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Preparado Para Queda do Mercado?

Publicado 17.06.2020, 12:41
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“O dinheiro não aceita desaforo” 

Sempre que vou tomar uma decisão importante na vida que engloba finanças lembro deste dito popular. Ele faz lembrar das horas trabalhadas e quão duro é tirar dinheiro do mercado financeiro. Por isso investidor, na hora de colocar seu rico dinheiro em qualquer investimento (ações, renda fixa, fundos de investimentos, etc.) é preciso construir/analisar um cenário.

Imagino que a primeira coisa que veio na sua cabeça foi jornal. Estar antenado com as notícias sem dúvida vai deixar você atualizado dos FATOS, mas saber dos FATOS não vai fazer você ganhar dinheiro no mercado financeiro. Sabe por quê? O mercado trabalha com EXPECTATIVAS.

Existem diversas teses acadêmicas (extremamente interessantes) e modelos matemáticos que procuram explicar a influência das expectativas nos preços das ações, mas para efeitos práticos antes de investir responda a seguinte questão: qual a probabilidade daquele índice/ativo estar neste mesmo lugar daqui 6 meses ou 1 ano?  

O termo “probabilidade” foi destacado de propósito já que não estamos trabalhando com fatos consumados (verdades), mas sim com projeção (incertezas envolvidas) e esse detalhe é muito importante pois existe a possibilidade de errar e se existe você precisará tomar risco. E aí que entra um conceito muito importante para qualquer análise de cenário: risco x retorno.  

Em poucas palavras, a relação de risco x retorno expressará seu apetite para comprar/vender determinado ativo em relação ao cenário que foi projetado. Ou seja, se vale a pena eu colocar dinheiro neste momento.

Para responder essas perguntas no mercado financeiro e analisar cenário para tomada de decisão de alocação existem basicamente 3 escolas de análise: i) fundamentalista; ii) técnica (gráfista); iii) quantitativa. Eu sou apaixonado por todas e não desprezo nenhuma, mas como analista técnico certificado meu cenário é calcado pela análise técnica e será através dela (e uma pitada de quant) que vamos chegar a conclusão que agora não é a melhor hora de comprar

O primeiro passo para a construção do cenário é determinar o mercado que você irá investir e no nosso caso será o mercado brasileiro. Por isso vamos começar com uma análise do Ibovespa pelo gráfico semanal para entender a tendência de curto prazo, que se encaixa justamente com o nosso prazo de 6 meses / 1 ano.

 Ibovespa anáise gráfica

A queda de março fez com o índice brasileiro entrasse em tendência de baixa no curto prazo, movimento esse representado pelas linhas vermelhas (perna de baixa) que ligam o topo histórico em 119.593 pontos até a mínima do ano (até agora) cravada em 61.690. Portanto já sabemos qual é a tendência que estamos trabalhando. 

Agora vamos avaliar se estamos em um bom ponto de entrada contra a tendência de baixa e para isso precisamos identificar suportes e resistências. Por conta da tendência de curto prazo, a ideia de “comprar barato e vender caro” nunca fez tanto sentido e por isso a missão é identificar os principais suportes (onde vale pensar em compra) e as principais resistências (onde não se deve pensar em compra).

Ao preço atual de 93 mil pontos temos logo de cara a média móvel exponencial de 72 semanas (em azul). As médias móveis são utilizadas dentro da análise técnica como “pontos fortes”, onde, teoricamente, o preço encontraria maior pressão de compra ou de venda a depender da sua inclinação. Como no nosso caso está descendente ela está vendida, ou seja, a maior probabilidade é que o preço tenha dificuldades para superar esse patamar.   

Nesta região por onde passa a média móvel exponencial de 72 semanas, mais precisamente na faixa de 98 mil pontos (máxima da última semana), está localizada a máxima da segunda semana de março, que para quem não lembra foi a semana que o circuit breaker foi acionado por 3 vezes. Ou seja, estamos em uma região de forte resistência.  

Para somar com a média móvel e a resistência horizontal temos nessa mesma região de 98 mil pontos a retração de 38,2% da perna de baixa, que pela Teoria das Ondas de Elliott seria o limite para que o mercado retome sua tendência principal de curto prazo. Prova da força dessa região de 98 mil pontos foi a queda nesta semana e o candle negativo formado.

Com 3 fatores técnicos apontando que estamos em uma região de resistência + tendência de baixa de curto prazo, qual é a sua decisão? Se for “não se deve pensar em compra neste momento” estamos no mesmo caminho, pois o risco do mercado recuar neste momento pelo cenário apresentado é alto. Isso impede de você comprar? Claro que não e o mercado é livre para isso, mas existe uma relação de risco x retorno favorável?

Para endossar esse cenário vamos entender se as ações que fazem parte do Ibovespa estão caras ou baratas em termos técnicos e para isso vale dar uma olhada no IFR (Índice de Força Relativa) de 14 períodos do gráfico diário. Esse indicador técnico ajuda entender se determinada ação está sobrevalorizada ou subvalorizada utilizando as premissas: 1) acima de 70 o papel está sobrevalorizado (caro em termos técnicos); 2) abaixo de 30 o papel está subvalorizado (barato em termos técnicos). A análise não é tão simples assim, mas vamos usar do artifício do ceteris paribus.

Utilizando como base o último fechamento, quando compilados os IFRs das ações que fazem parte do Ibovespa chegamos nos seguintes números: a) 3% acima de 70; b) 31% entre 70 e 60; c) 58% entre 60 e 50; d) 8% entre 50 e 30. Ou seja, grande parte das ações estão em região de sobrecompra com o mercado em faixa de topo.

Levando em conta essa leitura para o mercado brasileiro fica claro que agora não é um bom momento para entrar, mas sim aguardar um pullback para uma suporte importante, como é o caso da faixa de 83 mil pontos, para encontrar uma relação de risco x retorno mais favorável.

Falar de cenário para o mercado financeiro sem falar do mercado norte-americano beira a insensatez, já que seu desempenho acaba afetando o mundo inteiro de uma forma ou de outra. Por isso vamos falar de uma relação que gosto muito de acompanhar lá fora: put/call ratio.

Esse indicador elaborado pelo CBOE (Chicago Board Options Exchange) traz a razão (divisão do numerador pelo denominador de uma fração) entre as “puts” (opções de venda) e “calls” (opções de compra) negociados dos principais índices acionários dos EUA.

Ele é muito interessante pois através dele é possível entender o “sentimento do mercado”, ou seja, se há excesso de euforia ou pânico entre os investidores. Essa leitura é vital para reduzir a probabilidade de comprar caro e vender barato, o que basicamente fará você sobreviver no mercado financeiro.

Ele está na classe dos “indicadores contrários”, ou seja, quando ele está muito bullish (excesso de euforia) está na hora de vender suas posições, enquanto ele está muito bearish (excesso de pânico) chegou a hora de pensar em aumentar sua exposição ao mercado. Para determinar isso é preciso olhar os extremos.

Para saber qual excesso está pairando o mercado, primeiro é preciso entender a fração do indicador. Como ele é resultado de uma divisão entre “puts” e “calls”, o indicador estará acima de 1 quando o mercado estiver dominado pelos vendidos, enquanto abaixo de 1 quando dominado pelos comprados.

No longo prazo essa relação tende para 1 (equilíbrio) pela própria lógica de precificação das opções, mas existem momentos que ocorre um desequilíbrio entre os players e neste momento que você deve estar ligado para ir contra a manada.

Quando esse indicador ficar entre 0.80 - 0.60, ou seja, quando estamos em uma onda de otimismo no mercado norte-americano, existe a probabilidade do S&P 500 consolidar um topo importante, enquanto entre 1.15 - 1.25, quando o mundo está acabando e está todo mundo bearish, existe a probabilidade de um fundo importante.    

Para entender um pouco mais do que estou falando e em qual momento estamos segue a relação da última semana entre o put/call ratio e o S&P 500.

Fator risco

Como pode-se ver estamos em um momento de excesso de euforia, ou seja, existe a probabilidade de um topo importante no mercado norte-americano, o que faz sentido já que estamos de fato próximos da máxima histórica depois de uma alta expressiva. Se levar em conta que os EUA influenciam as bolsas pelo mundo, esse é mais um indicador que não é uma boa hora de comprar.

Existe uma discussão vasta nos EUA sobre a eficiência ou não desse indicador e meu objetivo não é discutir isso, mas empiricamente esse indicador me ajudou por diversas vezes entender melhor o mercado e então na minha opinião a análise dos extremos ajuda entender melhor o mercado.

Essas são algumas ferramentas que utilizo para compor o cenário de investimento. Faltou falar sobre dólar, juros, múltiplos, commodities, emergentes, entre outras coisas que gosto de ler e olhar. Porém, o principal foi mostrar a importância de entender que o mercado trabalha com expectativas, que existem ferramentas para precificar isso e principalmente que sem uma relação de risco x retorno favorável não há bom negócio.

Bons trades!

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