Nvidia: Telecom e mais estes setores podem impulsionar vendas no Brasil em 2025

Publicado 28.02.2025, 15:20
Atualizado 04.03.2025, 10:35
© Reuters.

Investing.com – Com expectativa de crescimento nas vendas de três dígitos em 2025 também no mercado brasileiro, as operações da Nvidia (NASDAQ:NVDA) no Brasil ganham impulso com a adoção de tecnologias de clientes de novos setores, além da parceria tradicional com a Petrobras (BVMF:PETR4). Estas empresas, incluindo do setor de telecomunicações, pretendem investir na atualização do seu parque tecnológico, o que requer componentes disponibilizados pela companhia de tecnologia que se tornou referência no ecossistema de inteligência artificial (IA).

“Temos hoje uma adesão de mais corporações usando esses conceitos de inteligência artificial generativa, corporações do mercado de energia, principalmente na área de petróleo, de óleo e gás, corporações na área de telecomunicações, que também exige uma atualização da infraestrutura”, afirma Marcio Aguiar, diretor da divisão Enterprise da Nvidia para América Latina, que concedeu entrevista ao Investing.com Brasil. “Percebemos também o aumento da demanda por empresas do comércio eletrônico brasileiro, também por questões de otimização de estoque, logística, entrega”, completa.

O executivo destacou que operação brasileira da Nvidia acompanha o seu crescimento global e elencou os principais drivers para que conquiste um crescimento acima de 100%. “Vai ser facilmente alcançado, até porque nós já temos alguns projetos de supercomputadores aqui no Brasil que vão ser concretizados neste ano”. Confira a entrevista:

Inv.com – Quais foram os principais propulsores das atividades da Nvidia no Brasil no último trimestre e em 2024?

Márcio Aguiar – Em 2024, aqui no Brasil, tivemos alguns anúncios que são super relevantes para esse impulso que veremos a partir desse ano. O governo nacional anunciou o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, existem projetos de fomento para oito centros de inteligência artificial que, eventualmente, vão ser instalados no país. A gente tem tido uma interação muito mais proativa junto às principais universidades e laboratórios brasileiros para se prepararem para que, quando receberem esses fundos de fomento do governo, já consigam aplicar todo esse conhecimento nas nossas plataformas computacionais.

Inv.com – Com a maior desmistificação da IA no Brasil, quais os principais clientes e aplicações dos pedidos realizados para a empresa hoje?

Aguiar – O Brasil continua sendo um país de extrema relevância para o nosso negócio, principalmente na região da América Latina. Temos hoje uma adesão de mais corporações usando esses conceitos de inteligência artificial generativa, corporações do mercado de energia, principalmente na área de petróleo, de óleo e gás, corporações na área de telecomunicações, que também exige uma atualização da infraestrutura que eles possuem para poder oferecer uma melhor banda larga para todas as empresas. Percebemos também o aumento da demanda por empresas do comércio eletrônico brasileiro, também por questões de otimização de estoque, logística e entrega.

A gente começa a ver também no Brasil empresas de tecnologia que já estão nascendo com o conceito de inteligência artificial, que a gente chama em inglês de AI Native. São empresas que 100% dos seus processos já estão automatizados com técnicas de inteligência artificial generativa. Começamos a ver também junto à Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) o uso da nossa plataforma Omniverse, que é uma plataforma que permite às empresas simularem um ambiente virtual, mas com dados do ambiente real. Ele consegue planejar melhor a construção de uma nova fábrica, a interação das pessoas dentro da fábrica para otimizar aquela linha de produção.

Então o Omniverse entra como uma ferramenta para que haja essa visualização e todo esse ensaio antes da execução de uma mudança na planta, de maneira real. O resultado que tivemos de crescimento de 114% ano após ano vem muito das vendas que a gente fez a nível global, não só no Brasil, para empresas como Microsoft (NASDAQ:MSFT), Oracle (NYSE:ORCL), Google (NASDAQ:GOOGL), AWS, que são empresas que a gente chama de hyperscalers, que são as que vendem as nossas soluções de visualização, de software, de hardware para os seus clientes finais.

2025 começa com um primeiro mês com uma demanda muito grande. Obviamente o Brasil começa só depois do carnaval, mas março já promete, porque em março nós já vamos ter vários anúncios que vão ser feitos durante a nossa conferência que vai ser realizada na Califórnia. Então o Nvidia GTC é onde nós, a nível global, anunciamos as novas tendências, anunciamos a nossa estratégia para o nosso ecossistema e a partir dali muda muito a visão das empresas de como vão adotar conceitos inovadores em sua linha de produção.

Inv.com – Qual o ritmo de crescimento esperado para a Nvidia no Brasil em 2025? Esperam expansão de três dígitos?

Aguiar – Muito igual, a gente atua de maneira global, obviamente temos que pouco a pouco ajustar aqui nossa realidade brasileira, mas sim, a nossa meta de vendas é de continuar crescendo ao passo de 100%, no mínimo, essa já foi a meta que eu já recebi do meu vice-presidente. Então, não temos muito para onde fugir disso. Vai ser facilmente alcançado, até porque nós já temos alguns projetos de supercomputadores aqui no Brasil que vão ser concretizados neste ano. Esse projeto não começa agora, o que a gente faz e que tem resultado hoje é fruto de um trabalho que a empresa vem fazendo ao longo desses últimos anos.

Inv.com – Quais devem ser os principais drivers de receita?

Aguiar – Começamos já com o pé direito. A Petrobras já anunciou que tem a intenção de comprar um novo supercomputador, a gente tem alguns laboratórios nacionais que também já anunciaram que vão investir em novos supercomputadores, fazendo a atualização do seu parque tecnológico.  

Como eu comentei, as empresas de telecomunicações também. A Nvidia vem trabalhando nesse setor há mais ou menos 6 anos e hoje a gente vê com muito mais frequência os novos softwares, os novos conceitos que as empresas de telecomunicações utilizam. Muitos deles, principalmente os processos mais árduos em relação a cálculo matemático, recorrem aos processamentos das nossas GPUs. A questão de logística, de otimização de estoque, otimização de rota, de percurso, usa muito também conceitos de análise preditiva, que é uma das técnicas de inteligência artificial.

Conseguimos ver o aumento do uso de agentes de inteligência artificial, auxiliando empresas que trabalham com call center, empresas que têm um grande número de colaboradores que estão ali atendendo a necessidade do cliente, onde a IA consegue, de maneira colaborativa, trabalhando em paralelo com aquele ser humano, otimizar e entender a demanda do cliente. Quando aquele humano receber uma chamada do determinado cliente, o computador já puxou praticamente todo o perfil e ajuda o operador a tomar uma melhor decisão baseado neste perfil. Vamos ouvir falar muito de agent AI, que são, vamos dizer assim, robôs, não necessariamente um robô físico, mas ferramentas robotizadas para melhorar essa interação das empresas com os seus respectivos clientes.

Inv.com – Quais as aplicações dos supercomputadores que serão adquiridos pela Petrobras e próximos passos da parceria com a estatal?

Aguiar – A Petrobras é o cliente mais longínquo da Nvidia no Brasil, desde 2006. São vários supercomputadores que são usados na área de exploração e produção, que é a área mais crítica da empresa, onde eles têm que fazer muita simulação na eventual perfuração de um poço. Essa área que a gente chama de EIP, Exploration Production em inglês, possui vínculos muito fortes conosco, sendo que todos os softwares que eles utilizam têm aceleração com as nossas GPUs.

A gente já começa também a ver grandes empresas, assim como eles, desenvolvendo o seu próprio chat GPT. Para não usar nada público, as empresas começam a fazer o seu próprio sistema de conversação, de interação com os funcionários, e isso requer muito poder computacional das nossas GPUs.

Sobre a Petrobras, ela continua comprando, vai para o oitavo cluster acelerado por GPU. E outras empresas enxergam isso como um bom modelo, um bom exemplo para que também comecem a dialogar conosco para ter também os seus próprios supercomputadores.

Inv.com – Como a empresa enxergou os impactos do DeepSeek no valor de mercado da Nvidia? As preocupações são consideradas exageradas?

Aguiar – Na verdade, o DeepSeek é um forte aliado da Nvidia. O que eles desenvolveram foi uma nova LLM, a partir das LLMs que estão disponíveis no mercado. A gente já sabia que isso ia acontecer. Eles usaram algumas das nossas GPUs, eles não falam quais, mas a gente tem uma ideia de quais são, porque há dois anos o governo americano impôs algumas restrições de vendas de GPU para a China. Nós tivemos que nos reinventar e criar um modelo que coubesse dentro dessa lei que foi imposta à Nvidia.

O que eles fizeram é algo que para nós é extraordinário, porque eles usaram, vamos dizer assim, GPUs de menor porte, não tão fortes quanto a OpenAI utilizou, desenvolveram técnicas que não demandam muito poder de treinamento, existe uma técnica antes do treinamento da rede neural, que vai depois em paralelo, que é a técnica de inferência. Eles otimizaram essa técnica de inferência e a gente não ficará surpreso se ao longo deste ano aparecerem outras empresas similares trazendo esses conceitos inovadores.

Esse é o fruto que se gera dentro da IA generativa, porque você gera novos dados a partir de outros dados e vice-versa. Não tem um limite, não tem um caminho só a ser tomado. Então, as empresas hoje conseguem até dialogar melhor conosco, porque eles já saíram daquele preconceito de que teriam que investir muito valor, como a OpenAI investiu, para desenvolver o seu próprio LLM.

Hoje, então, a DeepSeek realmente ainda não está refletindo aqui no nosso resultado de Q4. A gente não fica prestando muita atenção nisso, porque senão a gente tira o nosso foco, que é realmente continuar trazendo inovação tecnológica. Quedas são normais ao longo desse percurso, mas a empresa continua sólida com o propósito de continuar inovando.

Inv.com – Quais os planos de expansão da atuação da companhia a nível local e alguma mudança de estratégia a ser indicada aos investidores?

Aguiar – Eu acho que muitos dos nossos investidores ou clientes, por se dizer assim, eles não ainda entendem o todo que a gente apresenta para o mercado. Eles enxergam ainda a empresa como uma provedora de chips, uma provedora de GPUs. Na verdade, nós somos o provedor de todos os principais componentes que vão dentro de um supercomputador para que possa atender essa demanda crescente das técnicas de inteligência artificial.

No início, lá em 2016, quando a gente já estava trabalhando nesses conceitos de inteligência artificial, ninguém sabia de nós, ninguém entendia o que a gente fazia. Sempre ouvimos que aquilo era moda, que já tentaram antes e tal. A gente tem um propósito, todo mundo me pergunta qual é a estratégia. Nossa estratégia não muda em nada, sempre foi a mesma.

Abrir novos mercados, criar ferramentas para que as empresas possam colocar em prática o seu conhecimento e desenvolver novos produtos para se tornarem mais competitivos. E começamos na IA, com um projeto de reconhecimento de imagem, classificação de imagens, segmentação de imagens, onde pesquisadores, na época, usavam GPUs voltada para jogos. A gente viu aquilo como um grande potencial.

Começamos a desenhar infraestrutura para atender essa demanda computacional. Quando a OpenAI veio ao mercado, que deu esse boom das pessoas entenderem o poder computacional que a gente ofereceu a eles. Desde 2016, a gente vem trabalhando com a OpenAI.

Eles demoraram seis anos para desenvolver a LLM deles, que hoje é vastamente utilizada, ninguém tem mais dúvida o quanto aquilo realmente agrega valor a um trabalho. Eu uso direto essas ferramentas da OpenAI. E agora esse novo boom, que é essa questão dos agentes de IA, onde a gente, através desses processamentos de alto desempenho, vai começar a ver certos parâmetros que vão nos ajudar a tomar melhores decisões.

A Nvidia é uma empresa de tecnologia, não é uma empresa de chips. Nós montamos um supercomputador, todos os componentes que são necessários, depois a gente desmembra esse supercomputador e vende para os fabricantes de computadores essas peças para que eles possam montar da maneira que eles quiserem. Ou, se eles não quiserem montar, a gente entrega para eles a receita desse supercomputador que nós já temos em nossa própria sede nos Estados Unidos, que a gente usa para nos treinar e aprender a como continuar otimizando. Por isso que surgem novas técnicas de resfriar um data center.

Hoje, principalmente, já estão vindo soluções com resfriamento à água, que até então era só à ar, e o resfriamento a ar custa muito dinheiro, porque hoje os países estão enfrentando uma crise de geração de energia para manter esses supercomputadores em funcionamento. E é onde entra o Brasil como um grande protagonista que vai ser nos próximos anos, por ter uma abundância de energia limpa, energia hídrica. Isso vai ao encontro da demanda de computação que a gente está tendo a nível mundial.

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