O ano de 2022 está começando com muitas incertezas, seja no plano internacional ou no doméstico. A covid-19, com suas variantes Delta e Ômicron, se espalha pelo mundo todo, obrigando novas restrições, e as populações estão absolutamente saturadas de tudo isso pelos quase dois anos de estresse. Nos EUA, Fauci diz que a combinação das variantes pode ocasionar um tsunami, enquanto Israel, que sempre saiu na frente em termos de medidas, fala em tempestade, associada agora com a gripe.
É fato que tivemos nessa virada de ano mais de 4.000 voos cancelados e, aqui no Brasil, por exemplo, a Anvisa investiga cinco navios com volume de infecções e sugere que a autorização de cruzeiros seja interrompida. Isso é certamente uma névoa que paira na recuperação global em 2022, assim como as medidas de retirada de estímulos fiscais e monetários, que governos e bancos centrais têm discutido por meses. Mas também é fato que a inflação em alta – e nem tanto transitória – incomoda os bancos centrais, responsáveis por conter processos inflacionários.
Além disso, ainda no exterior, dois outros fatos preocupam. Como conter o ímpeto da China e hegemonia tecnológica e, ao mesmo tempo, aproximá-la novamente do ocidente, quebrando o elo que acabou se formando com a Rússia. A Rússia, por sua vez, é outro problema a ser considerado, pelas tensões envolvendo a fronteira da Ucrânia e uma possível invasão, o que obrigaria sanções dos EUA e da Europa. Isso, sem contar os problemas em Hong Kong envolvendo EUA e China.
O segundo fato diz respeito aos problemas climáticos impondo a geração de energia mais limpa e metas propostas até 2030. No plano teórico, quase todos os países endossam essa postura. Porém, no plano prático, a situação muda um pouco de postura. Serão exigidos fortes investimentos, a criação de infraestruturas e o aumento de custos de produção. Não é por outra razão que alguns países já começam a querer adiar reduções do carvão para geração de energia e outras fontes não tão limpas.
Se nos voltarmos para o Brasil, a situação complica um pouco mais. Como país emergente, somos diretamente afetados por tudo que ocorre no mundo desenvolvido, notadamente no fluxo de capital carreado e nos custos dos recursos. Aqui, precisamos dar sequência a reformas estruturantes profundas para reposicionar a economia nos trilhos do crescimento, onde quase ninguém tem previsão superior a 1% em 2022, no pior momento em relação ao projetado para a América Latina, e bem longe do projetado pelo governo de 2,1% de expansão do PIB e das receitas do orçamento. Na verdade, na média, as projeções de PIB ficam próximas de zero crescimento, em um processo de estagflação.
O governo fala em 22 processos de privatização, mas todos sabem quão difícil será isso em um ano eleitoral complicado, fake news aos montes, presidenciáveis alvos de boatos, desinformações em redes sociais e muitas indefinições que podem perdurar por pelo menos o primeiro quadrimestre de 2022. Diante disso, é lícito supor que, estando em dificuldades para reeleição, o detentor da caneta possa instruir medidas de cunho eleitoreiras e, com isso, piorar ainda mais o quadro fiscal e dificultar a vida do presidente (qualquer que seja) no mandato de 2023.
Diante disso, podemos inferir que 2022 será um ano de manutenção de volatilidade dos mercados domésticos, o que exige alguma prudência operacional, mas ao mesmo tempo abre inúmeras possibilidades de ganhos extraordinários para aqueles aplicadores com maior propensão ao risco. A escolha de alternativas de investimentos diante desse clima traçado parece ser absolutamente fundamental, e acreditamos que podemos ajudar bastante nisso. Destacamos como fato positivo as empresas que se prepararam para esse ambiente complicado, reduzindo alavancagem financeira, trocando endividamento caro por opções mais baratas, reduzindo custos e investindo em produtividade. Afinal, elas também devem ser boas pagadoras de dividendos no ano em curso, antecipando possível tributação a partir de 2023.
Destacamos ainda setores que podem andar bem, como os voltados para exportação de minerais e proteínas, além de papel e celulose, empresas ligadas ao fornecimento de equipamentos e infraestrutura e até o setor bancário, pela maior atuação de tesourarias e spreads em alta. Mas repetimos que é preciso ter seletividade na escolha, pois os estágios das empresas são diferentes.