PERSPECTIVA DE 2023 - O bom desenvolvimento das lavouras da América do Sul passa a ser fundamental para que se confirmem as atuais estimativas indicando crescimento da oferta mundial da 2022/23 em taxa superior à da demanda, o que, por sua vez, favorece a recuperação parcial dos estoques. A relação estoque/consumo deve completar quatro safras entre 26,3% e 27,5%, o que é considerado baixo, depois de ter ficado três temporadas seguidas (2016/17, 2017/18 e 2018/19) na média de 30%. Diante disso, qualquer redução da estimativa de oferta da América do Sul poderá ter efeitos negativos expressivos sobre os estoques. No Brasil, a temporada 2022/23 se inicia com incertezas. Diante dos baixos estoques, produtores estão resistentes em comercializar a safra 2022/23 de forma antecipada – agentes consultados pelo Cepea sinalizam que apenas aproximadamente 20% da temporada foi negociada, o que pode deixar a disponibilidade no spot nacional maior, à medida que a colheita avançar. No campo, o clima desfavorável na Argentina e no Paraguai gera otimismo para os agentes nacionais, que esperam maior demanda global por derivados de soja do Brasil. Por enquanto, a safra brasileira é estimada pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) em volume recorde, de 152,71 milhões de toneladas. Em Mato Grosso, maior produtor nacional, a colheita está estimada em 42,53 milhões de toneladas pela Conab, seguido pelo Paraná, com 20,84 milhões de toneladas, e Rio Grande do Sul, com 20,22 milhões de toneladas. Sojicultores destes estados, no entanto, indicam que a produtividade possa ser reajustada negativamente, devido às chuvas irregulares.
A Conab projeta que 52,74 milhões de toneladas de soja devem ser destinadas ao esmagamento no Brasil, resultando em aumentos de 6,68% nas produções do farelo de soja (40,38 milhões de toneladas) e 7,45% de óleo de soja (10,75 milhões de toneladas). A Companhia aponta aumentos de 1,12% no consumo doméstico de farelo de soja e de 23,69% no de óleo. A maior demanda interna por óleo está atrelada à expectativa de crescimento na mistura obrigatória do biodiesel ao óleo diesel – atualmente, a taxa está em 10%, mas o setor acredita que passe para 15% a partir de março. A Conab aponta que o Brasil deverá exportar 93,90 milhões de toneladas de soja em grão em 2023, 19% a mais que o volume embarcado em 2022. Já para os embarques dos derivados, que foram recordes em 2022, a Companhia indica queda de 1,8% para o farelo de soja (somando 20 milhões de toneladas) e de 31% para o óleo de soja (totalizando 1,8 milhão de toneladas). O estoque final da soja em grão é estimado em 5,6 milhões de toneladas em dezembro/23, expressivos 90,1% a mais que o remanescente em dezembro/22, de acordo com a Conab. Os prêmios de exportação vêm sendo pressionados no Brasil e estão nos menores patamares das três últimas temporadas. A paridade de exportação no porto brasileiro de Paranaguá (PR) indica preços de R$ 176,00/sc a R$ 178,00/sc de 60 kg para o primeiro trimestre de 2023. Para o segundo trimestre, o valor calculado está de R$ 176,00/sc a R$ 178,00/sc de 60 kg. Vale lembrar que, em 2022, as negociações estiveram, em média, a R$ 191,43/sc de 60 kg no primeiro trimestre e a R$ 191,57/sc de 60 kg no segundo trimestre. A receita do vendedor brasileiro, contudo, dependerá da taxa cambial (US$/R$). O dólar futuro de janeiro a dezembro de 2023 na B3 (BVMF:B3SA3) está entre R$ 5,09 e R$ 5,36, pouco acima dos R$ 5,2 da média de 2022.
MERCADO GLOBAL – Do lado da demanda mundial da matéria-prima, dados do USDA apontam que a China pode importar 96 milhões de toneladas, diante da maior demanda para processamento. Já a União Europeia deverá diminuir em 1% suas importações, projetadas pelo USDA em 14,4 milhões de toneladas, a menor quantidade desde 2018/19. Mesmo em temporada de demanda global recorde, o USDA indica queda de 7,77% nas exportações de soja dos Estados Unidos (segundo maior exportador global). Já as exportações da Argentina devem somar 5,7 milhões de toneladas, 99,23% acima do volume embarcado na safra 2021/22. E as exportações do Paraguai são projetadas em 5,8 milhões de toneladas, 157,78% superior ao escoado na temporada passada. A queda nas exportações norte-americanas é compensada pelo maior consumo doméstico, que é previsto em 64,47 milhões de toneladas de soja, 2,7% superior ao da temporada passada e um recorde. Diante disso, o estoque final da temporada 2022/23 nos Estados Unidos (em agosto/23) é projetado em 5,72 milhões de toneladas, a menor quantidade desde 2015/16. Assim, os contratos futuros de soja negociados na Bolsa de Chicago (CME Group) mostram sustentação nos preços no primeiro semestre do ano. Os consumos mundiais de farelo e de óleo de soja na temporada 2022/23 são previstos em volumes recordes, de 252,51 milhões de toneladas e de 60,32 milhões de toneladas, respectivamente, ainda segundo o USDA. O consumo de farelo deve crescer 3,48% entre as duas últimas safras e o de óleo, 0,72% na área alimentícia e 5,6% no segmento industrial, ainda conforme dados do USDA.
JANEIRO - Estimativas apontando safra abundante no Brasil, chuvas na Argentina e comemorações do ano novo chinês (que afastaram os asiáticos das negociações) pressionaram com certa intensidade as cotações da soja, sobretudo no encerramento de janeiro. Diante disso, em algumas regiões, os valores de negociação voltaram a operar nos menores desde dezembro de 2021. A queda nos preços do grão se deve também à desvalorização do dólar e à fraca demanda de indústrias brasileiras no período, que aguardavam a evolução da colheita para realizar novas aquisições, à espera de valores mais atrativos. Esses compradores estiveram atentos ao baixo volume comercializado da safra 2022/23. No acumulado de janeiro, o Indicador CEPEA/ESALQ – Paraná da soja caiu fortes 6,91%, fechando a R$ 166,13/saca de 60 kg no dia 31. No mesmo período, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá registrou queda de 5,7%, a R$ 173,93/saca de 60 kg no dia 31.