Quais países já fecharam acordos tarifários com Trump?
No arcabouço liberal clássico, sintetizado por David Ricardo, uma economia fechada que produz um único bem é refém de suas próprias fronteiras: só cresce com a poupança interna, a acumulação de capital doméstico e o progresso tecnológico local. Adam Smith já notara que “a divisão do trabalho é limitada pela extensão do mercado”; Ricardo mostrou que, mesmo quando um país é absolutamente mais eficiente em tudo, o comércio exterior baseado na vantagem comparativa amplia tanto a produção quanto o consumo em escala global. Sem intercâmbio, esses ganhos potenciais jamais se materializam.
Quando dois países passam a comercializar livremente, torna-se possível captar os ganhos de especialização descritos por Ricardo: cada um direciona recursos para os setores em que o custo de oportunidade é mais baixo, enquanto o capital — guiado pelos sinais de preço, como observaram John Stuart Mill e, depois, Milton Friedman — desloca-se para onde rende mais. O resultado é duplo: aumenta a variedade de bens disponíveis e otimização na alocação eficiente dos investimentos, elevando a renda per capita em ambas as economias. Isso confirma o princípio liberal de que o intercâmbio internacional não subtrai riqueza de um lado para somá-la ao outro; ao contrário, cria valor adicional e transforma o comércio num jogo de soma positiva.
Expandindo-se de um modelo bilateral para uma rede multinacional de trocas, entram em cena contribuições modernas — Krugman, Helpman, Melitz — sobre economias de escala, variedade de produtos e difusão tecnológica. Cada país, ao inserir-se em cadeias globais de valor, não só reduz custos médios como também internaliza conhecimento externo, tornando a ordem econômica global mais resiliente e inovadora. Mesmo as nações menos dotadas de capital ou tecnologia ganham ao importar insumos baratos e absorver práticas produtivas superiores, num processo que Friedrich Hayek descreveu como “descoberta descentralizada” de informação.
Imaginando um cenário de adoção de tarifas comerciais — sejam uniformes ou graduais — age como imposto sobre as trocas internacionais. O raciocínio de James Meade e Jagdish Bhagwati mostra que qualquer barreira comercial gera deadweight loss, pois reduz excedentes de consumidores e produtores, distorce a alocação de recursos e desvia comércio para fornecedores ineficientes. À medida que as alíquotas sobem, multiplicam-se os efeitos em cascata: retraem-se mercados externos, encarecem insumos importados e perde-se escala, corroendo progressivamente o excedente de bem-estar produzido pelo livre-comércio para toda a teia comercial internacional.
O protecionismo tampouco se limita a tarifas. Pressões políticas internas, rivalidades geopolíticas, sanções, conflitos, eventos fitossanitários mal coordenadas ou regulações ambientais díspares introduzem incerteza, elevam custos transacionais e fragmentam a arquitetura econômica mundial. Tais barreiras, erigidas por motivações não econômicas, remetem-nos à trajetória estreita da autarquia que Ricardo e seus sucessores tanto se esforçaram por superar. A história e a teoria liberal convergem num ponto: preservar a abertura, a previsibilidade e a cooperação internacional é condição necessária e suficiente para a prosperidade de todo esse intricado sistema econômico global.