A busca por análises e recomendações de investimentos segue em alta durante a crise. Afinal, quem não gostaria de acertar o melhor momento de entrada ou investir nas ações descontadas de boas empresas?
Mas, diferentemente das crises anteriores, a atual passa pelas esferas da demanda e crédito, atingindo todo o ecossistema produtivo e não apenas setores específicos. E, neste novo cenário, torna-se cada vez mais prudente a cautela e uma boa visão setorial.
No caso do setor elétrico, você deve estar vendo sua conta de luz aumentar nos últimos meses já que está passando mais tempo em casa, mas isso pode levar a uma conclusão precipitada sobre o faturamento das companhias do setor. Isso porque o consumo de energia do segmento residencial no Brasil representa aproximadamente 30%, enquanto a indústria e o comércio, setores mais afetados pela pandemia, correspondem ao menos a 55% do consumo.
Além disso, o setor se divide pelo menos em três categorias principais: geração, distribuição e transmissão de energia. Assim, cada companhia está exposta a riscos específicos da sua etapa do processo ou sistêmicos, como a Cemig (SA:CMIG4) e a Copel (SA:CPLE6), que atuam em todas as frentes.
As geradoras, responsáveis por produzir e vender energia elétrica para as distribuidoras ou por meio do ambiente de contratação livre, podem apresentar problemas no fluxo de caixa neste momento devido ao aumento da inadimplência nas distribuidoras, além da capacidade ociosa e do aumento dos saldos contratados em decorrência da queda na demanda. Nesta categoria estão inseridas companhias como a AES Tietê (TIET4 (SA:TIET4)), a Cesp (CESP6 (SA:CESP6)) e a Engie (SA:EGIE3).
Já as distribuidoras, responsáveis por levar energia elétrica até os consumidores, são as mais expostas à queda da demanda e ao aumento da inadimplência, efeitos característicos da crise atual. Entre elas estão Energisa (SA:ENGI4), Equatorial (SA:EQTL3), CPFL (CPFE3 (SA:CPFE3)) e Light (SA:LIGT3).
O aumento do desemprego também incentiva indiretamente o furto de energia, o famoso “gato”, e acaba influenciando no faturamento das empresas no período de crise. Nesse cenário, uma das alternativas para as distribuidoras é a venda do excesso de energia comprada das geradoras no mercado de curto prazo a preço spot, que são negócios com pagamentos à vista e pronta-entrega de mercadorias. Porém, normalmente esse tipo de distribuição acaba ficando abaixo do custo de aquisição, servindo apenas para minimizar o prejuízo.
Por este motivo, o governo federal editou a Medida Provisória 950, que visa o auxílio financeiro às empresas por meio de empréstimos que terão os custos repassados aos consumidores nos próximos cinco anos.
Por fim, restam as transmissoras, responsáveis pela construção, operação e manutenção das linhas de transmissão que ligam as geradoras às distribuidoras. Esse é, certamente, o setor menos atingido neste momento, já que a receita é garantida independentemente do volume de energia elétrica trafegado. Nesse caso, o risco fica vinculado ao esgotamento do caixa das distribuidoras. As companhias ISA CTEEP (TRPL4 (SA:TRPL4)), Taesa (SA:TAEE11) (TAEE4 (SA:TAEE4)) e Alupar (SA:ALUP11) (ALUP4 (SA:ALUP4)) fazem parte desta categoria.
Dito isso, se você está pensando em começar a investir ou já tem uma empresa do setor elétrico na sua carteira de investimentos, é preciso levar em consideração mais do que o preço das respectivas ações na bolsa, mas também analisar a dificuldade que cada categoria do setor terá para superar essa crise, para, por fim, analisar quais empresas têm mais chances de encontrar uma luz no fim do túnel.