Não ceda à tentação
Após o rali de ontem, mercados hoje chegam à reta final das eleições americanas com um pouco mais de cautela. Últimas pesquisas sugerem pequeno aumento de margem em favor da candidata democrata.
Hillary. Trump. Hillary. Trump.
Se me permitisse ceder às tentações do noticiário de hoje, este seria mais um M5M sobre as eleições americanas. O tema é, definitivamente, “the only game in town” no dia de hoje.
Mas não cederei: foquemos em algo mais importante e perene.
Seu ativo mais valioso
É do melhor interesse do investidor acompanhar o desenrolar da corrida eleitoral no ritmo e com a carga dramática impostos pelo noticiário?
Francamente, penso que não.
Mais do que nunca, existe atualmente uma batalha ferrenha entre os meios de comunicação por um ativo valiosíssimo: sua atenção.
Não se permita deixá-la se esvair com questões momentâneas.
Nuvem passageira
Seu portólio de investimentos foi construído para “operar” o evento eleição?
Se sim, pode parar a leitura por aqui: não tenho como ajudá-lo, pois isso contraria tudo que tenho escrito sobre investimentos ao longo de uma década de mercado.
Por mais relevante que seja o evento que se desenrola hoje, para o investidor que construiu seu portfólio de investimentos com base em fundamentos, é apenas nuvem passageira — uma de muitas —, seja qual for o desfecho.
E, passadas as eleições, o mercado não tardará em buscar um novo foco de atenção.
Contenhamos, portanto, os ânimos.
Tática versus estratégia
O investidor individual sofre da permanente tentação de focar excessivamente em tática — medidas momentâneas — e negligenciar a estratégia, seu direcionamento de longo prazo.
É a síndrome do trader: eu vou entrar nesse ponto e sair naquele ali, e fazer um monte de dinheiro no caminho. Pena que, em 9 a cada 10 casos, a coisa não funciona assim.
Você tem planejado alocar determinada parcela de seu portfólio — espero que corresponda à maior parte dele — alocada em renda fixa. Uma parcela menor em renda variável e outra, ainda menor, em outros ativos. Esta é sua alocação estratégica; o seu plano de longo prazo.
Defina: “minha alocação estratégica em ações é — digamos — 30 por cento”.
As oportunidades de mercado, provocadas por eventos das mais diversas naturezas, devem implicar tão somente em ajustes pontuais nas suas posições: este é seu plano tático.
“Para aproveitar as oportunidades de mercado, eu vou me permitir em determinados momentos ficar mais ou menos exposto a ações, variando de 20 a 40 por cento.” E assim por diante.
Resista ao “tudo ou nada”
O mercado trabalha com um cenário-base Hillary. Se concretizado, provavelmente teremos poucas surpresas amanhã. O foco tende a retornar rapidamente para outras questões em torno das quais já vínhamos orbitando: juros nos EUA, situação na Europa, China.
Haverá algum fluxo adicional de recursos vindo de lá, com maior propensão a risco? Provavelmente, e você pode — se quiser — aumentar um pouco a exposição em bolsa (dentro dos seus limites táticos) para tentar capturar isso. Mas o jogo está mais ou menos dado.
E se der Trump? Se certifique de estar posicionado, ainda que em parcela pequena, em ativos-seguro como ouro e/ou opções de venda fora-do-dinheiro (somente se souber como operar opções, sim?), e parte dos recursos em caixa ou na renda fixa pós-fixada para aproveitar oportunidades caso as taxas do pré abram.
Você também pode buscar oportunidades de Long & Short com foco em um cenário Trump, como fez meu amigo Max ontem.
Só não confunda estratégia com tática: resista à tentação de “dobrar ou zerar” por conta do que acontecer — seja amanhã, seja em qualquer dia.
Investir é maratona, não 100 metros rasos. Nos vemos na linha de chegada.