Temer no país das Maravilhas - Resumo da Semana.
E teve fim a primeira semana do novo ano, uma semana tranquila, sem grandes novidades e muitas notícias boas pra contar (será?).
Aqui no cenário interno, mais calmaria impossível. Congresso em pausa, Senado em pausa, novos prefeitos assumindo as principais capitais do país, Lava-jato de férias, Mouro descansando, nenhum grande escândalo político novo. Ainda estamos todos de ressaca e a crise parece ter dado uma folga a Temer que está, por hora, no país das maravilhas.
Até o Focus dessa semana teve algum otimismo. Para o IPCA o mercado iniciou o ano projetando uma inflação em torno de 4,87% (muito próximo da meta) no final do ano e é provável que esse número continue a cair com o passar da semana. Uma atividade econômica bastante fraca ainda vai derrubar bastante as expectativas do aumento dos preços e no curto prazo acho difícil uma recuperação significativa no consumo que de força nos preços (se bem que vale ficar atento ao que o povo irá fazer com os recursos a mais no bolso advindos dos saques do FGTS: “Pagar dívidas ou gastar? Eis a questão”).
Já pelo lado da Selic, a expectativa é uma taxa em Dezembro próximo de 10,5%. Hoje há uma forte pressão do meio empresarial para que o COPOM imprima alguma aceleração no corte das taxas a fim de dar uma guinada econômica no médio/curto prazo. Do jeito que está hoje, o marasmo vai perdurar pelo menos até o terceiro trimestre de 2017 com uma recuperação forte ensaiando aparecer lá para o começo de 2018 (ninguém aguenta mais um ano assim!).
Vamos então apurar o saldo que ficou de 2016 nos primeiros números que começaram a aparecer:
E a balança comercial de 2016 que apresentou um superávit recorde de 47.7 bilhões de dólares? Maior valor em dez anos!!! É mentira (já usando os bordões das festas juninas)!!! O valor sim foi positivo, mas está mais ligado ao frágil momento da indústria importadora que teve um pior resultado devido à situação interna no Brasil, a qual elevou em muito o custo de produtos estrangeiros com a desvalorização do real frente às demais moedas estrangeiras. As importações em 2016 caíram 20% frente mesmo período de 2015, enquanto que as exportações caíram 3,5%. A gente até comemora o dado, mas é com aquele sorriso amarelo.
E o varejo? Vixi... esse é melhor nem falar. A indústria automotiva que veio sofrendo ao longo desse ano mostrou o número do rombo que teve na venda de carros novos. No fim desse ano o saldo foi uma queda de 20,2% nas vendas em comparação com o ano anterior, números que remetem a um longínquo Brasil 2006/07. Destaque (negativo) para as empresas novas que ainda não fincaram o pé aqui em terras tupiniquins. Chery e Jac vem apanhando mais do que as suas irmãs e fábricas e funcionários estão sendo fechadas e desligados, respectivamente. Até a japonesa Honda, conhecida por nós, sofreu com a queda nas vendas e decidiu não abrir a fábrica em Itirapina que estava prevista para esse começo de ano. Tempos difíceis pra todo mundo.
Grandes marcas como Renner (SA:LREN3) e Pão de Açúcar (SA:PCAR4) já anunciaram que em 2017 a abertura de novas lojas será, no máximo, próximas as de 2016, não havendo grandes investimentos agressivos em novos pontos. Há ainda quem até tenha diminuído de tamanho, como é o caso da Marisa (loja de vestuário) que fechou 2016 com um número de 15 lojas a menos do que no começo do ano. E se as coisas estavam ruins, em 2017 nós temos um número maior de feriados prolongados (graças a Deus, falando como um assalariado) que impactam negativamente no comércio nacional. Segundo a FecomercioSP as perdas estão estimadas em mais de 10 bilhões de reais, valor 2% maior do que em 2016.
Soma-se ainda o fato de que conseguir dinheiro em bancos está mais difícil e a fórmula da estagnação está completa. Essa semana o BNDES anunciou mudanças significativas nos processos para concessão de novos empréstimos. As principais mudanças estão na parte de produtos, os quais terão seus prazos de financiamento encurtados, além do foco em projetos com impactos relevantes na área econômica e social (vide o nome do banco), deixando de priorizar novos financiamentos a determinados setores específicos e focando mais na qualidade dos projetos (tchau tchau campeões nacionais e juros subsidiados).
Indo agora para a política, apesar das pausas atuais, por detrás dos panos tem havido bastante movimentação de ambos os lados (oposição e base). E o presidente Temer tem tido bastante interesse nessa nova onda. Com os planos de dar celeridade aos processos da reforma econômica e ver alguma recuperação, já está sendo planejada uma força tarefa da Câmara e Senado para que passem a reforma tributária e a reforma da previdência, esta segunda mais polêmica, devendo elas ser resolvidas até o fim deste primeiro semestre. Só falta ver se a oposição vai concordar com os pontos e o quanto de barulho os sindicatos e forças populares vão conseguir fazer.
Uma das principais frentes que outrora era o carro chefe nos protestos, o PT hoje está combalido e parece que não vai conseguir reunir seus cacos a tempo de tomar a frente da oposição esquerdista novamente. Atualmente a alta cúpula interna do partido tem recorrido até ao Lula (que pode ser preso a qualquer momento como noticiam repetidamente alguns jornais) para que ele tome as rédeas da situação e tente reunificar a legenda em pró de um movimento único novamente. É agora ou nunca... o tempo está passando e o PT ainda não tem nenhum nome expressivo para concorrer as eleições de 2018 que não o próprio ex-presidente.
E lá fora as coisas parecem que voltaram a dar certo... (Pelo menos na Europa).
Os primeiros dados europeus animam e mostram que enquanto lá fora o sol brilha aqui é só chuva e lamaçal. Foram divulgados os primeiros PMIs (índice de gerentes de compra) e o índice fechou em 54,9 em Dez/16 partindo de 53,7 do mês anterior, maior valor em cinco anos. Destaque para a economia alemã que está mostrando a que veio em 2017. Seu PMI foi reajustado para 55,6 (partindo de 55,5). A economia do país germânico é a que vem registrando as maiores altas e isso vem em bom momento, quando as eleições para primeiro ministro estão próximas e a atual ministra, Angela Merkel, quer permanecer no cargo por mais um mandato (já são três!).
Já na França o PMI ficou estagnado em 53,5 demonstrando que o país francófono é um dos que mais vem sofrendo para engatar uma segunda marcha e voltar a crescer. Bom também para a atual candidata da extrema-direita Marine le Pen, a qual tem batido na tecla do baixo crescimento econômico e do desemprego para dar gás à sua campanha. Dentre as propostas da candidata temos o “Kit Direita Básico” com a saída da UE, proibição da entrada de imigrantes e a volta da moeda individual ao país.
E falando em saída da UE, a primeira ministra britânica, Theresa May, reiterou sua vontade em conciliar um acordo para o Brexit que atenda as necessidades e demandas de ambos os lados. Em mensagem de ano novo, a ministra veio ao povo dizer que espera a cooperação de todos os envolvidos no processo e que apesar das divisões de opiniões, buscará o melhor para o povo britânico. As expectativas é para que ainda no primeiro trimestre de 2017 a cláusula separatista seja acionada e tenha início as negociações.
Dando um pulo nos EUA... por lá anda alta as expectativas para o início do mandato presidencial de Donald Trump, mandato esse que promete ser quente logo no início com direito a sanções comerciais contra a China, aumento de impostos para as empresas americanas que não trouxerem de volta a sua produção ao país, reação à crise com a Rússia e etc..
Já de olho no FED, a expectativa é do aumento nas taxas de juros em 2017, as quais já estão sendo precificadas pelos mercados em torno de duas a três elevações. Em comunicado, membros do FED já vem sinalizando preocupação com a política expansionista do futuro presidente e estudando como isso impactará a forma de contenção de inflação esperada, caso o prometido de fato ocorra.
Estamos de olho!