Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Todas as principais moedas se recuperaram ontem, em uma importante retomada do apetite pelo risco. O par USD/JPY superou o patamar de 107 na esteira dos rendimentos mais altos dos títulos governamentais e das ações nos EUA. Apesar do relatório de empregos apagado na sexta-feira e da falta de dados na segunda-feira, os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro americano subiram mais de 1,6%. Os investidores se motivaram pela decisão do Banco Popular da China de reduzir sua taxa de depósito compulsório em 50 pontos-base. Essa foi a terceira mudança do ano, ensejando especulações de que poderia haver um estímulo fiscal mais agressivo no país asiático. Os últimos dados de comércio da China foram decepcionantes. Não só o superávit encolheu mais do que o esperado, como também houve um declínio nas importações e exportações. Enquanto as exportações gerais caíram apenas 1%, as exportações para os EUA tiveram uma queda de 16% na comparação anual por causa das tensões comerciais. Na sexta-feira, o economista da Casa Branca, Larry Kudlow, declarou que um telefonema no início da semana com a China havia “ido muito bem”, o que pode explicar parte do otimismo, mas, até que as tarifas sejam reduzidas ou canceladas, temos relutância em acreditar em qualquer “avanço” nas tratativas. Dito isso, falta mais de uma semana da reunião do Fed, portanto, a menos que apareçam até lá manchetes negativas sobre o comércio, as perdas no USD/JPY podem ser limitadas, enquanto os dólares australiano e neozelandês podem ampliar seus ganhos.
O foco desta semana estará totalmente voltado ao euro. O Banco Central Europeu (BCE) se reúne na quinta-feira; nossa expectativa é que a moeda única continue sob pressão. Mas dados melhores e notícias de que o governo alemão estuda realizar um estímulo fiscal ajudaram o EUR/USD se recuperar ontem. Os dados de comércio e conta corrente da Alemanha foram mais fortes do que os esperados, graças a uma alta nas exportações, quando analistas esperavam uma queda. O ministro da fazenda da Alemanha declarou que é possível haver um ajuste orçamentário caso seja necessário. Há notícias de que a Alemanha possa criar um “orçamento alternativo” para aumentar os investimentos públicos. Essa indicação de estímulo fiscal sugere que os alemães falam realmente sério em evitar uma recessão profunda e prolongada.
A libra esterlina também se valorizou depois que parlamentares britânicos excluíram a possibilidade de um Brexit sem acordo. O Reino Unido agora será forçado a retornar à União Europeia para solicitar uma prorrogação se não houver um acordo de saída até 19 de outubro. Esse foi um dos últimos movimentos do Parlamento antes do recesso até 14 de outubro. O problema é que o governo se opõe veementemente à lei contra um Brexit sem acordo e aparentemente tem tentado arrumar maneiras de se esquivar dela. Entre as estratégias está a possibilidade de ignorar completamente a lei, o que seria completamente ilegal e altamente arriscado, enviar uma segunda carta à UE dizendo "ignore a solicitação", o que poderia despertar uma forte oposição do bloco europeu, ou aprovar uma lei que emende o prazo fixo estipulado pelo Parlamento, o que exigiria apenas uma maioria simples na Câmara dos Comuns para ser aprovada. Os números do mercado de trabalho no Reino Unido estão agendados para hoje e, embora tenhamos boas razões para acreditar que os dados serão fracos de acordo com os PMIs, o Brexit continua sendo o foco principal.