A esperança (há esperança?)
Relatório Focus... adivinha!
Ainda mais inflação (variação esperado do IPCA de 2015 em 8,20%) e ainda menos crescimento (PIB em -1,01%), como de praxe.
Interessante que os mercados ignoram a deterioração adicional das expectativas, com a Bolsa renovando a máxima de 2015 e o dólar caindo a R$ 3,09...
A única coisa que conta é a esperança de ajuste fiscal e a liquidez lá fora. O resto deixa para depois.
Na teoria, funciona - na teoria, até o comunismo funciona...
Na prática, a realidade do ajuste é bem outra...
Fora do discurso, o que temos de concreto, mesmo, é o pior resultado das contas do Governo Central desde 1997, com déficit fiscal de R$ 7,35 bilhões em fevereiro, e um déficit nominal correspondente a 7,3% do PIB.
PIB, que PIB?
Lembrando que a meta fiscal que está mais próxima no discurso, e mais longe na prática, é de 1,2% do PIB.
Mas de qual PIB?
1. Aquele que cresceria 0,8% na projeção do governo quando traçou a meta fiscal?
2. Aquele da projeção atual do governo, que já caiu para retração de 0,3%?
3. Ou o da próxima inevitável revisão de projeção do governo?
Seja qual for, está bem longe de 3% do PIB, que é o esforço fiscal (superávit primário) necessário para interromper o ciclo de aumento da dívida bruta brasileira, em meio à alta dos juros e à desaceleração de economia.
Ok, indica uma direção muito melhor do que aquela com que vínhamos trabalhando. Ótimo. Mas ajuste fiscal mesmo vai demorar três anos. E duvido que tenhamos força para aguentar.
Um fato inédito
Apesar do Focus habitual, temos um fato novo nesta segunda-feira...
Os dados do mercado de trabalho americano vieram bem ruins na sexta-feira, muito abaixo das projeções.
E fazia muuuuito tempo que uma notícia negativa da economia não gerava impacto negativo nos mercados. Os futuros dos EUA caíram mais de 1% na sexta-feira em que estávamos descansando o feriado.
Anteriormente, via-se a coisa da forma oportunista: ruim para a economia, bom para a continudade da farra de liquidez...
Agora, a julgar pela reação inicial de sexta-feira, teríamos chegado a um novo estágio, pouco agradável: os Bancos Centrais eclodiram os seus balanços e precisam inevitavelmente retirar os estímulos, seja agora, em junho ou setembro, sem que as economias estejam recuperadas - pelo contrário.
Durou pouco. Logo voltamos ao quanto pior, melhor lá fora. Prognóstico renovado de mais liquidez, demora para subir juros e discurso pomba do William Dudley, do Fed de NY.
El-Erian falou, El-Erian avisou...
“There is a massive gap right now between asset prices and fundamentals”
Grande obviedade. Conversamos sobre isso há pelo menos seis meses...
Mas a grande questão aqui é que o desfecho...
Tudo isso para o El-Erian, um dos gestores de investimentos mais famosos do mundo, explicar porque está mantendo o seu dinheiro em... cash.
Se ele tem ativos de risco distorcidos em relação aos fundamentos, lá fora também não tem juros (ou, juros zero). Mas o cash lá fora é em dólares...
Aqui dentro, ainda temos juros beeem gordos.
Em determinados momentos, a melhor coisa a se fazer é não fazer nada. "Ah, mas vou pagar um gestor para fazer nada?" Sim, talvez somente um bom gestor saiba a hora certa de não fazer nada; e a hora certa de voltar a fazer alguma coisa.
Ainda?
O cenário doméstico permite que nosso caixa renda um juro gigantesco. Pelo menos até que o Bacen decida se vai continuar brigando contra a inflação (e aprofunda a recessão), ou se vai abrir mão da briga contra inflação para tentar reanimar a economia, assim que os dados começarem a apontar que a recessão pegou e pegou forte.
Das duas uma.
Qual terá o maior impacto social?
A briga da Bolsa
Com todas as revelações da Operação Zelotes da Polícia Federal, a lógica de precificação de processos no Carf se inverteu.
Quem não foi acusado pelo Carf pode ter pago propina para escapar das sanções. Já quem foi acusado é porque provavelmente não topou entrar no jogo sujo de corrupção.
Nesse sentido, ponto positivo para os autos de infração recebidos por BM&F Bovespa (BVMF3).
A Bolsa briga para defender seu direito de amortização de ágio com base na fusão entre BM&F e Bovespa.
E ela tem todo o respaldo legal para comprar essa briga.