Foi o ano em que a bolha estourou, com um fragoroso “crash” ouvido em todo o mundo. Toda a classe de ativos sofreu um duro golpe, e nenhuma criptomoeda foi poupada.
O Bitcoin, que iniciou o ano a US$ 13.850 e agora é negociado em torno do patamar de US$ 3.800, sequer teve o pior desempenho. Sua queda foi de “apenas” 80% desde a sua máxima histórica de quase US$ 20.000, atingida em 16 de dezembro de 2017. O Ethereum, que começou 2018 a US$ 736, se desvalorizou 91% desde sua máxima histórica de US$ 1.148, atingida em 13 de janeiro, sendo negociado a US$ 133,56 no momento em que escrevo. XRP? Queda de 89% desde sua máxima histórica atingida em 4 de janeiro. Bitcoin Cash? Queda de 94% desde sua máxima histórica em 20 de dezembro de 2017. E essas são apenas as moedas digitais mais populares por capitalização de mercado.
Quanto à volatilidade, que já foi uma característica marcante do Bitcoin e do resto do mercado de criptomoedas, houve uma mudança radical no perfil do Bitcoin ao longo de 2018. No primeiro trimestre, houve 36 dias com movimentos de preço de pelo menos 5%. No segundo trimestre, esse número caiu para 13 dias, em que a volatilidade atingiu 5%. No terceiro trimestre, houve apenas 9 dias com movimento de, no mínimo, 5%. Até agora, no quarto trimestre, foram 15 dias com movimentos assim. Aparentemente, o fato de o Bitcoin ter perdido o importante patamar técnico de US$ 6.000 estava por trás do recente pico.
Por mais impressionante que pareça, no último mês curto, o Bitcoin se mostrou menos volátil que o S&P 500. De 16 de outubro a 13 de novembro, houve apenas 4 dias em que o movimento diário do BTC foi maior que 1%. Nesse mesmo período, o S&P registrou 10 dias assim. Mesmo assim, ao longo do ano, o S&P registrou ao todo zero dias com 5% de movimento, em comparação com 73 do Bitcoin. Mesmo com o recente pico de volatilidade, parece que a atividade está em tendência de baixa, um clássico efeito colateral de uma bolha que estourou.
Sinais “fundamentalistas” indicam um ecossistema ainda saudável
Um importante aspecto fundamentalista tanto para o preço quanto para a volatilidade é o interesse público, isto é, o nível de engajamento dos investidores com o Bitcoin e as criptomoedas. De acordo com o Google Trends, o volume de pesquisas por “Bitcoin” caiu 88% desde o pico do token em dezembro, enquanto pesquisas por “criptomoeda” tiveram uma queda de 91%.
Embora não haja um verdadeiro consenso sobre quais métricas fundamentalistas são apropriadas para o Bitcoin e as criptomoedas, a informação acima é uma estatística-chave que pode servir de base. Outras métricas que indicam a saúde da classe de ativos incluem a mineração e os nós.
A mineração é, e continuará sendo, uma parte importante das moedas baseadas em prova de trabalho (proof of work), como o Bitcoin. De maneira geral, quanto maior for o poder de mineração (taxa de hash) necessário para criar novos blocos, mais segura será a rede. À medida que as taxas de hash aumentam, o custo para realizar um ataque de 51% também cresce, o que reduz a probabilidade de sua ocorrência, tornando a rede mais segura.
A taxa de hash do Bitcoin começou o ano a 13-15 TH/s, ou seja, os mineradores realizavam entre 13 e 15 trilhões de cálculos por segundo para tentar encontrar novos blocos. Em 2018, a taxa de hash teve um pico de 57 TH/s. Mesmo com o Bitcoin afundando quase US$ 3.000, as taxas de hash nunca ficaram abaixo de 32 TH/s. Por isso, independente do preço do token, a força bruta que garante a segurança do blockchain do Bitcoin no mínimo duplicou, mesmo com uma queda de 80% nos preços e com uma redução das receitas dos mineradores, que era de mais de US$ 40 milhões e foi para apenas US$ 6-7 milhões para a mesma quantidade de BTC.
Os nós de Bitcoin são outra parte indispensável do ecossistema das criptomoedas. Os nós ajudam a validar e propagar os blocos, mantendo a rede segura tanto quanto os mineradores, senão até mais. A execução de um nó é essencial para verificar cada transação de Bitcoin. O número de nós completos é uma boa métrica de indicação de “usuários avançados” de Bitcoin e reflete a força da comunidade.
Gráfico oferecido em cortesia por coin.dance
De acordo com coin.dance, havia um pouco mais de 10.000 nós de Bitcoin no início de 2018 e um pouco menos de 10.000 nesta semana. No início de 2017, durante os primeiros estágios do boom do ano passado, havia apenas 5500 nós na rede, aproximadamente. Portanto, mesmo depois da disparada dos preços e de sua queda, a rede do Bitcoin ainda ganhou 4500 nós no total. O boom adicionou um número significativo de usuários avançados, mas o crash parece não ter eliminado nenhum.
A história é parecida em relação ao valor de transações reais. De acordo com coinmetrics, o valor de transações reais na média de sete dias na rede do Bitcoin teve um pico de US$ 14 bilhões de dólares no final de 2017 e afundou para menos de US$ 1,3 bilhão em dezembro. Com cada token cotado a quase US$ 20.000 no final de 2017, isso equivale a 700.000 BTC; agora, ao valor de aproximadamente US$ 4000 cada um, isso equivale a 325.000 BTC. O volume claramente caiu, mas ainda está longe de ser insignificante.
Ativos pressionados, mas ainda viáveis
No entanto, muitos negócios do criptomercado diminuíram ou fecharam. Notícias dão conta de que 300 negócios do criptomercado no Reino Unido fecharam em 2018, e há informações de que a Consensys, grande estúdio de desenvolvimento de Ethereum, demitirá pelo menos metade dos seus colaboradores.
A Securities and Exchange Commission (SEC), dos EUA, acabou com as expectativas de alguns projetos de criptoativos no último trimestre do ano, e algumas ofertas iniciais de moedas (ICOs) foram alvo de processos por emitir valores mobiliários sem registro. Mesmo assim, ocorreram 650 ICOs em 2018, em comparação com 343 em 2017. Desde as últimas resoluções, no entanto, parece que todo ICO tem um possível risco regulatório.
Claramente, as moedas alternativas estão sob pressão, mas o ativo continua sendo viável. Os investidores deveriam aderir ao mantra da criptoesfera de “agarrar-se desesperadamente” a esses ativos? Estamos convencidos de que não.
Esse mantra se aplica aos “verdadeiros fiéis”, que são indiferentes ao preço (talvez 0,01% da população). Para todos os demais, não existe necessariamente um benefício em persistir com um “bear market”. É preciso ter bom-senso na hora de investir.
Mesmo que alguém reconheça o potencial das criptomoedas – e nós reconhecemos –, por que não realizar lucros parciais em preços mais altos e comprar cinco vezes mais se os preços caírem? Essa clássica estratégia dos investidores, adaptada à era das criptomoedas, ainda é válida. Não deixe o medo de ficar para trás tomar conta de você. Em vez disso, mantenha a tranquilidade e escolha suas apostas de maneira inteligente.
Clement Thibault é o apresentador do podcast semanal sobre criptomoedas da Investing.com: "Cryptalk", disponível no iTunes e Spotify (NYSE:SPOT).