Temer na Onu, Brasil em Foco

Publicado 24.09.2016, 16:26

Tanto o Brasil como o resto do mundo não falou de outra coisa que não o encontro do FOMC, o comitê norte americano de política monetária que traria luz aos mercados sobre o aumento ou não da taxa de juros norte americana. E esse driver prendeu a atenção do mercado brasileiro que parou para acompanhar a reunião na quarta feira.

Outro ponto que remete à economia dentro do nosso país, porém que ocorreu no exterior, foi a fala do presidente Temer no septuagésimo primeiro encontro da ONU, a Organização das Nações Unidas, a qual foi marcado por sinalizações de apoio e contrárias ao novo presidente do Brasil.

E o discurso do presidente foi pautado em três pontos principais, com os quais ele pretende passar uma nova imagem da situação brasileira, tirando da frente a imagem de crise e recessão pela qual, apesar de tentar amenizar, nós ainda passamos.

A primeira parte do discurso se deu com a defesa de seu mandato, alegando que este ocorreu de forma legítima e se deu através da constitucionalidade das instituições legais no Brasil, as quais compreendem o Legislativo e o Judiciário, minimizando a oposição e os argumentos de golpe dos quais ele tem sido acusado.

Na segunda parte, o foco foi na recuperação da economia brasileira, demonstrando com alguns indicadores de que o pior já passou e que agora o país caminha a um futuro melhor, dado a retomada do crescimento na confiança de empresários, investidores e também da população.

Por fim, o terceiro ponto foi fundamentado na nova fase econômica brasileira, com um governo muito mais aberto a acordos e negociações internacionais, buscando parcerias com outros países, principalmente com economias desenvolvidas como os EUA, como no acordo para entrada de carne brasileira no país, e a retomada de negociações de exportações com a União Europeia, além de evidenciar a nova onda de privatizações que o governo anunciou.

Aparentemente o resto do mundo comprou a ideia de uma cara nova no Brasil podendo dar uma repaginada no cenário econômico, tendo essa semana ainda ocorrido uma reunião de investidores estrangeiros nos Estados unidos com o tema central sendo os pacotes de privatizações que estão para ocorrer no ano que vem. O clima aparentemente é de confiança.

E apesar de a maioria dos países terem recebido com algum otimismo a mensagem passada pelo Temer a respeito dos três pontos comentados, um grupo de países contrários ao processo de impeachment realizaram um protesto silencioso enquanto o presidente discursava para as nações.

Os presidentes da Costa Rica, Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Nicaragua levantaram e se retiraram o plenário como demonstração de oposição e não legitimação do recente processo de impeachment ocorrido no país.

Vale lembrar, no entanto que a maioria desses países, se não todos, possuem uma forte visão de esquerda em seus governos, as quais eram ligadas à visão do PT, partido da presidente Dilma. Dessa forma, apesar de ser uma mensagem forte de contrariedade ao Temer, algo em torno desse tipo já era esperado pela comitiva do presidente brasileiro, o que não deixou de causar algum constrangimento.

Com o presidente ainda comentando o atual cenário político-econômico internacional, Temer fez comentários de desaprovação ao isolacionismo atual para qual o mundo está caminhando, criticando posições tais quais as defendidas pelo candidato à presidência dos EUA, Donald Trump ou o movimento separatista do Reino Unido de saída da Europa.

E enquanto o presidente está vendendo a imagem positiva do Brasil lá fora, o ministro da Fazenda Henrique Meireles vem fazendo seu próprio Road Show aqui mesmo no país. Essa semana em diversos encontros com investidores e empresários, Meireles afirmou que o governo não irá abrir mão da dureza de suas propostas que, segundo ele, são amargas, porém necessárias à retomada da economia brasileira.

Dentre elas, o governo aposta em duas frentes principais, sendo elas a PEC, sigla para Proposta de Emenda a constituição, a qual quer criar um teto limite para os gastos do governo, não permitindo que os gastos do próximo ano sejam maiores do que o aumento percentual da inflação.

Segundo o ministro, o objetivo é tentar controlar o crescimento dos gastos acima do que a população consegue pagar com a cobrança de impostos e ainda diminuir o rombo das contas públicas na qual o país se encontra.

Pela PEC, os gastos do governo deverão seguir essa nova regra por pelo menos 20 anos, porém podendo o presidente que estiver no cargo em 2025, ou seja, daqui a 9 anos, propor uma alteração nas regras de cálculo, se assim for necessário ou cabível.

Conforme noticiado essa proposta tem grandes chances de passar, uma vez que o presidente domou o centrao, aquele grupo de pequenos partidos com baixa representação individual na câmara, porém juntos com alguma voz.

E apesar do aumento de confiança de que esse projeto vá para frente, o governo já sinalizou, meio que em tom de ameaça, que caso a PEC não seja aprovada, o governo resolverá o problema de contas públicas ou com o corte de gastos ou com o aumento de impostos, ambos prejudiciais.

Já a segunda principal medida defendida por Henrique Meireles trata-se da reforma da previdência, tema bastante polêmico e que provavelmente só será votado em 2017. O ministro classificou a reforma como prioritária, inevitável e com um prazo curtíssimo para sua aprovação. Segundo ele, mais importante do que a idade em que a pessoa se aposentará, é ela ter certeza de que receberá a aposentadoria.

Entrando agora no campo dos números, o FOCUS, relatório que agrega a opinião dos principais economistas e instituições financeiras do Brasil, nessa semana divulgou suas expectativas para os seguintes itens avaliados:

- NO PIB de 2016 a previsão de queda ficou menos pior com uma estimativa de -3,18 na semana passada e -3,15% nessa semana. Em 2017 a expectativa também melhorou passando de uma expectativa de crescimento de 1,30% na semana passada pra uma de 1,36% essa semana.

- Para a inflação a expectativa é de 7,34% nessa semana, partindo de uma inflação de 7,36% na semana anterior. No próximo ano ainda espera-se uma alta de 5,12% sendo ela considerada alta. Só para lembrar, a meta do governo é de uma inflação de 4,5%, com no máximo um teto de 6,5%.

- Por fim, a SELIC estimada para o final desse ano ficou em 13,75% ao ano e 11,25% em 2017, sendo esses valores balizadores das demais taxas de juros cobradas no país.

Mas diferente do que os economistas preveem para o PIB desse ano, o IBC-BR, sigla para Índice de Atividade Econômica do Banco Central, espécie de sinalizador do PIB e que meio que antecede o valor de crescimento no Brasil veio com um resultado pior do que era esperado para o período.

Na segunda feira dia 19 saiu o resultado do início do terceiro trimestre do ano que compreende os meses de julho, agosto e setembro, apresentando uma queda de 0,09 por cento quando economistas esperavam uma alta de 0,25, ou seja, um resultado bem abaixo.

Em doze meses corridos o índice IBC-BR acumula uma queda no PIB de 5,61%, pior do que a estimativa FOCUS de -3,15% no final do ano.

Já pelo lado internacional, na quarta feira finalmente terminou a novela sobre o aumento ou não dos juros básicos norte americanos com o FED, o banco central americano, não elevando sua taxa, que hoje se encontra entre 0,25% e 0,50% ao ano.

Passado o momento de tensão, no entanto, o sinal que os membros do comitê que decidiram a manutenção da taxa é de que logo mais essa taxa, por hora mantida, deverá ser elevada, talvez já em Novembro, data da próxima reunião.

Dos seus 10 membros votantes, 7 sinalizaram a manutenção enquanto 3 pediam o aumento das taxas. A conclusão do comitê no fim foi de que, apesar da economia norte americana estar se recuperando, eles devem esperar mais alguns sinais não só de crescimento, mas de estabilidade desse crescimento, a fim de verificar se o momento de bonança não é apenas passageiro.

Após o pronunciamento da manutenção da taxa, a presidente do FED, Janet Yellen reforçou a visão otimista dos membros com a economia dos Estados Unidos, o que deu mais um sinal de que a subida está por vir.

E essa sobe não sobe deixa os mercados financeiros malucos sem saber como se posicionar ao certo. Prova disso foi que as bolsas ao redor do mundo subiram forte logo após a decisão pela manutenção da taxa, o que na teoria significa que as bolsas de valores são investimentos atrativos com a taxa em mínimas históricas. Mas logo depois da fala de Yellen, a bolsa caiu forte, afinal, ela trouxe um cenário em que logo mais os juros básicos dos Estados Unidos vão aumentar e tirar dinheiro do resto do mundo que vai parar na economia norte americana.

Ainda na crise no Mercosul, novas farpas foram trocadas ao longo dessa semana que passou.

Com risco de ser expulsa até o começo de dezembro caso não cumpra algumas obrigações, a Venezuela afirmou que, caso seja excluída do bloco pelos demais membros, ela sairá por uma porta e entrará pela janela do grupo, não aceitando a sua exclusão. Apesar do barulho de Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, os demais membros, e agora presidentes temporários do Mercosul em conjunto, preferiram focar seus esforços na concretização do tão almejado acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, um projeto que se arrasta sem sucesso desde 1998.

O ministro das relações exteriores do Brasil, José Serra, estima que o processo se conclua em até dois anos, sendo o primeiro encontro agora em outubro em Bruxelas, onde ambos os lados irão expor suas ofertas comerciais.

Indo agora para o oriente e chegando no Japão, a crise por lá continua conforme tem sido noticiado onde o país enfrenta um crescimento baixo e uma deflação severa. Só pra lembrar, deflação é quando os preços não param de cair o que na teoria pode parecer bom, mas na pratica significa um país onde as pessoas não consomem, as empresas diminuem sua produção e consequentemente seu número de funcionários e o país não cresce economicamente falando.

Nesta quarta feira dia 21 o banco central japonês, conhecido como Boj se reuniu, tal qual o fed, para decidir o rumo de suas políticas econômicas. No final da reunião, ficou decidido que as taxas de juros dos títulos públicos continuaram negativas, o que na prática significa que você perde dinheiro ao investir.

Mas o Boj já sinalizou que o primeiro ministro Shinzo Abe, aquele que se fantasiou de mario bros no final das olimpíadas, não pode depender apenas do banco central para reanimar a economia, devendo o presidente iniciar um plano de medidas como o de investimentos em infraestrutura, a fim de aumentar o número de empregos, levar maior quantidade de dinheiro para a população e com isso girar a economia.

O problema lá continua sendo que a população insiste em não consumir com a expectativa de que os preços caiam no futuro. O que o governo tem feito então é imprimir dinheiro e comprar os citados títulos públicos a fim de colocar mais dinheiro na economia. Mas os japoneses tem pegado esse dinheiro a mais e recolocado nos bancos, o que só piora a situação.

Tem se cogitado então uma manobra econômica conhecida como helicopter Money, do inglês, dinheiro de helicóptero, uma alusão a jogar dinheiro nas ruas para a população do alto de um helicóptero para que as pessoas peguem esse dinheiro e consumam. Na prática o governo imprimiria mais dinheiro e colocaria esse valor direto na mão da população, podendo ser através de:

- um desconto nos impostos

- a criação de um cartão para consumo de determinados bens

- ou até por transferência bancária direta na conta dos japoneses
Segundo os defensores do helicpoter Money, a medida é benéfica, pois levaria dinheiro direto ao consumidor, sem passar por nenhum tipo de burocracia e o país poderia parar de emitir títulos de dívida pública, o que na prática só aumenta a dívida do governo que hoje é de 230% do PIB, uma das mais altas entre os países ricos.

Porém, há quem critique a medida alegando que as pessoas já não consomem suficientemente e que mais dinheiro do que necessário, só levaria as pessoas a guardarem hoje para poder utilizar essa quantia no futuro... e é exatamente o que o governo não quer.

Para fechar, a OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, instituição internacional que visa o crescimento social e econômico do mundo, divulgou essa semana um relatório com o parecer sobre o crescimento econômico de diversos países do mundo para esse ano.

Segundo a instituição, com um o clima político mais brando no Brasil e com um melhor cenário no mercado de matérias primas, mercado esse que o Brasil se beneficia, a OCDE espera que o país apresente um crescimento maior do que o estimado em seu último parecer.

No relatório anterior a queda esperada era de -3,40% passando agora para -3,30% para esse ano, uma boa melhora. Já para 2017 a previsão foi ainda mais otimista quando a instituição projetava uma queda de -1,70% no PIB e agora uma queda de apenas 0,30%. Segundo a OCDE, as perspectivas se mostraram mais favoráveis ao país com o fim do processo do impeachment, esperando que o novo governo priorize a retomada do crescimento, o controle da inflação e o ajuste das contas públicas.

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