Alertas de Michael Burry sobre IA não podem ser ignorados

Publicado 26.11.2025, 11:10

Quando Michael Burry aposta contra o consenso, o mercado presta atenção. O investidor que previu o colapso do mercado imobiliário subprime e lucrou mais de US$ 800 milhões enquanto o sistema financeiro desmoronava agora alerta que as ações de inteligência artificial representam a próxima bolha prestes a estourar. O aviso surge no momento em que ele se afasta dos holofotes: em 10 de novembro, segundo registros da SEC, o registro de seu fundo hedge foi encerrado, encerrando também sua obrigação de divulgar relatórios regulatórios.

Introdução

Michael Burry é considerado um dos investidores mais independentes e originais de sua geração. Nascido em 1971, em San Jose, Califórnia, sua trajetória começou marcada por desafios. Aos dois anos, perdeu o olho esquerdo por causa de um retinoblastoma, um tipo raro e agressivo de câncer. A prótese ocular que passou a usar se tornou símbolo de sua diferença e determinação. Mesmo diante das dificuldades, destacou-se academicamente, formando-se em economia pela Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), e posteriormente concluindo residência médica em neurologia.

Durante seus turnos no hospital, Burry usava as poucas horas livres entre as rondas médicas para publicar análises de ações em fóruns online. O conteúdo chamou a atenção de grandes investidores, como Joel Greenblatt, que o apoiou na criação do fundo Scion Capital, em 2000.

Desde o início, seu estilo de investimento foi inconfundível: operava com independência total, ignorando o consenso de mercado. Sua principal arma era a pesquisa. Burry mergulhava em demonstrações financeiras, relatórios e notas de rodapé com obsessão analítica. Adepto do value investing, inspirava-se nos princípios de Benjamin Graham e David Dodd em Security Analysis, defendendo que ativos mal precificados tendem a retornar ao seu valor intrínseco ao longo do tempo. Quando identificava uma empresa negociando a preços muito abaixo de seus fundamentos, tomava posição e aguardava pacientemente o ajuste do mercado.

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A estratégia funcionou. Entre novembro de 2000 e junho de 2008, o Scion Capital obteve retorno líquido de 489,34%, contra menos de 3% do S&P 500 no mesmo período. O lucro bruto dos fundos atingiu 726%.

A grande aposta

Em 2004, Burry já era conhecido por enxergar oportunidades que poucos percebiam, o que lhe rendeu o apelido de “Cassandra” por Warren Buffett, em referência à profetisa grega condenada a prever verdades que ninguém acreditava. Naquele ano, voltou sua atenção para os títulos lastreados em hipotecas (mortgage-backed securities), um segmento negligenciado pela maioria dos gestores.

Aplicando sua metodologia minuciosa, leu prospectos de cada emissão, examinou carteiras de empréstimos linha a linha e analisou a estrutura das securitizações. Identificou padrões de fragilidade: hipotecas com taxas promocionais temporárias que, após o reajuste, se tornavam impagáveis; e critérios de crédito cada vez mais frouxos, com bancos aprovando empréstimos sem comprovação adequada de renda.

Esses créditos, em grande parte subprime, eram empacotados em títulos lastreados em ativos (ABS) e divididos em faixas de risco (tranches). As mais seguras, chamadas AAA, recebiam pagamentos primeiro; as demais absorviam as perdas iniciais. Mas todas dependiam do mesmo conjunto de empréstimos frágeis. Quando os períodos promocionais terminassem, o aumento da inadimplência seria inevitável, e, para Burry, os preços desses instrumentos não refletiam esse risco.

Ele também observou que as agências de classificação de risco ignoravam a deterioração dos empréstimos subjacentes, o que tornava toda a estrutura mais frágil do que o mercado percebia.

Ciente do problema, mas incerto sobre o momento do colapso, Burry buscou uma forma de apostar contra o setor sem sofrer perdas ilimitadas enquanto aguardava o estouro. A solução foi o uso de credit default swaps (CDS), contratos de seguro contra calotes de títulos hipotecários. O comprador paga um prêmio fixo e, em caso de inadimplência, recebe compensação.

Ao estruturar suas posições, Burry evitou negociar com instituições mais vulneráveis, como Bear Stearns e Lehman Brothers, escolhendo contrapartes mais sólidas, como Goldman Sachs, Morgan Stanley, Deutsche Bank, Bank of America, UBS, Merrill Lynch e Citigroup.

Durante quase dois anos, o fundo enfrentou perdas contábeis e forte pressão de investidores, que exigiam o fechamento das posições e até ameaçavam processos. Mesmo assim, Burry manteve a convicção em seus cálculos.

Quando o mercado subprime colapsou em 2007 e o sistema financeiro entrou em crise em 2008, o Scion Capital disparou. Burry lucrou cerca de US$ 100 milhões pessoalmente, e seus investidores ganharam US$ 725 milhões.

Hoje, Burry volta a alertar sobre um novo risco sistêmico: a bolha das ações de inteligência artificial. Assim como na crise de 2008, ele vê avaliações excessivas, concentração de capital em poucos nomes e alavancagem crescente como sinais de euforia. Para o investidor que inspirou o filme A Grande Aposta (The Big Short), a história pode não se repetir, mas rima perigosamente.

Vida após “A grande aposta”

Em 2008, após o desfecho de sua aposta contra o mercado imobiliário, Michael Burry encerrou o fundo Scion Capital e passou alguns anos dedicado a seus investimentos pessoais e à família. Nesse período, ganhou destaque por sua tese sobre a valorização da água. Para ele, a água doce e potável se tornaria um dos ativos mais valiosos do futuro, e o meio mais eficiente de transportá-la não seria por dutos ou navios, mas por meio da agricultura. Burry investiu em fazendas com acesso a fontes seguras de água e também manteve posição constante em ouro, que via como proteção em períodos de desordem monetária ou expansão excessiva da base de dinheiro.

Em 2013, Burry retornou à gestão profissional de recursos e relançou seu fundo sob o nome Scion Asset Management. Em 2019, voltou às manchetes com uma posição contrária em GameStop, meses antes de o papel se tornar protagonista de um dos maiores short squeezes da história. Ele comprou as ações por acreditar que o mercado subavaliava o balanço da empresa. Quando o papel disparou no início de 2021, Burry já havia vendido toda a posição no quarto trimestre de 2020, obtendo lucro de US$ 100 milhões, segundo a Forbes, bem abaixo dos US$ 1,5 bilhão que teria ganho se mantivesse as ações até janeiro de 2021. Ainda assim, sua análise fundamentalista, baseada em valor intrínseco, acabou se confirmando. Entre maio de 2020 e 2023, investidores que acompanharam as posições divulgadas da Scion tiveram retorno anualizado de 56%, contra 12% do S&P 500, segundo a Sure Dividend.

A nova aposta: a bolha da IA

Em novembro de 2025, Michael Burry voltou às manchetes com uma operação que dividiu a comunidade de investidores. Enquanto os mercados globais ainda surfavam a euforia da revolução da inteligência artificial, impulsionados por ações como Nvidia (NASDAQ:NVDA), Palantir (NASDAQ:PLTR) e outras gigantes do setor, Burry decidiu apostar contra essa tendência. Ele abriu posições vendidas robustas, 50.000 opções de venda (puts) em Palantir e 10.000 em Nvidia.

Segundo Burry, o mercado estava precificando demanda ilimitada por capacidade de processamento, margens crescentes sem interrupção e um domínio tecnológico permanente. As avaliações refletiam não apenas lucros atuais, mas a crença de que a IA geraria fluxos de caixa maciços e imediatos em toda a economia.

Poucos dias antes dessa análise, em 19 de novembro de 2025, a Nvidia divulgou lucro trimestral recorde, com receita de US$ 57 bilhões, alta de 62% em relação ao ano anterior. “As vendas da linha Blackwell estão fora de série, e as GPUs em nuvem estão esgotadas”, afirmou o CEO Jensen Huang no balanço.

De acordo com documentos da SEC, as posições da Scion Asset Management somavam US$ 912 milhões em Palantir e US$ 186,5 milhões em Nvidia, valores nominais que não refletem o custo real das opções. Burry explicou na plataforma X (antigo Twitter) que pagou US$ 1,84 por ação nas opções de Palantir, um investimento total de US$ 9,2 milhões. Em 20 de novembro, essas opções já eram negociadas a US$ 2,68. Ele não revelou o custo das opções da Nvidia.

As apostas que não deram certo

Nem todas as previsões de Burry se concretizaram. Em maio de 2017, ele previu um colapso financeiro global e a eclosão da Terceira Guerra Mundial. O S&P 500, no entanto, subiu 14,5% até o fim daquele ano. Desde então, o índice só voltou a níveis inferiores aos da data do alerta em março de 2020, durante a crise da Covid-19.

Em setembro de 2019, disse à Bloomberg que os fundos de índice seriam os novos CDOs, comparando o crescimento dos ETFs e fundos passivos à bolha dos derivativos hipotecários da crise de 2008. Na prática, nada disso se concretizou: os fundos passivos continuaram atraindo fluxos recordes, e o mercado seguiu renovando máximas históricas, salvo pela queda temporária da pandemia, causada, é claro, por fatores distintos de superavaliação.

Em fevereiro de 2021, Burry alertou que “o mercado estava dançando na lâmina de uma faca”, mas o S&P 500 encerrou o ano com alta de quase 27%. Já em janeiro de 2023, publicou no X uma mensagem curta: “sell”. Dois meses depois, recuou: “errei ao dizer para vender”.Fonte: Bloomberg

Na mesma linha, Burry chamou o bitcoin de “bolha que oferece mais risco do que oportunidade” quando a criptomoeda valia US$ 49.500, em fevereiro de 2021. Em junho do mesmo ano, alertou para a “mãe de todos os crashes” em criptoativos, antes de apagar os posts em setembro. O bitcoin, no entanto, atingiu um novo recorde de US$ 69.000 em novembro, antes de cair mais de 75% até o fundo em novembro de 2022. Alguns dizem que Burry estava certo, apenas cedo demais. E, no universo das posições vendidas, a linha entre estar errado e estar cedo é extremamente tênue.

Conclusão

Michael Burry permanece como uma das figuras mais influentes do investimento moderno desde sua aposta histórica contra o mercado imobiliário em 2008, eternizada no filme vencedor do Oscar A Grande Aposta. Mesmo após encerrar o registro da Scion Asset Management e admitir que sua “avaliação de valores mobiliários não está, e não tem estado há algum tempo, em sintonia com o mercado”, ele continua ativo. Em uma recente publicação no X, escreveu: “Rumo a coisas muito melhores em 25 de novembro.”

A única dúvida agora é: qual será seu próximo grande movimento.

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