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Renúncia no Banco Central Europeu Expõe Divisão entre Norte e Sul na Zona do Euro

Publicado 02.10.2019, 14:16
Atualizado 02.09.2020, 03:05
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A renúncia inesperada da alemã Sabine Lautenschläger ao Conselho Executivo do Banco Central Europeu (BCE), na semana passada, faltando mais de dois anos para terminar seu mandato de oito anos, escancarou um conflito reprimido dentro do BCE. A discórdia colocava em lados opostos os membros mais rígidos (hawkish) do norte da Zona do Euro e os europeus mais moderados (dovish) do sul.

Ao contrário do conflito anterior na região, quando Grécia, Itália e Espanha estavam na posição de devedores obrigados a seguir os ditames dos seus credores da Europa Setentrional, desta vez os sulistas estão vencendo a batalha. Afinal, foi justamente um presidente italiano, Mario Draghi, quem conduziu o BCE na direção da flexibilização quantitativa e dos juros negativos, meios heterodoxos de enfrentar o lento crescimento e a baixa inflação.

A França está em cima do muro entre o norte e o sul, mas o presidente do país, Emmanuel Macron, não vê com bons olhos a política econômica e monetária reacionária da Alemanha. Ele bloqueou a indicação de Jens Weidmann, presidente do Bundesbank (banco central alemão), para suceder Draghi, atuando em favor da sua moderada compatriota Christine Lagarde, presidente do FMI, para que ela assumisse as rédeas do banco central europeu.

Draghi, por sua parte, aprofundou sua estratégia, quando já estava se dirigindo à porta de saída. Na reunião de política de setembro do BCE, ele emplacou a redução da taxa de juros sobre os depósitos bancários, levando-as ainda mais para o território negativo. Draghi também relançou o programa de compra de ativos do banco.

Foi justamente esse programa de compra de títulos que desencadeou a renúncia de Lautenschläger, estragando a delicada dança dos membros para manter o conselho do BCE equilibrado. Além disso, provocou a queda brusca da moeda única, que ainda está se recuperando.

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Os Ministros de Finanças da Zona do Euro decidiram muito bem substituir Benoît Cœuré, cujo mandato terminaria em dezembro, por Fabio Panetta, vice-governador sênior da Banca d’Italia.

Assim, a França e a Itália manteriam representação no conselho. A Alemanha, na condição de maior economia da União Europeia (UE), sente que tem direito à representação, por isso a pessoa que substituirá Lautenschläger deverá ser do próprio país.

Em razão da disparidade de gêneros existente no BCE – Lautenschläger é a única mulher no conselho dirigente de 25 membros, e a chegada de Lagarde não melhora essa paridade – a preferência seria por alguém do sexo feminino.

Essa escolha sinalizará quão dispostos estão os líderes da UE a botar panos quentes nessa crise. A Alemanha tem a chance de recuar e tratar suas feridas até que esteja em posição mais forte novamente, ao indicar uma pessoa mais moderada.

Evidentemente, na Alemanha, esse é um termo relativo. Claudia Buch, vice-presidente do Bundesbank, provavelmente cairia no campo hawkish. Ela sucedeu Lautenschläger nessa posição em 2014, quando esta foi para o BCE e vinha trabalhando lado a lado com o extremista Weidmann desde então.

Buch já foi membro do Conselho Alemão de Especialistas Econômicos (historicamente conhecido como os Cinco Homens Sagazes) por dois anos e era considerada como uma possível candidata a um assento no conselho do BCE, que acabou sendo ocupado por Lautenschläger.

Isabel Schnabel, professora da Universidade de Bonn que sucedeu Buch no Conselho de Especialistas Econômicos, também tem sido mencionada como possível candidata. De certa forma, ela pode acabar sendo mais moderada do que Buch, apesar de já ter feito críticas à política monetária do BCE. Outra possível candidata é Elga Bartsch, que atualmente é diretora de pesquisa macroeconômica da Blackrock, depois de ter construído uma carreira no Morgan Stanley (NYSE:MS).

Essas três mulheres possuem dourado em Economia e trariam uma perspectiva diferente à de Lautenschläger para o BCE. Sua especialidade é supervisão bancária, uma vez que já dirigiu o Conselho Supervisor do BCE por anos.

Para dizer o mínimo, é possível que suas posições quanto à política monetária variem pouco. (Para fins de registro, entre os outros possíveis candidatos estariam Marcel Fratzscher, diretor de análise de política do BCE, Jörg Kukies, membro do ministério da fazenda alemão, e Volker Wieland, professor da Universidade de Frankfurt).

O novo economista-chefe do BCE e ex-governador do Banco Central da Irlanda, Philip Lane, é considerado mais moderado do que seu antecessor holandês Peter Praet, enquanto o italiano Panetta, por ser um europeu do Sul, está por definição no espectro dovish.

Dovish ou não, o recém-formado conselho executivo terá que lidar com a crescente oposição na Alemanha à política monetária acomodatícia, não só por parte das autoridades monetárias, mas também dos banqueiros e até mesmo do público. Lagarde precisará de todas as suas habilidades diplomáticas para resolver essa divisão cada vez maior entre o norte e o sul.

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