Sanções dos EUA a petrolíferas russas podem desestabilizar o mercado?

Publicado 24.10.2025, 10:26

As novas sanções impostas pelos Estados Unidos ao setor de petróleo da Rússia representam uma mudança relevante na postura do governo Trump em relação a Moscou e podem ter efeitos amplos sobre o mercado global de energia. O impacto nos preços dependerá diretamente da eficácia das medidas em afastar refinarias da compra de petróleo russo.

EUA sancionam duas grandes produtoras russas de petróleo

Os preços do petróleo subiram com força nesta semana depois que o governo Trump anunciou sanções contra as produtoras russas Rosneft e Lukoil, as primeiras medidas diretas contra o país nesta segunda gestão presidencial. O anúncio ocorreu após o cancelamento de uma cúpula entre Trump e Putin em Budapeste, frustrando o presidente americano pela falta de avanços nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.

Juntas, Rosneft e Lukoil respondem por mais de 5 milhões de barris por dia (bpd), cerca de metade da produção total da Rússia, o que confere às sanções potencial de causar forte disrupção na oferta global.

Não é a primeira vez que Washington atinge o setor de energia russo. Em janeiro, pouco antes da saída de Joe Biden da Casa Branca, foram sancionadas Gazprom Neft e Surgutneftegas, além de parte significativa da frota paralela de petroleiros do país. Naquele momento, o temor inicial de cortes de oferta não se confirmou, e o fluxo de petróleo russo seguiu praticamente inalterado.

As novas restrições entram em vigor em 21 de novembro de 2025, concedendo um período de encerramento gradual de transações com Rosneft e Lukoil e todas as suas subsidiárias com participação igual ou superior a 50%.

O mercado teme que compradores sejam penalizados por manter relações comerciais com essas empresas, o que pode ameaçar uma parcela relevante da oferta russa de petróleo.

Por que os EUA decidiram agir agora?

Além da crescente frustração de Trump com Putin, as condições do mercado de petróleo abriram espaço para uma postura mais agressiva. Antes das sanções, as projeções apontavam para superávit de oferta até o fim de 2025 e durante 2026, pressionando os preços, com o Brent sendo negociado próximo de US$ 60 por barril. Nesse contexto, o governo viu oportunidade para impor sanções sem risco imediato de escassez, aproveitando a percepção de abundância de oferta global.

Impactos esperados sobre os fluxos de petróleo russo

O ponto central para o mercado é avaliar quanto as sanções realmente afetarão as exportações russas, tanto de petróleo bruto quanto de derivados. A Rússia exporta cerca de 4,5 milhões de bpd de petróleo cru e 2,5 milhões de bpd de produtos refinados, sendo 1 milhão de bpd em diesel. Esse cenário explica a alta recente nas margens do gasóleo da ICE, diante do receio de aperto adicional no mercado de destilados médios.

Nos últimos dias, refinarias têm buscado alternativas no Oriente Médio, como mostra o colapso do spread Brent–Dubai, impulsionado pela valorização do petróleo de Dubai.

A China permanece como principal compradora, absorvendo cerca de 2 milhões de bpd, tanto por oleoduto quanto por transporte marítimo. Já a Índia tem importado em torno de 1,5 milhão de bpd, enquanto Turquia, Hungria e Eslováquia, que receberam isenções da União Europeia, continuam fortemente dependentes do fornecimento russo via o oleoduto Druzhba.

Os maiores focos de atenção recaem sobre China e Índia. Em Nova Délhi, já há relatos de refinarias buscando petróleo alternativo no Oriente Médio, até porque o país enfrentava tarifas secundárias sobre a importação de petróleo russo mesmo antes dessas sanções. Assim, a redução do fluxo para a Índia parece inevitável.

Na China, algumas refinarias estatais cancelaram compras após o anúncio, mas o fluxo deve permanecer mais resiliente, podendo até aumentar caso a Índia suspenda as aquisições, já que Pequim tende a aproveitar descontos mais agressivos no barril russo Urals.

Compradores menores, como Hungria, Eslováquia e Turquia, também podem buscar alternativas, embora os dois primeiros países devam pedir isenção às sanções, citando dificuldades logísticas por serem nações sem acesso ao mar.

O mercado, contudo, mantém ceticismo quanto à eficácia real dessas medidas. A Rússia tem demonstrado capacidade de manter o fluxo de exportações mesmo sob embargos e restrições desde 2022. A reação moderada dos preços reforça essa percepção: o Brent subiu pouco mais de 5% no dia do anúncio, movimento considerado contido diante do risco potencial de perda de oferta.

Isso muda o panorama do mercado de petróleo?

Ainda há grande incerteza sobre o real impacto das sanções nas exportações russas, e, portanto, sobre o equilíbrio global entre oferta e demanda.

Antes das medidas, o cenário era predominantemente baixista, com projeção de preço médio do Brent em US$ 57 por barril em 2026, refletindo o excedente esperado de produção. Por ora, as estimativas permanecem inalteradas até que haja clareza maior sobre os efeitos das sanções.

Mesmo assim, a guinada da política americana e a possibilidade de novas restrições sugerem que o piso de preços do mercado pode se elevar.

Se o fluxo russo for realmente afetado, é possível que o Brent avance para a faixa de US$ 70 a US$ 75 por barril, considerando uma perda aproximada de 1,5 milhão de bpd, volume equivalente ao fornecimento total à Índia.

Outro fator determinante será a resposta dos países da Opep+. Desde abril, o grupo tem restaurado parte da produção cortada anteriormente, e uma eventual queda nas exportações russas abriria espaço para o cartel utilizar sua capacidade ociosa, limitando a pressão altista sobre os preços.

Aviso legal: este conteúdo foi produzido pela ING apenas para fins informativos. Não constitui recomendação de investimento, oferta de compra ou venda de ativos financeiros, nem aconselhamento jurídico ou tributário.

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