Olá, pessoal. Desde o final de janeiro, o Tesouro Direto disponibiliza um novo título para investimentos. Trata-se oficialmente de uma NTN-B (série 1), pois é atrelado ao IPCA, mas será simpaticamente conhecido no mercado como Tesouro RendA+ (criado pelo Decreto 11.301/2022). Este título terá como objetivo primordial gerar renda indexada ao IPCA para nossas aposentadorias. Em resumo, ele pagará uma renda igual ao seu VNA (valor nominal atualizado mensalmente pelo IPCA) dividido por 240 por exatos 20 anos (ou seja, 240 meses).
Atualmente, há oito Tesouros RendA+ disponíveis para investimento, cada um deles iniciando seu período de 20 anos de renda em 2030, 2035, 2040, 2045, 2050, 2055, 2060 e 2065 – sempre no dia 15 de janeiro do respectivo ano. Além do IPCA, tal como uma NTN-B qualquer, há uma taxa prefixada embutida na remuneração do título até o seu vencimento (que coincide com a sua última renda, sempre no dia 15 de dezembro dos anos de 2049, 2054, 2059, 2064, 2069, 2074, 2079 e 2084). Esta taxa é conhecida no ato do investimento e será a taxa real (acima do IPCA) obtida caso o título seja levado até seu vencimento, ou seja, até a sua última renda.
Uma outra boa notícia para quem levar o título até seu vencimento é que, neste caso, não haverá taxa de custódia (até o limite de seis salários-mínimos de renda com o RendA+, havendo taxa de 0,10% sobre o excedente). A tributação seguirá a tabela regressiva da renda fixa, de forma que terão seus ganhos financeiros tributados a 15% no ato do recebimento de cada renda. A figura abaixo representa o fluxo de caixa pré-IR do Tesouro RendA+ com primeira renda em janeiro de 2030.
O VNA é divulgado mensalmente e, neste mês, fora atualizado pelo IPCA de janeiro (0,53%) de R$ 4.009,667909 (valor de janeiro) para R$ 4.030,917491 (fonte: https://www.tesourotransparente.gov.br/publicacoes/valor-nominal-de-ntn-b/28715). Observe abaixo as rentabilidades oferecidas ao investidor na última quarta-feira.
Eu já escrevi algumas vezes em minhas redes sociais que tenho opinião convicta de que uma taxa real acima de 6% ao ano garantida para prazos que podem chegar a mais de 60 anos (!) é bem interessante. Se o Brasil praticar até lá uma taxa média maior do que isso, quebrará (ou seja, o cenário onde você perde é o cenário onde todos perdemos). Sinceramente, não creio.
Mas hoje quero dar destaque ao valor do dinheiro no tempo conforme quantificado por esses títulos. Como o VNA de todos eles é o mesmo, isso representa dizer que cada unidade de título pagará a mesma renda mensal bruta igual a cerca de R$ 16,80 (resultado da divisão do VNA por 240) por 20 anos. Note que esse valor está definido desde já e em moeda atual, de modo que será devidamente atualizado pelo IPCA. Algumas pessoas fazem confusão ao achar que, a partir da primeira renda, não haverá mais juro real (apenas atualização monetária). Porém, isso não é verdade (nem poderia, pois o título perderia total atratividade) porque o juro real já está embutido na conta por todos os 20 anos de recebimento de renda (exatamente da mesma forma como em uma NTN-B tradicional).
A partir dos preços atualmente praticados por cada unidade de RendA+ (figura anterior), montei a tabela a seguir, que mostra o quanto custaria hoje, de supetão, rendas por 20 anos a partir de 15 de janeiro de cada ano disponível. Há de se considerar que tais rendas são brutas, portanto, a descontar o imposto de renda (que, por sua vez, dependerá da inflação daqui até lá na frente).
A leitura da tabela acima se dá da seguinte forma: para ter uma renda bruta mensal de R$ 1.000,00 (em moeda atual) por 20 anos a partir de janeiro de 2030, é preciso investir hoje R$ 89.943,79. Note o valor do dinheiro no tempo: estamos falando de 240 rendas de R$ 1.000,00 daqui a cerca de sete anos em troca de aproximadamente R$ 90 mil. Quanto mais distante a renda fica, mais barato ela se torna. Os cálculos acima, sendo totalmente realistas e com dados do mercado, permite quantificar o sonho da independência financeira e desenhar uma estratégia de aposentadoria de acordo com as suas necessidades e, claro, possibilidades. Use, abuse e sonhe com a sua independência financeira.
Obviamente, não precisamos dispor de todo o dinheiro agora, já que podemos traçar uma estratégia de compras mensais dos títulos para se acumularem ao longo do tempo. O importante é saber que, a qualquer instante, sua renda mensal bruta lá na frente será igual ao VNA do título naquele momento dividido por 240 e multiplicado pela quantidade de títulos que você dispõe ou almeja dispor.
Um ponto importantíssimo que ressalvo é que o Tesouro RendA+ não gera renda vitalícia, de modo que planos PGBL e VGBL continuam tendo espaço garantido no bom planejamento da aposentadoria. Sugiro ter ambos os instrumentos na sua prateleira de investimentos para a aposentadoria: Tesouro RendA+ e planos de previdência complementar.
E aí, gostou? Vamos nos conectar nas redes sociais @carlosheitorcampani. Gosto de compartilhar bastante conteúdo de educação financeira, investimentos e previdência com todos vocês. Tudo é feito com enorme carinho e respeito.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Pesquisador da Cátedra Brasilprev em Previdência e da ENS – Escola de Negócios e Seguros, Diretor Acadêmico da iluminus – Academia de Finanças e sócio-fundador da CHC Treinamento e Consultoria. Ele pode ser encontrado em www.carlosheitorcampani.com e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai a cada duas semanas, sempre na sexta-feira.