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Selic: Hora da Verdade

Publicado 11.03.2021, 09:09
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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Na próxima semana, o Banco Central terá que tomar uma decisão espinhosa: fixar a taxa de juros de curto prazo, a Selic.

As vozes do mercado clamam por uma elevação. Os mais recatados, de 0,5 ponto de porcentagem, elevando-a para 2,5% ao ano. Mas há gralhas que consideram 0,75 de aumento um piso para a próxima decisão. Há até alguns xiitas ousando propor 1 ponto de aumento.

Por detrás do alarido, dois fatos incontestáveis: pressionado por desvalorização cambial assombrosa e pela subida dos preços internacionais de commodities, os preços no atacado do IGP-M acumulam alta de cerca de 30%, nos últimos 12 meses. Como o quadro político é conturbado pelas estrepolias do Presidente, há grande incerteza sobre o compromisso da atual gestão com a modernização do País. Tudo somado, há uma expectativa de alta generalizada dos preços, que redunda em negociação a juros crescentes das taxas futuras.

Consequentemente, há um descasamento entre a postura do Banco Central, mantendo juros básicos em 2 por cento e o que o mercado espera que ele faça para coibir uma pressão inflacionária evidente. Segundo os arautos do mercado, somente dando uma demonstração cabal de conservadorismo, a Autoridade Monetária recuperaria a confiança da sociedade, “ancorando” novamente as expectativas inflacionária e assim colaborando para a redução das taxas futuras de juros.

Que diz a boa Teoria Econômica sobre estas considerações?

A pressão sobre preços atual decorre de fenômenos ligados à Oferta. Ruptura de cadeias produtivas, escassez de produção, logística desestruturada, enfim efeitos da pandemia sobre os quais nenhum banco central tem como agir. Se estivéssemos vivendo sob o regime de indexação, como foi até o Plano Real, estas pressões de custos já teriam resultado em reajustes salariais e de preços, regidos por legislação, e se transformariam em pressão de demanda.

Aí sim, o Banco Central seria chamado a agir para evitar que a demanda referendasse a pressão de custo. Hoje, com preços livres e em meio a uma recessão, a restrição orçamentária das famílias e empresas desempenha este papel com competência. Haja vista que a pressão agressiva de índices de preço no atacado não produziu movimento sequer parecido nos preços aos consumidores.

Não há perspectiva de excesso de demanda na economia; na verdade, todos os índices de recuperação da atividade estão laceando e o pacote de auxílio que aí vem compensará apenas parcialmente o que se perderá de poder aquisitivo. Implementar um pacote fiscal antirrecessão, ao mesmo tempo em que se sobe juros para conter a demanda agregada, seria um caso de esquizofrenia tropical.

Os últimos dados de preço já mostram um arrefecimento destas pressões no atacado, desde dezembro. Como a ação de um banco central tem uma defasagem com a colheita de resultados de 6 a 18 meses, uma alta de juros hoje iria atuar sobre uma realidade onde a pressão de oferta teria sido absorvida na cadeia produtiva naturalmente. Infelizmente, os índices de preços ao consumidor dos 12 meses anteriores, nos próximos meses estarão em alta significativa, chegando a 7 por cento ao ano. Isto porque no primeiro trimestre do ano passado, tivemos deflação: então, saem da base de cálculo do acumulado índices com taxas negativas e entram índices cadentes, mas ainda positivos. Seria idiotice subir juros porque a inflação de 12 meses passados está subindo, quando a de 12 meses à frente, estará caindo.

Quanto ao argumento de subir juros para reverter a desvalorização cambial, nem valeria a pena elaborar. Há uma restrição matemática: se há uma variável a ser otimizada, é necessária uma variável instrumento; se houver duas variáveis a otimizar, dois instrumentos e assim sucessivamente. O Banco Central tem só a política de juros como instrumento, que deve ser mobilizada para combater a inflação. Com cerca de US$ 350 bilhões de reservas, saldo comercial de mais de US$ 50 bilhões, cogitar de estarmos numa crise cambial real é excesso de imaginação; o que há é um frenesi pessimista doméstico, provocado pela pandemia se alastrando, lentidão na vacinação, desconfiança fiscal e decepção com o compromisso pró-mercado do Presidente

O que nos remete ao último argumento a favor da elevação da Selic: a insegurança política afetando as expectativas. Aí sim, há muito a fazer pelo Governo, sem recrutar a política monetária: unificar esforços no combate ao vírus e intensificar o diálogo promissor com o Parlamento. Seria bom se o rei da Espanha dissesse ao nosso Presidente: “por que não te calas?” ou, pelo menos, que Bolsonaro parodiasse Galvão Bueno e, antes de intervir desastradamente na economia, perguntasse: “pode isso, Guedes?”

Mas seria lamentável vermos o Banco Central elevar a Selic abruptamente para tranquilizar histerias de mercado, à revelia dos ensinamentos econômicos, aleijando a recuperação da oferta de que necessitamos e elevando o déficit fiscal pela conta de juros, ao tentar, inutilmente, compensar bom senso político por truculência monetária.

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