, mas também havia alguns democratas progressistas, como Elizabeth Warren, que o culparam por não ter feito o suficiente em outras áreas, como regulação bancária e risco climático. A história nos dirá quem deles fez a escolha certa.
Troca de guarda nos bancos centrais do EUA e Europa
A sucursal do Fed em Dallas nomeou a poderosa vice-presidente do Fed de Nova York, Lorie Logan, para suceder Robert Kaplan como presidente do banco regional. Até recentemente, Logan era responsável por administrar os US$ 9 trilhões em ativos do Fed como gerente da Conta do Sistema de Mercado Aberto.
Veterana do Fed, Logan trabalha no banco central desde 1999 e se tornará membro votante do Comitê Federal de Mercado Aberto no ano que vem, quando Dallas assumirá um das quatro vagas rotativas dos bancos regionais com direito a voto. Votando ou não, ela terá forte influência na formulação da política monetária.
O senado também confirmou Philip Jefferson e Lisa Cook no conselho de governadores do Fed. E o Fed de Boston nomeou Susan M. Collins como presidente para suceder Eric Rosengren. Ela é a primeira mulher negra a dirigir um banco regional do Fed, que continua se esforçando para diversificar sua liderança.
No Banco Central Europeu, lados opostos da política monetária estão se alinhando no conselho dirigente para decidir sobre uma elevação de juros em julho, após a conclusão do programa de compra de ativos.
O conselho é composto por 25 membros de difícil consenso, já que congrega dezenove governadores de bancos centrais e mais seis membros do conselho executivo.
Antes do euro e do BCE, o conservador Bundesbank, banco central da Alemanha, determinava, em grande parte, a política monetária europeia, pois os outros países do Sistema Monetário Europeu seguiam seus passos.
Agora, o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, só tem um voto no conselho, com mesmo peso de representantes como Chipre e Malta, não tendo sequer que votar em todas as reuniões, por causa do sistema de rotação do BCE.
Nagel, que assumiu o cargo em janeiro, se tornou líder da facção mais rígida do conselho, mas a presidente francesa do BCE, Christine Lagarde, está alinhada à facção mais flexível, assim como o economista-chefe da instituição, o irlandês Philip Lane.
A Europa está em uma situação diferente da dos EUA, com uma economia muito mais vulnerável a repercussões da guerra na Ucrânia, sem falar que a Europa também enfrenta a disparada da inflação.
Há espaço para debate sobre a questão, mas não é uma coincidência que os membros mais rígidos venham do Norte da Europa, enquanto os mais flexíveis pertençam aos países do Sul da Europa, mais propensos ao endividamento.