Tudo azedou por estes dias.
As pesquisas divulgadas começaram a mostrar um crescimento vertiginoso do ex-presidente Lula que, em alguns casos, chegou próximo a 40% das intenções de voto. Na opinião de muitos, com sua candidatura valendo, vencendo em primeiro turno. Como não é isso que deve acontecer, já que deve ter a candidatura impugnada pelo TSE, passou-se a especular a capacidade de “transferência de votos” para o candidato alternativo Fernando Haddad. Começaram então as especulações sobre o potencial desta transferência.
Foi aí que tudo virou, com muitos observadores enxergando ele no segundo turno. Restaria saber então quem disputaria a segunda vaga. Na luta, Marina Silva, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e com chances menores até aqui, Geraldo Alckmin. Este, aliás, nos parece um caso à parte, pela dificuldade de fazer valer suas alianças com o ”Centrão”, tempo maior de TV e Rádio (5 minutos e 44 segundos) e todo o suporte dos fundos eleitorais e de partidos. Mesmo assim, seguia sua candidatura “meio de lado”, no patamar entre 7% e 8%.
Já são muitos, aliás, que começam a compará-lo à Ulisses Guimarães na campanha de 1989, com boa estrutura partidária, no caso, apoio do maior partido na época, PMDB, mas terminando a campanha em sétimo lugar. Em ambos os casos, o baixo carisma dos candidatos e o desgaste, por terem apoiado o governo federal nos seus estertores. Mesmo assim, não há como negar que o candidato Geraldo Alckmin reúne qualidades no seu programa de governo e qualificação dos seus quadros de economistas, com destaque para Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Pérsio Arida, este considerado possível Ministro da Fazenda. Sobre este cabem aqui algumas observações interessantes.
Engenheiro e economista paulista, com PhD no MIT, egresso da escola econômica da PUC carioca, e um dos principais formuladores de política econômica nos últimos 30 anos. Foi ele a formular os principais alicerces do Plano Cruzado, mesmo sendo um dos primeiros a deixar o barco, diante da resistência do então presidente José Sarney em adotar medidas de ajuste em agosto de 1986 (nesta época, o Cruzado já fazia água por todos os lados). Foi dele, também, junto com André Lara Resende, que veio a ser formulador do “Plano Larida”, uma engenhosidade econômica que tinha como pressuposto “superindexar a economia, acompanhando a inflação, até alinhar os preços relativos e evitar desequilíbrios na cadeia produtiva”. Este, inclusive, acabou como embrião para o Plano Real e a sua URV. Atuou também em várias instituições financeiras, sendo seu último cargo, CEO do BTG Pactual (SA:BPAC11).
Em evento recente, Pérsio Arida discorreu sobre diversos temas. Vale a pena citá-los.
Colocou esta eleição numa linha divisória, uma das mais importantes das últimas décadas, por colocar o Brasil, em definitivo, numa encruzilhada, ou assumindo ser uma economia de mercado, mais próxima do modelo chileno, ou “escorregando” pelo populismo mais rasteiro, flertando com o falido modelo bolivariano da Venezuela, de Hugo Chávez ou Nicolas Maduro. Para ele, quem assumir em 2019 terá que encarar o desafio de uma pesada agenda de reformas, sob o risco de terminar paralisado pelo impasse fiscal. Sim, porque o ajuste fiscal que temos pela frente é pesado, acima de R$ 300 bilhões, ou 4% do PIB, para ser possível um superávit primário em torno de 2% num olhar anualizado, equilibrando a dívida pública, hoje em torno de 77% do PIB.
Mas como encarar esta pesada agenda, que passa pelas reformas da Previdência e Tributária, num regime político em que o Congresso acaba com poder demais? Sim, na nossa tenra democracia, as coalizões (ou cooptações) para governar são inevitáveis. Não adianta vir com o discurso de que não vai haver negociação para aprovar as medidas econômicas, dado que toda a agenda fiscal terá que passar por isso, a não ser em alguns pontos, como na abertura comercial, discussão sobre tarifas de importação, etc
Tanto a reforma da Previdência como a Tributária devem passar pelo envio de mudanças de emendas na Constituição, o que exigirá dois terços na Câmara e no Senado. Sendo assim, será essencial uma trabalhosa “costura política”, num Congresso que, pelas regras atuais, pouco deve se renovar. Isso porque o grosso dos recursos públicos deve vir de fundos partidários e eleitorais para os que lá estão neste momento, contando-se 35 partidos com os mais variados “interesses”.
Sendo assim, não tem jeito na opinião de Pérsio Arida. O governo que assumir terá que se manter meio que “refém do Congresso”, o que deve manter, pelo menos neste ciclo político, o nefasto “presidencialismo de coalizão” como algo inerente. Mesmo assim, pensa-se em alguma flexibilização orçamentária, rediscutindo as vinculações de receita para certas despesas obrigatórias na Saúde e na Educação, assim como a premente e urgente necessidade das reformas citadas, da Previdência e Tributária.
Num olhar mais amplo sobre a realidade brasileira, Pérsio, no entanto, mantém uma “chama de otimismo” sobre setores dinâmicos da economia, como Agronegócio e Infraestrutura.
No primeiro, a baixa intervenção do Estado é um fator relevante, assim como os crescentes ganhos de produtividade nos últimos anos, a competitividade externa, talvez o fato mais marcante, para esta maior eficiência, a necessidade de colocar nossas commodities agrícolas e minerais no mercado externo, à preços competitivos junto à demanda chinesa. Não devemos deixar de destacar também o amplo e precioso apoio da Embrapa na busca de novas áreas de plantio e cultivos mais eficientes.
Pérsio ressalta também a importância da Infraestrutura para superarmos os nossos gargalos e reduzirmos nos custos de frete, vias escoamento (portos, estradas, etc). Para ele, o papel do Estado deve ser cada vez mais limitado, se restringido a um bom marco regulatório e atuações na Saúde, na Educação e na Segurança. Defende também um amplo programa de privatizações, talvez só poupando, ou seja, não citando o Banco do Brasil (SA:BBAS3) e a Petrobras (SA:PETR4), o resto tudo sendo vendido.
Enfim, o leque de reformas e de mudanças necessárias é bem amplo e desafiante. Observa-se que se em 2002 o ambiente eleitoral era bem açodado, no contraponto entre PSDB e PT, mas nas eleições deste ano não é diferente, com o agravante de que a economia não se encontra em bom estado, com crescimento pífio, déficit fiscal crescente e muita incerteza, diante de uma recessão pregressa que jogou 14 milhões de brasileiros no desemprego. A diferença que Pérsio vê na comparação destes dois pleitos (2002 e 2018) é de que naquela época o PT pegou a economia arrumada e havia uma expectativa no ar sobre um governo social democrata mais à esquerda.
Agora, as ilusões se esvaíram no tempo e esperança é cada vez menor. Daí candidatos de extrema, esquerda e direita, mais afeitos ao populismo e a promessas fáceis e soluções mirabolantes, estarem em vantagem nas pesquisas.
Esperamos todos que o bom senso prevaleça e saia deste pleito de outubro uma solução de centro, um candidato equilibrado e em consonância com as aspirações da sociedade brasileira do meio da pirâmide de renda. Que assim seja.