O Banco Central Americano deixou a porta aberta para incrementar os juros na próxima reunião, em setembro, muito embora até lá o mercado vá monitorar indicadores econômicos que eventualmente atrasem a decisão do FOMC (equivalente ao nosso COPOM). A bipolaridade e apostas dos investidores fizeram a moeda americana oscilar bastante na semana, com o índice do dólar respondendo negativamente após divulgação do baixo crescimento dos rendimentos dos trabalhadores nos Estados Unidos.
Um dos destaques entre as notícias ruins foi o Brasil, que registrou em junho o maior déficit primário do orçamento desde 2001, e teve agências de risco revisando negativamente o perfil da dívida do país. Muitos analistas preveem a perda do grau de investimento em breve e a consequência foi a desvalorização do Real para 3.4310, contra o dólar.
Os principais índices de commodities esboçaram uma reação até quinta-feira para então fecharem a semana nas mínimas, empurrados pelas quedas dos grãos, energia e metais industriais. O café em Nova Iorque foi o grande ganhador da semana com alta de 2.45%, muito embora não tenha se distanciado da nova mínima do contrato, US$ 119,90 centavos, negociada na última terça. Londres fechou com leve baixa, tendo o contrato de julho saído da tela negociando US$ 136 acima do contrato de setembro. Se a paridade de entrega pode ter feito sentido para a inversão, resta saber como se dará a utilização dos certificados nos próximos meses.
O arábica só não conseguiu pegar stops de compra mais significativos em função da fraqueza das moedas brasileira e colombiana, que fazem com que o “C” convertido em reais e pesos por libra peso esteja nos mesmos patamares do começo de abril – quando Nova Iorque fechou a US$ 148.85 centavos (considerando a segunda posição).
Os preços praticados nas duas principais origens ajudaram o fluxo de negócios locais, e no FOB alguns torradores e dealers pagaram diferenciais um pouco melhores (mais caros). Na BM&F o spread do Setembro/Dezembro inverteu de certa forma dando um tom positivo para as cotações internacionais, seja a causa do prêmio ser relacionada ao atraso da safra ou até mesmo um aperto de qualidades melhores neste momento. Ainda há bastante tempo até o último dia de negociação do contrato, 22 de setembro, para a estrutura do curto-prazo voltar ao normal – caso não seja um squeeze que se desenhe.
Nas outras origens o pico da entressafra faz com que pouco aconteça de interessante. Quem precisa de cafés-suaves tem que comprar da mão das tradings, e muito do café está no spot.
Os diferenciais do robusta vietnamita firmaram segundo um importante participante do mercado, com uma ressurgida da demanda externa e uma retração de venda dos produtores e intermediários. Alguns apostam em um novo squeeze do contrato de Setembro em Londres, que expira algumas semanas antes do começo da safra no Vietnã. De fato temos que monitorar o comportamento dos certificados para avaliar as chances disto voltar a ocorrer. O timing pode ajudar a jogada e colocar mais uma vez em teste os critérios da bolsa e utilização da entrega que acabou de acontecer.
O posicionamento dos traders no COT mostrou os fundos com uma posição bruta vendida de 59,139 lotes, dentro do que esperávamos, e não acredito que tenham ainda recomprado uma parte significativa dos shorts, de forma que ainda há um potencial de alta no curto-prazo por conta de uma cobertura. O contra-argumento é que os comerciais têm um bom volume de fixações compradas, e a parte vendida sugere que ainda há bastante precificação a ser feita pelas origens – considerando uma safra brasileira de mais de 50 milhões e da colombiana próximo de 13 milhões.
Tecnicamente o mercado precisa segurar acima de 124.15 para não voltar a testar os 119.90, enquanto para cima as resistências estão a 125.50, 130.00 e mais importante a 132.50.
Muito bons negócios a todos,
Rodrigo Costa