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Reserva de Emergência Precisa Ter Liquidez

Publicado 23.06.2020, 06:55
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Na coluna de hoje vou falar sobre onde investir os recursos da sua reserva de emergência no cenário de taxa de juros (Selic) a 2,25 por cento ao ano.

Fim da cultura do CDI

Como diria a clássica música do “rei” Roberto Carlos: “daqui para frente tudo vai ser diferente. ”

Na última semana o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir a taxa de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual para 2,25 por cento ao ano.

Você já parou para fazer a conta do impacto no rendimento de suas aplicações financeiras, especialmente a sua reserva de emergência? Você já tem uma reserva de emergência? Você sabe como fazer?

Eu pretendo te mostrar na prática como escolher entre as alternativas para investir de forma que você não perca dinheiro, afinal deixar de ganhar dinheiro também é um prejuízo.

Reserva de emergência

Acredito que é extremamente importante que os investidores tenham sempre uma reserva de emergência investida em juros pós-fixados (CDI), com baixo risco e liquidez imediata.

Eu penso que um bom número para essa reserva seria o equivalente a 3 a 6 meses de salário. Esse é o verdadeiro “seguro desemprego”’, ou então de 3 a 6 meses das suas despesas mensais totais. Cada investidor tem um perfil e esse montante da reserva pode variar (12 meses) ou até mesmo ser um número “redondo” (R$ 50 mil).

Classes de ativos: juros pós-fixados

As principais alternativas para investimento em ativos com juros pós-fixados (CDI) de baixo risco e liquidez são: fundos DI/Selic, Tesouro Selic, CDBs e LCA/LCI de bancos.

Tenha em mente que esse recurso investido sem risco e com liquidez terá retorno bastante baixo, em alguns casos inferior à inflação que atualmente está em 2 por cento ao ano. Aqui estamos falando de praticamente guardar o dinheiro no colchão para ter recursos para pagar as suas contas numa emergência.

Como exemplo: o Tesouro Selic cuja remuneração é de aproximadamente 100 por cento do CDI, tem retorno líquido (imposto de renda de 15 por cento e taxas de custódia de 0,25 por cento ao ano) de apenas 1,7 por cento ao ano.

A matemática é simples: 

2,25 por cento – (0,25 por cento + 15 por cento de IR) = 

2 por cento x (1-15 por cento) = 

2 por cento x 85 por cento = 1,7 por cento

Abaixo da inflação, que deve ficar em 2 por cento ao ano.

Imposto de renda

Todos os investimentos em renda fixa que não são isentos de imposto de renda são tributados pela tabela regressiva de IR. Ela começa em 22,5 por cento para investimentos com prazo de até 6 meses e cai 2,5 pontos percentuais a cada seis meses, terminando com uma alíquota mínima de imposto de renda de 15 por cento depois de dois anos.

A conclusão aqui é a seguinte: sempre tente deixar o seu dinheiro de renda fixa investido pelo menos dois anos, assim você pagará menos imposto de renda.

Risco baixo

Todas essas alternativas de investimento têm praticamente o mesmo risco que é muito baixo (juro pós fixado). 

Afinal, os fundos DI/Selic dos bancos compram títulos públicos atrelados à Selic. As aplicações financeiras em CDB/LCA/LCI são títulos privados de renda fixa emitidos pelos bancos de primeira linha.

Acredito que o risco de crédito dos grandes bancos (Banco do Brasil (SA:BBAS3), Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco, Bradesco (SA:BBDC4) e Santander (SA:SANB11)) é similar ao risco do Governo Federal, devido ao tamanho e à liquidez dessas instituições financeiras.

Mesmo assim, existe uma cobertura adicional do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que garante o risco de crédito para um valor de até 250 mil reais por instituição e por CPF, desde que o valor não ultrapasse 1 milhão de reais por investidor pessoa física (CPF).

Tudo isso para dizer que você pode deixar a sua reserva de emergência em títulos privados dos grandes bancos sem medo.

Taxas de administração

Com a queda da Selic, as altas taxas de administração cobrados pelos grandes bancos ficaram mais evidentes. Um fundo de renda fixa de um grande banco chegou a cobrar o absurdo de 5,5 por cento de taxa de administração. Os grandes bancos começaram a reduzir as taxas de administração, mas o nível ainda está muito alto: entre 2 por cento e 3 por cento ao ano.

Essa alta taxa de administração praticamente acaba com o rendimento de sua aplicação financeira. Afinal, com a taxa de juros em 2,25 por cento ao ano, alguns fundos cobram taxas de administração que são superiores à taxa Selic, assim o investidor perde dinheiro ao manter os recursos nestes fundos.

Acredito que a taxa de administração pode ser de no máximo 0,25 por cento ao ano, que é a taxa cobrada pelo Tesouro Direto para os títulos pós-fixados (Selic).

Qual a melhor alternativa para investir a reserva de emergência?

Atualmente existem quatro alternativas para investir a reserva de emergência: 1) Tesouro Selic; 2) Fundos de investimento de bancos do tipo DI/Selic; 3) Certificado de Depósito Bancário (CDB) de bancos de primeira linha e; 4) Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário (LCA/LCI), que são isentas de imposto de renda.

A taxa de remuneração destes investimentos é sempre determinada em termos de percentual do CDI. No entanto, é preciso levar em consideração as taxas de administração dos fundos, as taxas de custódia do Tesouro Direto e até mesmo as eventuais taxas cobradas pelas corretoras para a compra de um título de renda fixa, se for o caso.

Compare as taxas de remuneração dos ativos

Agora que você já entendeu como tudo funciona, chegou a hora de falar com o seu gerente de banco e/ou seu assessor de investimentos da corretora.

Utilizei as seguintes premissas: taxa de juros (Selic) de 2,25 por cento ao ano, imposto de renda de 15 por cento e inflação em 12 meses de 2 por cento.

A seguir, você precisa falar para o seu gerente qual o montante em reais a ser investido e que os recursos precisam ter liquidez imediata, o que significa que podem ser resgatadas a qualquer momento (sem carência) e que são creditados na sua conta no mesmo dia do pedido do resgate (D+0). 

No caso das LCA/LCI é importante observar que existe uma carência de 90 dias para poder realizar o resgate.

Pergunte então qual a remuneração em percentual do CDI para: CDB, LCI e LCA. Como é cobrado imposto de renda nas aplicações em CDB, o vencimento da operação precisa ser maior do que dois anos, para que o IR seja de apenas 15 por cento.

É importante observar que as taxas oferecidas pelos bancos variam conforme o montante investido, geralmente quanto maior o volume de recursos, melhor a taxa paga pelo banco.

Exemplo prático da vida real

Faz pouco tempo resgatei os recursos que eu tinha aplicado num fundo DI do Banco do Brasil que cobra uma taxa de administração alta, de 0,5 por cento ao ano. Decidi fazer uma cotação de CDB/LCI/LCA junto ao gerente do banco para um valor de 50 mil reais, com liquidez imediata para o CDB e carência de 90 dias para LCI/LCA.

Obtive a seguinte resposta: taxa de 94 por cento do CDI para o CDB e taxa de 90 por cento para uma LCA. O fundo de investimento oferecido é o BB Renda Fixa Longo Prazo Selic, que tem taxa de administração de 0,3 por cento ao ano. Como a LCA é isenta de IR, é preciso comparar o rendimento líquido das aplicações, ou aumentar em 15 por cento a taxa da LCA para deixar comparável com o CDB e o fundo, cujo rendimento paga imposto de renda

Você pode ver na tabela abaixo o resultado: o fundo DI tem rendimento bruto de 86 por cento do CDI, o CDB tem 94 por cento e a LCA, a melhor alternativa, tem rendimento bruto de 106 por cento do CDI (essa conta é a seguinte: 90 por cento dividido por 85 por cento (1 menos IR de 15 por cento).

Tabela

Fonte: Instituições Financeiras e Elaboração Levante

Para facilitar sua vida, na tabela eu mostro que uma LCA com taxa de 85 por cento do CDI equivale a um CDB com rendimento de 100 por cento do CDI. O rendimento líquido de ambos é igual a 85 por cento do CDI.

Decidi então investir 20 mil reais no CDB com taxa de 94 por cento do CDI e 30 mil reais na LCA que tem rendimento maior, mas que tem carência de 90 dias para o resgate. Assim tenho liquidez imediata para os próximos 90 dias e posso dormir tranquilo, sem me preocupar com alguma emergência.

O investimento na LCA proporciona um rendimento líquido mais alto: 2,03 por cento, comparado a 1,8 por cento do CDB e a 1,65 do fundo DI/Selic do BB. Aqui estamos falando do preço da liquidez: você aceita a carência de 90 para ter um rendimento mais alto.

O valor da reserva de emergência e a necessidade de liquidez dependem cada investidor, conforme o seu perfil de risco, sua idade, seu momento de vida e seu custo de vida.

Diferença no rendimento

Mantidas as premissas acima, para um valor de 50 mil reais investidos, o rendimento líquido das três alternativas de investimento será muito diferente em 12 meses: 1.012 reais para a LCA, 899 reais para o CDB e 817 reais para o fundo DI/Selic, uma diferença de 195 reais por ano.

Com esse dinheiro dá para pagar um belo jantar ou comprar algumas cervejas artesanais. O meu tipo preferido é a India Pale Ale (IPA).

Esse fluxo de caixa de 195 por ano todos os anos, por 20 anos, aplicados a uma taxa de 4 por cento ao ano (juro real), resulta num valor presente líquido de 2,7 mil reais. Esse é o dinheiro que você está deixando em cima da mesa, bastante né? Em outra coluna vou te ensinar a fazer essa conta simples de matemática financeira.

Orientações práticas

Tenho três recomendações pessoais de ordem prática:

  1. Evite colocar a reserva de emergência apenas no Tesouro Direto, o prazo de resgate é de um dia útil (D+1) e as vezes as negociações são suspensas pelo Tesouro;

  2. Sempre tenha alguma reserva no banco em que você paga as suas contas (cartão de crédito, aluguel, boletos em geral), para evitar o saldo negativo na conta e ter que pagar juros muito altos. O resgate pelo aplicativo dos bancos é fácil e o dinheiro vai para a conta na hora, não precisa fazer TED;

  3. Recomendável ter pelos menos três meses de despesas com liquidez imediata no CDB ou fundo DI/Selic e não na LCA/LCI que tem carência de 90 dias;

  4. Atualmente os melhores fundos DI/Selic que recomendo nas corretoras são: BTG Pactual (SA:BPAC11) Digital Tesouro Selic Simples (taxa de administração zero) e XP Trend Pós Fixado FIRF Simples (taxa de administração de 0,2 por cento);

  5. Se você faz muitas movimentações na sua reserva de emergência, com vários resgates/aplicações, o mais recomendado é investir nos fundos DI/Selic, fica mais fácil para o imposto de renda;

  6. Os grandes bancos têm reduzido as taxas de administração dos seus fundos DI/Selic, por exemplo no Banco do Brasil e no Itaú Unibanco a taxa de administração mais baixa é de 0,3 por cento ao ano sobre o valor investido, mas exigem valores mais altos (200 mil reais total na conta). Para investimentos mais baixos, as taxas são bem mais altas: na Caixa Econômica Federal (CEF) as taxas de administração variam de 0,15 a 1,5 por cento ao ano. Você pode consultar as taxas de administração dos fundos pelos aplicativos.

Conclusão

Reserva de emergência precisa ter liquidez, ou seja, o dinheiro tem de entrar na conta quando você precisa. Além disso, o risco precisa ser baixo. Por isso, prefira os fundos com baixa taxa de administração que investem em títulos Tesouro Selic. Não vejo problema de risco com os CDB/LCA/LCI dos grandes bancos (BB, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander).

Não recomendo investir a reserva de emergência em títulos pós-fixados de bancos menores. A taxa de remuneração é mais alta, pois o risco de crédito é mais alto, mesmo com a proteção do FGC. Se um banco desses quebrar, você não perde o dinheiro, mas o FGC pode demorar para te pagar.

Por último, nunca invista a sua reserva de emergência em fundos de crédito privado, o perfil de risco destes ativos não é compatível com a reserva de emergência.

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