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Rumos da Taxa de Câmbio

Publicado 10.03.2015, 09:14

Assustou a trajetória do dólar por estes dias. Foi a R$ 3,00/3,05, na maior cotação desde agosto de 2004, no ano se valorizando mais de 13%, no mês mais de 5%.

Causas. Basicamente, esta “esticada” foi e vem sendo causada mais por fatores domésticos do que por externos. Pelo menos, por enquanto. Cabe ressaltar, sobre os externos, que a possível elevação da taxa de juros do Fed parece cada vez mais próxima, ainda mais depois do payroll da sexta-feira passada. Com isto, será inevitável uma readequação da liquidez global ao longo deste ano. Como nosso mercado é muito líquido, as oscilações do real frente ao dólar (maiores), acabarão inevitáveis.

Domésticos. Sobre estes fatores, além da piora dos fundamentos econômicos, devemos destacar os embates entre governo e PMDB no Congresso. Desde a posse de Eduardo Cunha, deputado do PMDB, como presidente da Câmara, isto vem sendo uma rotina. Algumas decisões dele foram tomadas visando confrontar o governo. O Orçamento Impositivo, por exemplo, que dá aos políticos um maior poder para tramitação das suas emendas, foi um deles. Agora, diante da confirmação de que ele e Renan Calheiros estariam na lista de Rodrigo Janot, o segundo, também do PMDB e presidente do Senado, tratou de atrasar a MP 669 que trata da elevação das alíquotas de setores desonerados na folha de pagamentos, devolvendo-a ao Executivo. Cometeu um ato político e arbitrário visto que, pelas normas da casa, esta MP ainda deveria ser apreciada por uma Comissão para então ser devolvida ao executivo ou enviada para votação no Congresso. As MP anteriores, 664 e 665, que tratam da readequação dos benefícios previdenciários e trabalhistas, já estão em Comissão e muitos acham que devem também ser “devolvidas” ao Executivo para ajustes.

O fato é que as medidas fiscais, formuladas pela equipe do ministro Joaquim Levy, enfrentam obstáculos para serem aprovadas nas duas casas do Legislativo (Congresso e Senado). Dificilmente, o ajuste esperado, de saldo primário de R$ 111 bilhões neste ano, proporcionando superávit em torno de 1,2% do PIB, será possível. Correções vindas do Legislativo, são inevitáveis.

Embora a capacidade de manobra de Levy seja limitada, já que a economia brasileira não deve crescer neste ano, afetando a arrecadação federal, outras medidas já começam a ser pensadas. Comenta-se sobre a possibilidade de taxação sobre heranças e doações, um maior controle sobre a capacidade de endividamento dos estados e municípios, até no esforço de resgatar a LRF, tão vilipendiada pelo Executivo, além de novas taxações no mercado de ativos, como sobre as LCIs e LCAs.

Efeitos do câmbio depreciado. É importante destacar o efeito deste dólar valorizado sobre a inflação. Isto, aliás, ajuda a explicar a decisão do Copom, na reunião da semana passada, em elevar a taxa de juros em 0,5 ponto percentual, a 12,75%. Não podemos deixar de citar também o realinhamento tarifário em curso (em março, energia elétrica foi reajustada em 23,4%), a alta do grupo Educação e outros choques de oferta ou agrícolas, previsíveis ou não, gerados por fatores climáticos.

Muito se comenta que o dólar pode até passar do atual patamar caso este imbróglio político se aprofunde. Neste caso, é importante sabermos que políticos foram envolvidos na operação Lava Jato e como deve transcorrer a CPI da Petrobras.

Além disto, o impacto sobre a dívida cambial das empresas também deve ser considerável, assim como acabará ocorrendo um “barateamento” dos ativos brasileiros, o que pode ser positivo por estimular o ingresso de novos investimentos externos diretos.

Sobre a balança comercial e, por tabela, os dados externos, ainda não podemos observar a repercussão deste dólar valorizado. Talvez, no caso da balança comercial, e na comercialização de bens manufaturados, isto se explique pela volatilidade da moeda norte-americana, o que tende a colocar os exportadores numa postura mais cautelosa.

A balança comercial de fevereiro registrou déficit de US$ 2,82 bilhões, acumulando no ano saldo negativo de US$ 6,01 bilhões. Neste, as exportações recuaram 13,1% pela média diária, contra o mesmo bimestre de 2014, mesma variação negativa para os manufaturados, sensíveis às alterações do câmbio.

Caso este patamar da moeda norte-americana se estabilize nos R$ 3,00 e as tensões políticas domésticas se dissipem, é possível que a balança comercial reaja. Interessante que a Focus, por exemplo, na crença da demanda externa em recuperação, acredita num superávit comercial neste ano de US$ 5 bilhões.

Devemos salientar também que o saldo em conta corrente, pelos dados de janeiro, em 12 meses, foi US$ 90,3 bilhões, 4,17% do PIB, e também deve esboçar alguma reação, não apenas pelo lado da balança comercial, mas também pela conta de serviços, com a redução das despesas com viagem internacional.

Pelo lado do saldo cambial, uma suave melhoria ocorreu no comercial de fevereiro, passando de negativo de US$ 215 milhões em janeiro para positivo em US$ 567 milhões. Isto, no entanto, acabou insuficiente para compensar a saída de divisas pelo lado financeiro em fevereiro, talvez refletindo o impasse no front político. Nem o diferencial de juro interno e externo, considerável atualmente, foi suficiente para atrair recursos. Em fevereiro, esta conta foi negativa em US$ 1,71 bilhão, contribuindo para o saldo negativo mensal total de US$ 1,14 bilhão.

Próximos meses. É difícil prever o que deve acontecer com a taxa de câmbio. Muitos acham que pode chegar a R$ 3,50, mas isto são apenas conjecturas geradas pelo momento volátil. Dois fatores são decisivos para definir este cenário, a capacidade de negociação do governo em conseguir aprovar o ajuste fiscal no Congresso, algo complicado neste momento, mas que pode se desenrolar nas próximas semanas, e os rumos da política monetária do Fed. Sobre esta, o payroll melhor do que o esperado em fevereiro, divulgado nesta sexta-feira, acabou servindo para turbinar ainda mais o dólar, indo a R$ 2,05.

Isto, portanto, nos leva a crer que o patamar do dólar mudou, não mais em torno de R$ 2,50 e R$ 2,90, mas agora entre R$ 2,90 e R$ 3,50, não sendo surpresa se num overshooting passar disto. Devemos salientar que os sinais emitidos pela equipe econômica são de que a estratégia de política cambial atual, de intervenções do BACEN, através da venda de swap no mercado futuro, deve ser esvaziada, com a moeda norte-americana deslizando ao sabor do mercado.

Importante será também que as medidas fiscais do ministro Levy, depois de algumas aprovadas no Congresso, gerem efeitos favoráveis sobre as contas públicas. Em janeiro, com ajuste de estados e municípios, o saldo primário foi positivo em R$ 21,1 bilhões, em 12 meses em torno 0,61% do PIB negativo, contra 0,64% em dezembro, o que não deixa de ser um pequeno alento. Até o final do ano, o saldo primário terá que se tornar positivo em torno de 1,2% do PIB, o que deve representar um esforço de R$ 111 bilhões.

Não será nada fácil, mas caso deixem a equipe econômica trabalhar, pode se tornar factível.

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