- Metal precioso sofre com alívio nas tensões entre EUA e China e fortalecimento do dólar, mas tese estrutural segue válida.
- Embora o acordo comercial favoreça ativos de risco, a perspectiva de curto prazo para o ouro permanece negativa, com atenção redobrada para níveis técnicos decisivos.
- Suporte em US$ 3.200 é crucial; uma perda consistente desse patamar pode acentuar o viés baixista no curto prazo.
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A trégua comercial entre Estados Unidos e China favoreceu ativos de risco como ações e o dólar americano, ao mesmo tempo que impôs pressão sobre os chamados portos seguros, como o ouro, que recuava mais de 3% na manhã desta segunda-feira. Apesar do viés de curto prazo negativo, a tese de valorização do ouro no horizonte mais longo permanece consistente, especialmente à medida que o impacto inicial do anúncio se dissipa e o foco dos investidores retorna às perspectivas de crescimento global.
O ouro pode reagir?
Enquanto os mercados acionários e o dólar celebram o acordo que suspende tarifas bilaterais por 90 dias, o impacto imediato foi desfavorável para ativos defensivos como o ouro e o iene japonês. O metal precioso operava em queda superior a 3% no momento da redação, próximo das mínimas da sessão. Além da redução na demanda por ativos de proteção, o fortalecimento do dólar contribuiu para pressionar ainda mais o preço do metal, que é cotado em moeda americana.
Ainda assim, não se deve descartar completamente a resiliência do ouro.
Apesar de eu já ter sinalizado espaço para correções nas últimas semanas, vale lembrar que a tendência altista do ouro antecede a guerra comercial. O alívio nas tensões entre EUA e China, de fato, favorece o apetite por risco, mas a sustentação da tese estrutural de alta do ouro permanece. Essa onda de otimismo, naturalmente, reforça o dólar no curto prazo, principalmente após um período de forte aposta contra a moeda americana.
No entanto, passada a reprecificação das expectativas de juros, o mercado tende a voltar a observar os fundamentos de crescimento global. Com isso, o dólar pode voltar a perder força frente a moedas mais sensíveis ao risco, o que, por sua vez, abriria espaço para uma recuperação do ouro. Ainda assim, no curto prazo, o viés de baixa prevalece, e o mercado pode apresentar mais fraqueza antes de retomar uma trajetória de valorização.
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Acordo pesa sobre o ouro
Após longas negociações, EUA e China anunciaram um acordo com impacto imediato nos mercados: as tarifas comerciais entre os dois países serão reduzidas drasticamente pelos próximos 90 dias. As tarifas americanas sobre produtos chineses caem de 145% para 30%, enquanto as alíquotas chinesas sobre importações dos EUA recuam de 125% para 10%. A medida entra em vigor de imediato e representa uma trégua considerável nas disputas tarifárias.
A reação dos mercados foi amplamente positiva: futuros de índices nos EUA avançaram entre 2,7% e 4,2%, e bolsas globais acompanharam o movimento. Em contrapartida, o ouro perdeu atratividade como proteção, acumulando queda de 3,2% no meio da manhã em Londres.
Esse período de 90 dias abre espaço para novas negociações, com expectativa de avanço rumo a um acordo mais duradouro. Embora o cronograma seja flexível, qualquer retrocesso nas conversas pode reintroduzir volatilidade. Por ora, o sentimento predominante é de alívio.
Apesar da trégua, os Estados Unidos ainda mantêm a maior carga tarifária efetiva desde a década de 1940. Ainda assim, o anúncio traz alívio para mercados que há meses aguardavam um desfecho mais construtivo. Resta saber se esse clima mais calmo será sustentável. No curto prazo, o apetite por risco se mostra fortalecido.
Inflação e sentimento do consumidor nos EUA
O arrefecimento das tensões comerciais também abriu espaço para o fortalecimento do dólar. Um dos principais receios em relação às tarifas era seu impacto inflacionário, fator que levou Trump a adotar uma postura mais conciliadora. A divulgação do IPC nesta terça-feira poderá indicar se os preços já aceleraram, especialmente após uma queda de mais de 20% nas exportações chinesas para os EUA em abril.
O consenso de mercado projeta manutenção da taxa anual do Índice de Preços ao Consumidor em 2,4%. Ainda assim, com a redução das tarifas, a expectativa é de que as pressões inflacionárias sejam suavizadas nos próximos meses — sobretudo se houver novos cortes.
Mais adiante, na sexta-feira, será divulgado o levantamento de (confiança do consumidor da Universidade de Michigan). As incertezas da guerra comercial têm impactado fortemente as sondagens de confiança e elevado as expectativas de inflação. Agora, com os primeiros passos rumo a um acordo, resta saber se o avanço das bolsas será suficiente para melhorar o sentimento dos consumidores ou se será necessário o fim definitivo do impasse.
Análise técnica do ouro
Apesar da correção expressiva, analistas técnicos que defendem a continuidade da alta do ouro sustentam que, enquanto o metal não registrar uma sequência de topos e fundos descendentes, ainda há chance de recuperação. Os vendedores, por outro lado, também encontram respaldo técnico: os gráficos de longo prazo vinham mostrando sinais de sobrecompra, e a perda de níveis relevantes reforça o viés de curto prazo para baixo.
No gráfico diário, o ouro se aproxima de uma zona de suporte em torno de US$ 3.200, após ter falhado na tentativa de superar a resistência em US$ 3.400, que agora se consolida como barreira importante. O surgimento de topos descendentes acrescenta pressão no curto prazo, embora a tendência principal ainda seja de alta.
Para que o cenário se torne claramente baixista, seria necessário um rompimento consistente abaixo de US$ 3.200, mínima recente relevante. Em seguida, uma linha de tendência de curto prazo se destaca entre US$ 3.150 e US$ 3.167. Abaixo disso, há diversas outras zonas de suporte possíveis, sendo US$ 3.000 o nível mais importante atualmente. Ou seja, os vendedores ainda precisam superar vários obstáculos para comprometer a estrutura altista do ouro no longo prazo.
Do lado da resistência, a faixa entre US$ 3.269 e US$ 3.275 é o primeiro desafio relevante, tendo atuado como suporte e resistência nas últimas semanas. Acima disso, o próximo nível-chave está em US$ 3.360. Um rompimento limpo dessa faixa pode abrir caminho para uma nova tentativa de superar os US$ 3.400 e, eventualmente, testar a máxima histórica próxima a US$ 3.500.
***AVISO: Este artigo é meramente informativo e não constitui qualquer oferta ou recomendação de investimento.