A cada dia, o mercado investidor torna-se mais consciente sobre a importância de estabelecer uma visão de longo prazo na construção de patrimônio, mas ainda sofre com os tropeços de uma cultura imediatista, que é reflexo de uma história econômica repleta de traumas. A célebre frase do maestro e compositor Tom Jobim, “o Brasil não é para principiantes”, se encaixa bem nesse caso e traduz o sentimento dos investidores brasileiros que vivem a transição entre o desejo de um retorno rápido e a formação da cultura de patrimônio.
Trazendo para uma perspectiva mais prática, a cada dia temos mais investidores ingressando na bolsa de valores em busca de melhores resultados, seja através de fundos de investimentos ou, principalmente, de ações. O problema é que existe muita gente por aí vendendo a ideia de que investir pode ser algo fácil, rápido e ileso, sem que o investidor realmente saiba o grau de conhecimento necessário e os riscos reais assumidos a cada operação.
Afinal, o marketing pode ser muito eficiente na tentativa de convencer um usuário de que “essa é sua última oportunidade de comprar a nova Magazine Luiza (SA:MGLU3)”. E, convenhamos, quem não gostaria de comprar uma ação por R$ 0,13 em 2015 que hoje vale R$ 57,66
Não estamos nem falando que não existem tais oportunidades por aí, a grande questão é que o preço não sobe em linha reta como muitos fazem parecer e, nos momentos de correção, muito marinheiro de primeira viagem abandona o barco sem saber que ele pode estar próximo de zarpar novamente. Um exemplo disso são as ações da própria Magazine Luiza (SA:MGLU3), tão aclamadas pelo mercado, que chegaram a cair 44% em um intervalo de 49 dias, entre setembro e dezembro de 2017, antes de retomar sua tendência de alta. Você teria estômago?
A maioria não tem. E não preciso ir muito longe para provar isso. Um estudo realizado pela Fidelity Investments sobre o fundo Magellan - que sob a gestão de Peter Lynch, entre 1977 e 1990, teve um retorno médio anual de 29% e foi tranquilamente um dos fundos mais bem-sucedidos de sua época - mostrou que o investidor médio do fundo, na verdade, perdeu dinheiro. Por quê? Como? Mesmo em um mercado mais sólido como o americano, eles agiam emocionalmente, pagavam caro para comprar na alta e vendiam no primeiro sinal de queda.
A conclusão é que somos essencialmente movidos pelo humor e o momento do mercado quando estamos começando, mas o fator tempo é insubstituível quando se trata de aumentar a probabilidade de recuperação dos preços nas eventuais correções que certamente acontecerão.
É claro que é possível ganhar dinheiro com os movimentos de curto prazo. Dinâmica que, aliás, conheço muito bem. Mas sendo o Brasil um país emergente e extremamente complexo, se orientar por fundamentos deveria ser o principal caminho. Algo que, para um investidor experiente, pode parecer óbvio, mas que para a maioria das pessoas a prática nos mostra que não é bem assim.
No fim das contas, é como disse Warren Buffet, “a qualidade mais importante do investidor é seu temperamento, e não o seu intelecto”.