Certos investidores aplicam no mercado de ações como cegos no meio de um tiroteio do velho oeste. Peitam as paredes e tentam encontrar a porta de saída do saloon, enquanto pipocam as armas de malfeitores em dias de brigas e arruaças.
Em certo dia, conversei com um amigo tentando convencê-lo das vantagens do investimento em Bolsa: para alguns, uma fábrica de milionários, para outros, antro de perdição. Disse-me que só dá azar. Entra na alta e sai na baixa.
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Argumentei-lhe que muitos profissionais do mercado buscam laçar clientes como os portugueses fizeram com o Rinoceronte de Dürer em 1515. O bicho, pesando mais de três toneladas, foi capturado e transportado das índias portuguesas para Lisboa. O Rei D. Manoel, o monarca da época, num ato de bajular o Papa Leão X, o deu de presente resultando numa operação logística desastrosa que culminou em naufrágio, causando o triste fim do animal. Os tais profissionais não têm nenhum compromisso com os propósitos e as condições do investidor; sua disponibilidade, tempo de aplicação, seus objetivos a médio e longo prazo. Por vezes, a grande causa do insucesso.
Pela enésima vez digo, todo investidor pode ele mesmo administrar sua carteira de ações com toda tranqüilidade, sem as correrias e atropelos do dia a dia do mercado. Essa opinião não é corroborada pelos administradores de fundos e assessores de investimentos, por dever de ofício, naturalmente.
Mas não vamos ter pena daquele meu amigo perdedor. Ele busca a Bolsa de forma experimental, pois só em aluguel de imóveis na praça recebe uma fortuna e viaja de férias com a família a Dubai, de três a quatro vezes ao ano!
Esta pergunta, todos que investem recursos na Bolsa com regularidade precisam fazê-la: Quanto vale uma ação? Sabemos que existem preços reais e fabricados. Em busca de resposta para a questão e diante de tantos indicadores, queremos abordar apenas três, por considerá-los os mais simples e importantes para o investidor comum como o leitor e eu.
O balanço patrimonial é a peça fundamental para qualquer analista. Sabemos que o balanço espelha de modo estático a prosperidade ou a dificuldade financeira de uma empresa em certo momento. Ele é publicado pelas sociedades anônimas de capital aberto a cada trimestre. Por determinação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) elas precisam deixar à disposição do público suas demonstrações financeiras em sites oficiais, incluindo a bolsa de valores.
O amigo leitor não precisa desanimar nem ficar como perus dentro de um círculo de giz: olham aquela fina linha branca no chão e se julgam diante das Muralhas de Jericó, num dia em que Josué está de férias. A bem da verdade, ninguém precisa ser especialista em balanço se quiser lucrar na Bolsa. Basta algum conhecimento elementar específico e muita disposição para ler os relatórios financeiros das empresas.
Os práticos do mercado dizem que, qualquer investimento vale pela remuneração do capital (capacidade do dinheiro gerar mais dinheiro), nem mais, nem menos. É como os metais preciosos, que valem pelo seu peso. Essas são verdades atemporais que muitos as desprezam pela sua simplicidade. As teorias de valuation têm seus méritos, mas são complicadas e usam variáveis futuras tão incertas, num ambiente tão dinâmico, que os resultados são constantemente adaptados. Corroborando podemos citar Bazin: “Enquanto os teóricos fazem adeptos, os práticos fazem dinheiro”.
Suponha que uma taxa real de juros de 6% ao ano seja mais que satisfatória para o caso brasileiro, pois a caderneta de poupança remunera bem próximo disso e a remuneração de uma ação (Yield = Y) sendo medida por meio dos dividendos. Usando uma definição clássica, dividendos são benefícios pagos em dinheiro pelas empresas às pessoas possuidoras de suas ações. Esses dividendos são obtidos a partir dos lucros (se houver) indicados no balanço de determinado exercício social, ou seja, é renda mesmo, sem o sacrifício do capital. Nos Estados Unidos, os americanos consideram o yield dinheiro de sustentar herdeiros, viúvas e órfãos.
Os dividendos estão para as ações assim como o aluguel está para o imóvel. Então, os dividendos não podem ser menores que 6% do capital investido para serem competitivos com aquela taxa de juros. Menor que isso, seria melhor ficar na renda fixa.
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No livro "Faça Fortuna com Ações – Antes que Seja Tarde" temos uma dica preciosa. O autor propõe que para um retorno de 6% ao ano, o capital investido (= 100%) tem que ser no máximo 16,67 vezes o seu rendimento, pois 100/6=16,67.
Portanto, qual o maior preço que se poderia pagar por uma ação que remunere em dividendos R$ 3,00 ao ano? Vejamos: capital/juros 100/6=16,67 vezes. Convertendo para a fórmula temos R$ 3,00 x 16,67=R$ 50,00. Então para termos uma renda comparativa com os juros reais da renda fixa de 6% aa, pode-se pagar no máximo R$ 50,00 pela ação do exemplo. Essas fórmulas estão longe da perfeição, mas pela simplicidade e lógica, quando usadas corretamente, te levam ao sucesso inevitável!
Outro indicador é o P/L, preço sobre o lucro. O P/L é teoricamente a quantidade de anos que o investidor espera para obter o seu investimento de volta por meio do lucro gerado pela empresa. Vejamos: uma ação cujo preço em Bolsa seja de 50 e apresente lucro no balanço de 12,50 tem PL 4. Pois 50/12,50 = 4 anos, supondo que o lucro se mantenha constante. O P/L ideal é discutível. Riscos maiores envolvem P/Ls mais elevados, porem não convém que sejam muito superiores a 15 ou 20.
Indicador igualmente importante é a relação Preço sobre o Valor Patrimonial, P/VP. Divide-se o preço de mercado da ação pelo valor patrimonial. O valor patrimonial por ação é o resultado do patrimônio líquido declarado no balanço, dividido pelo numero de ações do qual é composto o capital social da empresa. Assim uma ação que tenha preço de mercado igual ao valor patrimonial está sendo negociada a 100% do valor patrimonial, P/VP = 1. Embora, algumas empresas brasileiras sejam negociadas com preço de mercado até 5 vezes ou mais acima do seu valor patrimonial, boa parte delas encontram-se por volta de 0,70 ou menos. O parâmetro para esse indicador é quanto menor, melhor. Mesmo assim exige cuidado, já que muitas ações mesmo com P/VP extremamente baixos, não merecem preços melhores.
Naturalmente que estamos falando de análise fundamentalista, a que mais combina com perfil de maratonistas e não de corredores de 100 metros.
Não há nenhuma novidade em tais abordagens. Muitos investidores seniores (especuladores não acreditam nisso) em Wall Street e por aqui também, há muito se beneficiam desses conceitos com grande êxito.
Concluindo, a conquista na Bolsa depende de paciência e perseverança. Não adianta o investidor fazer uso da metralhadora giratória cuspindo fogo por todos os lados! É melhor usar a espingarda cartucheira dormindo na pontaria. Quando puxar o gatilho, vai acertar na mosca!
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