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Setor Elétrico: Racionamento com Ternura

Publicado 17.06.2021, 09:39
Atualizado 09.07.2023, 07:32

Níveis perigosamente baixos dos reservatórios levam o governo a buscar mitigar a escassez de energia que se avizinha. Vejamos as opções concebíveis.

Iniciemos com o caso da escassez orgânica. A demanda de um setor tem crescimento continuado, exigindo dinamicamente novos investimentos na expansão da capacidade. O mercado resolve este desafio com elegância: a escassez induz elevação de preço e lucro dos operadores, capitalizando-os para efetuar a expansão, reequilibrando a oferta à procura crescente.

Passemos agora para o mundo das rupturas. Suponha que ocorreu uma escassez transitória, requerendo que se intervenha temporariamente.

Uma primeira opção truculenta seria impor um racionamento: se haverá uma deficiência de oferta de, digamos, 30%, entrega-se 30% a menos para cada consumidor e mantem-se o mesmo preço. De sabor soviético, esta solução trata todos os consumidores igualitariamente, independentemente da percepção individual de importância que aquele produto tenha: em nome da justiça social, gera-se o máximo de desarticulação da produção, engessamento dos usuários e com mais recessão do que seria inevitável.

Outra solução simplista seria aumentar o preço: com base na elasticidade da demanda, calcula-se qual o aumento de preço que gera uma redução almejada e impõe-se tal reajuste. Ao contrário do modelo anterior, a oferta existente vai ser comprada por quem se dispuser a pagar mais, o que levará a um ajuste de PIB mais eficiente do que na opção soviética. Entretanto, os mais vulneráveis, sejam famílias e empresas, sofrerão mais: eles terão que diminuir o consumo do bem escasso, atingidos em cheio pelo encarecimento e ficando numa situação bem pior do que anteriormente. Ora, dirão os devotos da Mão Invisível, é isto mesmo, mera aplicação de Darwin na economia, quem pode mais, sofre menos. Mitiga-se o impacto sobre o PIB, mas eleva-se o custo social.

Na busca de uma solução de mercado socialmente mais aceitável para a falta de chuvas que nos afeta, é preciso entender a natureza do caso brasileiro. Quando de situação semelhante ocorrida no Governo FHC, houve em esforço governamental louvável de estimular a construção de termoelétricas, mais custosas, mas blindadas contra a aleatoriedade do regime de chuvas. De fato, somos privilegiados por um relevo que nos permite gerar o grosso da nossa energia pela força hidráulica, a forma menos poluidora da atmosfera e de custo operacional mais baixo: uma vez construída a barragem, os custos anuais são negligíveis, comparados às alternativas. Inteligentemente, então, a demanda é atendida recrutando-se primeiramente o potencial hidráulico de geração e, adicionalmente as termoelétricas.

Vale dizer, graças à capacidade ociosa das termoelétricas, a ameaça de não termos energia é remota. O problema é que, com a deficiência do suprimento hidráulico imposta pela seca, mais e mais termoelétricas são recrutadas e o custo de produção delas é crescente, trazendo um aumento progressivo da tarifa. Há energia, mas com impacto inflacionário crescente.

Uma forma de atenuar este impacto inflacionário seria penalizando mais pesadamente a demanda de pico, pois as termoelétricas operam mais intensamente nos horários de concentração de consumo, a custos extravagantes. Verdade, se a política tarifária for mais punitiva nestes horários, empresas e famílias serão tangidas a mudar seus hábitos de produção e consumo, deslocando-se para momentos de mais baixa demanda, evitando o recrutamento das termoelétricas e diminuindo o impacto inflacionário do contingenciamento. 

A solução anterior, entretanto, vai continuar consumindo as parcas reservas dos reservatórios a ritmo incompatível com as chuvas e, perdurando a seca, poderemos chegar efetivamente a não ter energia hidráulica e sermos forçados a um racionamento dramático.

Se o desequilíbrio entre oferta e procura decorresse de um excesso de demanda, pouco haveria a acrescentar à solução de mercado inicialmente descrita, pois a receita crescente do produtor é a fonte de novos investimentos que reequilibrarão o mercado. Mas o caso atual é um problema transitório, emergencial que não precisa induzir crescimento de capacidade, basta reduzir momentaneamente a demanda.

 Isto sugere a aplicação de um modelo mais sofisticado e de sucesso no passado: dar a cada consumidor, indivíduos ou empresas, mais flexibilidade no seu ajuste. Simplificadamente, suponha que a demanda agregada por energia deva cair 30% e que um aumento linear de tarifa de 25% promova o equilíbrio. O reajuste é decretado, mas com uma ressalva: ele é valido para quem consumir neste mês o mesmo volume consumido por ele no mesmo mês há um ano. Para cada porcentagem de redução deste nível balizador, o consumidor desfrutaria de um desconto, crescente quanto maior for a economia proporcional alcançada; simetricamente, se o consumidor ultrapassar o seu consumo referencial do ano passado, incorrerá em um sobre-preço, também crescente com o consumo adicional incorrido. Tudo se passa como se o sistema outorgasse a cada consumidor o direito de comprar ou “vender” energia, pois mudando seus hábitos de consumo familiar ou o processo produtivo de sua empresa, cada um poderia escolher quanto do reajuste ele está disposto a aceitar. 

Neste modelo, a eficiência produtiva é preservada, os reservatórios serão exauridos a ritmo tolerável e cada consumidor poderá escolher entre pagar e continuar a consumir ou defender-se do confisco de renda imposto pelo reajuste, moderando seu consumo.

Últimos comentários

Se houvesse estimulo, com placas solares mais baratas, pra que cada residencia/Condominio pudesse captar energia solar, e repassar o excedente pra concessonaria teriamos uma reducao drastica no consumo, pela populacao.
PRIVATIZA TUDO, QUE VOLTA A CHOVER KKKKK
que falta faz a Eletrobrás integra . as privadas investem pouco e onde é mais vantajoso.
Esse acordou com vontade de falar merda hj. Que Incoerência na sua fala. Investe onde é mais vantajoso é dizer que investi onde é mais eficiente, e isso, pelo que sei não é ruim.
Se houvesse o mínimo de investimentos não teríamos risco de falta de energia, vários anos não se investi  1 real, total falta de previsão, e vale lembrar que crescimento precisa de energia.
O problema da falta de energia se dar pela falta de chuva e não de investimento.
  Agua não é a única fonte de energia elétrica, existe eólica,solar, nuclear, etc, etc. Mas houve falta de construção de usinas, linhas e interligação com a região norte que está capenga, aliás norte que tem muita chuva.
análise interessante, parabéns!
Nao creio que seja apenas sazonal . O Brasil nao pode crescer em nivel razoavel sem considerar crescimento no novel de oferta de Energia. Alem de contencao no pico no momento atual eh necessarily considerar expansao da oferta. Eolica?? Solar?? Termo a gas?? Muitas alternativas a serem consideradas.
“Se a gente não cuidar, como a gente vai viver”, fala de uma pescadora. Se explorarmos ao maximo nossos recurso hídricos ou de qualquer natureza, em detrimento de muitos, ou seja de se nao cuidarmos de nossos recursos, sempre estaremos atacando as consequências, não as causas. Chega dessa gente incompente, antes que paga-se mais ainda um preço alto.
Excelente analise, ponderada e coerente. Parabens Dr.
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