É difícil lembrar uma aquisição que tenha recebido mais atenção do que a compra do Twitter (NYSE:TWTR) (SA:TWTR34)pelo CEO da Tesla's, Elon Musk. Talvez não exista nenhuma.
A história dramática do acordo começou no início de abril, quando Musk revelou a surpreendente participação de 9% na plataforma online. Desde então, esta tem sido talvez a principal notícia da imprensa financeira. O assunto assumiu mesmo as proporções de uma partida política de futebol, com políticos e comentaristas oferecendo a sua opinião sobre o valor do site e os perigos de que ele passe para o controle fechado.
A aquisição de quase US$ 44 bilhões fez mais do que apenas criar burburinho. Ela impulsionou um forte movimento de baixa nas ações da Tesla (NASDAQ:TSLA), que no mês passado, apresentavam um valor de mercado superior a US$ 1 trilhão. Poderia até impactar a corrida presidencial de 2024, se Musk realmente devolver (como parece provável) o acesso do ex-presidente Donald Trump à plataforma.
No entanto, existe uma fina ironia em todo esse barulho. O mercado de ações tem a sua voz - e está dizendo, em termos inequívocos, que está cético quanto à conclusão do negócio.
Entendendo as chances de fusão
Usando um modelo simples, os investidores podem calcular aproximadamente a avaliação do mercado sobre as chances de que essa aquisição aconteça. Um exemplo simplista pode dar alguma luz.
Suponha que a Empresa ABC seja negociada a US$ 70 quando outra empresa anuncia que irá adquirir a ABC por US$ 100 por ação em caixa. Neste exemplo, as ações da ABC quase nunca irão disparar para US$ 100, porque existem riscos.
Em quase todos os casos, o de maior destaque é que o negócio não ocorra. O conselho de administração pode rejeitar o acordo; muitas pessoas, de fato, acreditavam que o conselho do Twitter não aceitaria a oferta de Musk, embora por fim o tenham feito. Mesmo com a aceitação por parte do conselho de administração, em alguns casos, os acionistas podem votar contra o acordo.
Mesmo que os acionistas queiram o acordo, as autoridades antitruste podem atravessar o caminho. Um excelente exemplo recente é a proposta de fusão entre a NVIDIA (NASDAQ:NVDA) e a Arm Holdings. As empresas decidiram pôr fim a seu acordo depois que a Federal Trade Commission dos EUA e outros órgãos reguladores desafiaram a união.
Voltando para nosso exemplo simplista, suponhamos que com a oferta de US$ 100, a ABC passe a ser negociada a US$ 95. A esse preço, podemos calcular as chances que o mercado considera que o acordo tem de acontecer.
Uma fusão com garantia de aprovação levaria a ABC valer, neste momento, US$ 100. (Estamos ignorando o valor temporal do dinheiro até a conclusão da fusão; de novo, este é um exemplo simplista) Se o negócio não for aprovado, podemos presumir que a ABC voltará ao seu preço inicial de US$ 70. Como veremos, esta premissa não é um fato exato, mas em um cálculo simplista, é nossa estimativa mais precisa do valor se a fusão não acontecer.
As nossas probabilidades são iguais à diferença entre o preço original e o preço atual (neste caso, US$ 95 menos US$ 70, ou US$ 25), dividido pela diferença entre o preço original e a compensação oferecida (neste caso, US$ 100 menos US$ 70, ou US$ 30). Neste exemplo, a ABC a US$ 95 está precificando uma probabilidade de cerca de 83,3% (US$ 25/US$ 30) de que a fusão aconteça.
US$ 54,20 estão garantidos?
Este modelo simplista pode proporcionar um contexto para se entender as chances de fusão do Twitter — mas apenas um contexto. Esta situação tem várias partes.
Vamos começar pelo upside. Musk está oferecendo US$ 54,20 por ação pela companhia em caixa. Mas há um detalhe. Ao longo do fim de semana, Musk tuitou que o acordo estava "temporariamente em suspensão" em meio à análise de contas falsas no site.
Colocar uma fusão "temporariamente em suspensão" não existe. Isso levou à especulação de que a postura pública de Musk seja simplesmente para renegociar o acordo a um preço mais baixo. Estas especulações ganharam força ontem à tarde, depois que o próprio bilionário disse à mídia que uma oferta menor não está "fora de questão".
Assim, os investidores não podem olhar para US$ 54,20 como um upside garantido. É, no mínimo, possível que Musk planeje fazer uma oferta significativamente menor que isso, ameaçando abandonar completamente o acordo se o Twitter disser não.
Juridicamente falando, Musk não pode simplesmente ir embora. O argumento comum de que Musk pode pagar a multa de rompimento, de US$ 1 bilhão, não é válido. Musk concordou em comprar a empresa, salvo por um evento de Efeito Material Adverso (MAE, no original em inglês). Nenhum MAE ocorreu. Na teoria, o Twitter poderia processar Musk para forçá-lo a concluir o acordo.
Mas, na prática, a administração pode não ter a coragem para um conflito aberto que poderia, por sua vez, impactar os negócios. (Os conservadores, em particular, poderiam considerar a intransigência da administração como mais uma evidência de viés político.) Por isso, existe uma realidade onde Musk oferece, digamos, US$ 44,20 - e o Twitter aceita.
O risco negativo
Há uma outra razão pela qual o conselho de administração pode aceitar um preço mais baixo. Sem uma venda de algum tipo (e não há, aparentemente, nenhum outro concorrente), as ações do Twitter cairiam drasticamente mesmo em relação aos níveis atuais.
Mais uma vez, o modelo simplista para compreender as probabilidades de fusão sugere que as ações do TWTR, sem Musk, recuariam para seu preço pré-IPO. Mas o TWTR fechou a US$ 45,85 no dia 13 de abril. De forma incrível, a ação está abaixo do seu fechamento de US$ 39,31 em 1º de abril, antes de Musk anunciar sua participação, um anúncio que causou alta de 27% no ativo.
Se Musk abandonar o acordo, o Twitter recebe US$ 1 bilhão — mas isso é pouco mais de US$ 1 por ação após os impostos. E de modo algum o mercado irá precificar o Twitter pós-oferta como fez pré-oferta.
De maior destaque, as ações de tecnologia, incluindo as ações das redes sociais, caíram desde a oferta de Musk no dia 14 de abril. Veja como foi o desempenho do índice NASDAQ 100 e das maiores empresas de redes sociais desde o fechamento de 13 de abril:
- NASDAQ 100: -12,1%
- Twitter: -15,9%
- Meta Platforms: -6,6%
- Snap: -30,2%
- Pinterest: -5,2%
A Meta Platforms (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34) e o Pinterest (NYSE:PINS) seguiram firmes, mas as ações do FB já haviam despencado no início deste ano, e o Pinterest registrou um forte resultado no final de abril.
A divulgação de resultados do primeiro trimestre do Twitter, entretanto, foi conflitante, com crescimento da receita abaixo das expectativas. Ao mesmo tempo, as mudanças de privacidade da Apple (NASDAQ:AAPL) continuaram a pressionar ações de publicidade online de todos os tipos. A Trade Desk (NASDAQ:TTD), por exemplo, apresenta queda de 22% nas últimas cinco semanas.
Parece provável que, num mundo onde Musk não tivesse acumulado uma participação e não tivesse feito uma oferta, as ações do TWTR seriam negociadas abaixo de US$ 30. Sem a escala do Facebook ou os fortes resultados do Pinterest, a sua trajetória provavelmente espelharia a do setor de tecnologia como um todo, ou a do Snap (NYSE:SNAP) e/ou dos players de anúncios online como a TTD. Tendo em conta essas compensações, um desconto de venda de 25-30% no TWTR em relação ao seu fechamento de US$ 39 antes do anúncio do envolvimento de Musk não seria uma surpresa. Isso sugeriria um valor autônomo para o Twitter na faixa de US$ 27 a US$ 29.
Entendendo as chances
As estimativas de alta e baixa são apenas isso: estimativas. Mas, de qualquer forma, o mercado está precificando chances razoavelmente baixas de que este acordo seja concluído.
Supondo que Musk não irá renegociar e que o TWTR irá cair para US$ 28 se o acordo não ocorrer, as probabilidades implícitas aqui, com o TWTR a US$ 38 dólares, são de 38%. Coloque o upside a US$ 49,20 - uma chance de 50% de que Musk pague US$ 54,20, e uma probabilidade de 50% que pague US$ 44,20 - e o downside a US$ 28, e ainda estreamos abaixo de 50%.
Os investidores podem gerar suas entradas para este modelo com base na sua crença nas probabilidades de uma oferta mais baixa e no preço potencial das ações de um Twitter autônomo.
Mas os investidores precisarão forçar um pouco a barra para argumentar que o mercado está precificando uma probabilidade maior que 50% de que Musk assuma o controle. Este argumento precisa presumir que Musk irá, quase que certamente, reduzir sua oferta para menos de US$ 45, ou que as ações do Twitter sozinhas valeriam US$ 25 ou menos.
Na verdade, nenhum dos argumentos é ridículo. Mas mesmo com premissas agressivas (digamos, uma oferta revista de US$ 42 e um downside de US$ 24), as probabilidades de um acordo ser feito ainda ficam em torno de 75%.
Com tudo dito, o mercado está precificando um ceticismo significativo em relação a este acordo. Os investidores que acreditam que Musk realmente cumprirá sua parte devem dar uma boa olhada para a possibilidade de possuírem ações do Twitter a US$ 38 - mas também devem compreender que possuir este ativo, neste momento, é uma negociação contrária.
No momento da publicação, Vince Martin não detinha posições em nenhum dos títulos mencionados.
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