Tarifas de Trump atingem o dólar: DXY terá uma reversão de tendência?

Publicado 07.04.2025, 11:15
  • As tarifas impostas por Trump provocaram uma queda de 3% no dólar, desviando o foco do mercado da inflação para os riscos sobre o crescimento.
  • Com os custos em alta e as exportações em desaceleração, a confiança no papel global da moeda americana está se enfraquecendo.
  • Com o rompimento de suportes técnicos relevantes, uma queda mais acentuada parece provável — a menos que o Fed intervenha.
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O dólar (DXY) mudou de direção neste mês após o anúncio do novo pacote tarifário do presidente Donald Trump sobre diversas importações.

Logo após a declaração de Trump, em 2 de abril, o índice DXY recuou quase 3% em apenas 24 horas, atingindo 101,27. A queda eliminou todos os ganhos acumulados desde as eleições de novembro de 2024 e representou a maior desvalorização diária desde 2023. No acumulado do ano, o índice já recua 5,35% e mantém uma trajetória descendente — evidência de que as expectativas tradicionais de mercado não estão se concretizando.

Em condições normais, tarifas costumam gerar pressão inflacionária, o que poderia levar o Fed a adotar uma postura mais agressiva, algo que, em tese, fortaleceria o dólar. Em vez disso, o mercado interpretou as tarifas como um risco à atividade econômica e reduziu a exposição à moeda norte-americana.

Mais surpreendente ainda é a crescente contestação do status do dólar como ativo de proteção. Em cenários de forte correção nos mercados acionários, espera-se uma valorização da moeda americana. Porém, nos dias em que as tarifas foram anunciadas, os principais índices dos EUA recuaram quase 5%, sem que o dólar apresentasse reação altista.

O Deutsche Bank classificou esse movimento como reflexo de uma “desconfiança institucional crescente em relação aos EUA”, enquanto o Banco Nacional da Austrália avaliou que o dólar já não transmite segurança nem mesmo como reserva em momentos de crise.

Entre o superaquecimento e a desaceleração

O impacto econômico das tarifas cria um dilema. De um lado, elas elevam os preços ao encarecer as importações. De outro, reduzem o consumo e os investimentos, freando o crescimento. As tarifas aplicadas à China chegam a 54%, e países como União Europeia e Vietnã também estão sendo alvo de restrições. Hoje, todas as importações enfrentam uma tarifa mínima de 10%.

Segundo a Tax Foundation, essas políticas podem representar um custo adicional entre US$ 1.900 e US$ 4.700 por ano para as famílias americanas. Espera-se uma queda de 1,9% na renda e uma redução entre 2% e 3% nos lucros das empresas do S&P 500. As projeções de crescimento foram revisadas de 2,3% para 1,8%. Como reflexo, o mercado passou a precificar cortes de juros por parte do Fed, o que amplia a pressão sobre o dólar.

No primeiro trimestre de 2025, investidores estrangeiros retiraram US$ 42 bilhões do mercado de títulos dos EUA — o maior fluxo de saída desde 2022. Simultaneamente, exportações americanas no valor de US$ 330 bilhões passaram a enfrentar barreiras tarifárias em função das medidas de retaliação.

Dados do FMI apontam uma mudança nas reservas internacionais: bancos centrais têm aumentado suas posições em euros e iuanes, enquanto a fatia do dólar vem diminuindo. De 59% ao final de 2024, a participação da moeda americana nas reservas globais deve cair para menos de 55% até 2030. O Deutsche Bank avalia esse movimento como uma fragilização do papel do dólar como reserva de valor.

Impactos mais profundos que os das tarifas de 2018

O cenário atual remete às guerras comerciais iniciadas por Trump durante seu primeiro mandato, entre 2018 e 2020, embora agora as tarifas tenham escopo mais amplo. Naquele período, a alíquota média subiu de 3,4% para 19,3%; desta vez, foi de 2,5% para 16,5%.

Em 2018, o DXY caiu 4,1%. Agora, o recuo chega a 6%. O investimento estrangeiro direto também caiu 12%. Para analistas do JPMorgan (JPM), o novo pacote tarifário aparenta falta de coordenação e atinge diversos setores de maneira dispersa, aumentando a incerteza.

A meta declarada por Trump com as tarifas é trazer a produção industrial de volta aos EUA. Contudo, diante das condições atuais, essa meta parece pouco factível. O custo médio por hora na indústria americana é de US$ 28,50 — quatro vezes superior ao registrado no México. Além disso, o desenvolvimento de capacidade produtiva em setores estratégicos, como semicondutores e baterias, pode levar de 3 a 5 anos.

Até mesmo o Canadá, afetado por tarifas sobre o setor automotivo, já contabiliza perdas de US$ 4 bilhões em exportações originadas do estado de Michigan. Nas economias emergentes, o impacto é misto: o CNY/USD perdeu valor, mas há alívio sobre o USD/MXN e o USD/TRY. Essa assimetria dificulta ainda mais o trabalho do Fed em manter a estabilidade de preços.

No cenário base do mercado — com probabilidade de 60% —, espera-se que o DXY permaneça entre 99 e 103 ao longo de 2025, com uma tendência de queda gradual para a faixa de 92 a 95 até 2027.

Entre os riscos de alta estão uma crise geopolítica, nova aceleração inflacionária e uma postura mais firme do Fed. No lado oposto, os principais vetores de baixa são novas tarifas retaliatórias, possibilidade de recessão e crescente preocupação com o déficit fiscal dos EUA.

Análise técnica

Análise técnica do dólar (DXY)
Após a queda acentuada no mês passado, o DXY tentou estabilizar-se em torno do nível de retração de Fibonacci de 0,618, aos 104 pontos. No entanto, em meio à incerteza, a moeda não conseguiu recuperar fôlego. Com o anúncio do novo pacote tarifário em abril, perdeu ainda mais terreno — rompendo o suporte dos 104 frente a uma cesta de seis moedas relevantes.

Depois de recuar até 101,27 na semana passada, o índice conseguiu se manter acima do segundo suporte técnico em 102,36 — correspondente à retração de Fibonacci de 0,786 —, amparado por compras pontuais de oportunidade. Ainda assim, a estrutura segue tecnicamente vulnerável. Caso haja fechamentos diários abaixo desse patamar, o DXY pode se aproximar do suporte psicológico em 100 pontos.

Esse movimento pode acelerar a correção, conforme indicam médias móveis e indicadores de momentum de curto prazo. Nesse caso, o ciclo atual pode se completar na zona de expansão de Fibonacci, entre 94 e 97 pontos.

Por outro lado, se o Fed decidir dar mais peso ao risco inflacionário do que à recessão e adotar postura mais hawkish, isso pode apoiar uma recuperação do dólar. Nesse cenário, o índice pode encontrar suporte firme nos 102 pontos e iniciar trajetória ascendente, com a faixa entre 104 e 105 funcionando como resistência estratégica durante qualquer tentativa de recuperação.

Uma nova era para o dólar

As novas tarifas impostas por Trump tendem a alterar os fundamentos que tradicionalmente sustentaram o dólar. Desde o anúncio, o mercado passou a dar menos atenção a vetores clássicos como inflação, taxa de juros ou balança comercial. O foco agora está em aspectos mais amplos — como expectativas de crescimento, confiança corporativa e a posição dos EUA na economia global.

Num momento em que o papel do dólar como ativo de proteção é posto em dúvida, sua tendência estrutural de valorização passa a enfrentar pressões relevantes. No ambiente atual, os investidores estão atribuindo peso cada vez maior aos riscos políticos, além dos tradicionais fatores macroeconômicos.

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