A soja disparou em 12 das últimas 16 semanas, atingindo níveis vistos pela última vez em junho, e seus fundamentos e gráficos apontam para um avanço até US$16 por bushel, em meio à alta da inflação nos Estados Unidos.
Depois que o barril de petróleo americano alcançou US$90 na quinta-feira, pela primeira vez desde 2014, o complexo soja tornou-se outro fator de pressão dos preços, gerando ainda mais dores de cabeça para um Federal Reserve às voltas com uma inflação na máxima de 40 anos.
Desde o início de 2020, a soja, matéria-prima essencial para diversos produtos, desde alimentos até materiais de construção, lubrificantes e artigos domésticos, já disparou mais de 17%.
O farelo de soja, que serve de ração animal, também acumula alta de 17% no ano.
Já o óleo de soja sobe 7%. Essa alta também se deve à demanda por biodiesel, cujos preços acompanham os do petróleo e do diesel com teor ultrabaixo de enxofre, que se valorizaram 21% e 22%, respectivamente.
Cumulativamente, o complexo soja apresenta o melhor desempenho entre as commodities, após energia e metais.
No pregão de quinta-feira na Chicago Board of Trade, o contrato futuro da soja para março fechou a US$15,56 por bushel, seu preço mais alto desde meados do ano passado. A última vez em que o grão foi negociado acima de US$16 foi em junho.
“Após superar o patamar de US$15, os gráficos mostram que o caminho para US$16 está aberto”, disse Bryan Strommen, trader da Progressive Ag, em Fargo, Dakota do Norte, em uma entrevista ao periódico setorial Grainews, na terça-feira.
A soja e suas variantes dispararam com poucos pontos de parada entre junho de 2020 e abril do ano passado por conta de interrupções na produção forçadas pela pandemia de coronavírus. A última corrida de alta, no entanto, deveu-se em grande medida às condições climáticas adversas que impactaram gravemente as plantações no Brasil, maior produtor mundial da soja.
“Nas últimas três semanas os mercados tentaram se ajustar à realidade de uma produção menor na América do Sul, em meio ao crescimento da demanda”, disse a consultoria agrícola Hueber Report, em um comentário publicado na quarta-feira.
Jack Scoville, analista-chefe de mercados agrícolas do Price Futures Group, Chicago, tem uma visão similar.
Em suas palavras:
“Os dados divulgados pelo ministério de agricultura do Brasil sugerem que a produção total do país será de 125 a 127 milhões de toneladas, o que está de acordo com as expectativas de alguns analistas aqui nos EUA. No início da safra, a projeção era de algo em torno de 150 milhões de toneladas para o Brasil, portanto houve cortes drásticos que podem aumentar ainda mais a demanda pela soja dos EUA no futuro”.
Scoville disse que a Argentina, outro grande produtor de soja na América do Sul, enfrentava um clima extremamente quente e seco, o que não estava ajudando as plantações.
As exportações de soja dos Estados Unidos, enquanto isso, estão bastante aquecidas, como mostram os dados do USDA, departamento agrícola americano. As remessas de dos EUA para o exterior na semana até 27 de janeiro foram de 1.977.400 toneladas para safras novas e antigas, acima das expectativas do setor.
As vendas semanais da safra antiga de farelo de soja dos EUA totalizaram 605.500 toneladas, culminando em um ano de comercialização também acima das expectativas do setor.
Em relação aos gráficos, a soja estava bem posicionada para atingir US$16, disse o analista técnico Sunil Kumar Dixit. Ele disse ainda:
“O sólido suporte a US$12 abre espaço para que a soja teste o topo de US$16,67 atingido em junho. Agora, estamos a apenas 100 pontos de distância desse alvo. Se os três soldados brancos do gráfico semanal continuarem marchando para frente, a soja em breve alcançará US$16,67”.
Dixit, no entanto, alertou que um restete de US$16,67 poderia ser seguido de uma distribuição capaz de gerar uma correção de 10%-15%, fazendo a soja voltar para o nível de suporte horizontal de US$15-14.
Em suas palavras:
“Depois que os preços corrigirem para o nível de US$14, referente à retração de 50% de Fibonacci medida de US$11,70 a 16,67, a soja pode embarcar em mais uma jornada de alta”.
“A leitura sobrecomprada do gráfico diário de 99/99 sinaliza uma correção iminente, o que é confirmado pela leitura do estocástico do gráfico semanal. No médio prazo, a leitura de 42/24 no gráfico mensal é bastante altista e indica a possibilidade de os preços alcançarem o topo de US$17,88 de setembro de 2012.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.