Por Rodrigo Leite e Matheus Moura
Como estamos em um mês eleitoral, as famosas Fake News estarão presentes a fim de influenciar a tomada de decisão dos eleitores indecisos. Estudos passados já documentaram que programas de TV afetam os votos de eleitores [1], enquanto uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center for the People and the Press, revela que 21% dos indivíduos entre 18 e -29 anos regularmente assistem regularmente programas satíricos de televisão para obter informações sobre a política presidencial [2].
A desinformação tem sido características da comunicação desde pelo menos os tempos romanos, quando Júlio César conheceu Cleópatra. Registros históricos sugerem a existência de propagandas falsas feitas por César contra a reputação de Marco Antônio gravadas em moedas em 44 A.C. [3]. Todavia, essa nova versão que chamamos de Fake News é diferente. A ascensão da internet e das redes sociais tornou possível que qualquer um pudesse realizar um comentário com potencial de alcançar milhões em questão de minutos. Enquanto isso engrandece a sociedade quando feita com a correta responsabilidade social. O, o poder da palavra para multidões também pode ter efeitos devastadores a vida de milhões. Exemplo recente foi o “hackeio” da conta do Twitter da Association Press, em 2013. Foi escrito que a Casa Branca havia sido bombardeada e que o Presidente Obama tinha sido ferido. Em questão de cinco minutos o S&P 500 caiu 1%, levando aproximadamente 130 bilhões de dólares consigo.
Apesar do ocorrido e outros exemplos sobre o Fake News e manipulação de mercado, o que continua sendo um campo pouco explorado e de grande relevância é se essas mesmas Fake News, quando usadas para denegrir ou enaltecer uma empresa, conseguem afetar o mercado sistemicamente a fim de beneficiar um pequeno grupo de investidores. Será que, partir de uma simples postagem em uma rede social ou blog, investidores (profissionais e não profissionais) são levados a esquecer os fundamentos e a acreditar que o fluxo de caixa futuro de uma empresa será afetado? Será que Robert Shiller [4] está correto ao afirmar que dicas de investimentos se espalham como epidemias entre investidores, criando uma exuberância irracional? Ou será que Eugene Fama [5] estava sempre correto com seu trabalho na teoria do mercado eficiente? Eis a batalha entre aqueles que acreditam que o mercado é eficiente e aqueles que creem que seres humanos possuem vieses que influenciam nas suas tomadas de decisões financeiras, tais como aversão ao risco, viés de ancoragem, viés da confirmação, entre outros.
A fim de responder esses questionamentos e trazer maior conhecimento e segurança para o mercado, realizamos um estudo onde investigamos a resposta do mercado frente as Fake News. Dada a robustez do mercado e participação no mercado de ações, analisamos o Estados Unidos e as Fake News feitas pelos ex-presidentes Donald Trump e Barack Obama [6].
Enquanto ambos os presidentes realizaram comentários verdadeiros e falso ao longo de seus mandatos, o mercado parece responder de maneira diferente dado o emissor. Enquanto as Fake News feitas pelo Obama não afetavam o mercado de uma forma geral, as Fake News feitas pelo Trump correspondiam por uma queda de 0,6% no preço das ações. Pior, quando as Fake News eram negativas (denegriam a imagem de uma indústria ou empresa), o preço das ações chegava a cair mais de 1% em até três dias após o comentário ser feito.
Portanto, não só fica demonstrado que as Fake News influenciam o mercado, mas que o que importa mais ainda é o emissor: a depender da credibilidade e da reputação de quem está emitindo as fake News o mercado reage de forma diferente.
Tal literatura precisa ainda ser mais explorada e novos especialistas investigarão seus efeitos em mercados locais ao longo dos anos. No entanto, a pergunta mais eminente que fica entre nós continua sendo: Será que nossas carteiras estão preparadas para os próximos meses?
*Rodrigo Leite é Professor Adjunto de Finanças e Contabilidade Gerencial do COPPEAD/UFRJ e Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2022-2025). É Doutor e Mestre em Administração pela EBAPE/FGV e Contador formado na FAF/UERJ.
**Matheus Moura é Consultor da Fundação COPPETEC. É Doutorando e Mestre pela EBAPE/FGV e Contador.
Referências
[1] Holbert, R. Lance, Lambe, Jennifer L., Dudo, Anthony D., Carlton, Kristin A. 2007. Primacy Effects of The Daily Show and National TV News Viewing: Young Viewers, Political Gratifications, and Internal Political Self-Efficacy. Journal of Broadcasting & Electronic Media. Volume 51,- Issue 1. DOI: https://doi.org/10.1080/08838150701308002
[2] Bauer, D. (2004, March 1). And now the news: For many young viewers, it’s Jon Stewart. Associated Press. Retrieved July 15, 2004, from the Lexis-Nexis database
[3] Posetti, Julie, Matthews, Alice. 2018. A short guide to the history of ’fake news’ and disinformation. International Center for Journalists. https://www.icfj.org/sites/default/files/2018-07/A%20Short%20Guide%20to%20History%20of%20Fake%20News%20and%20Disinformation_ICFJ%20Final.pdf >
[4] Shiller, Robert J., 2000, Irrational Exuberance. Princeton University Press, Princeton, NJ.
[5] Fama, Eugene F. 1970. Efficient Capital Markets: A Review of Theory and Empirical Work. The Journal of Finance. 28-30, pp. 383-417. DOI: https://doi.org/10.2307/2325486
[6] Behr, Patrick, Leite, Rodrigo, Moura, Matheus. Can Fake News Impact the Stock Market. Evidence from Politicians’ Statements.