O mercado futuro de açúcar em Nova York registrou uma queda significativa ao longo da semana, com o contrato para vencimento março-25 encerrando a 20.73 centavos de dólar por libra-peso, uma retração de 101 pontos ou aproximadamente 22 dólares por tonelada em relação à semana anterior. Os demais vencimentos, de maio/25 a março/26, que servem de parâmetro de fixação para a safra 25/26 do Centro-Sul também fecharam em baixa, variando de 93 a 57 pontos, o que equivale a quedas de 20.50 a 12.50 dólares por tonelada, respectivamente. Os contratos com vencimento entre maio/26 e março/27, que refletem a safra 26/27 do Centro-Sul, também apresentaram quedas, variando entre 42 e 21 pontos, equivalentes a retrações de 9,20 dólares por tonelada e 1,60 dólares por tonelada, respectivamente. Essa movimentação reflete uma pressão vendedora no mercado, influenciada não apenas por ajustes técnicos, mas também por fundamentos relacionados à oferta de açúcar do Brasil.
É interessante observar a volatilidade dos preços do açúcar ao longo dos últimos meses. Em agosto, os preços estavam deprimidos, alcançando mínimas de 17.52 centavos de dólar por libra-peso. Contudo, mesmo nesse patamar, a conversão para reais por tonelada, ajustada pela inflação, revelou um preço bastante remunerador de R$ 2,625 por tonelada.
Já em setembro, houve uma recuperação expressiva dos preços devido ao temor inicial de que a seca e os incêndios em áreas de canaviais, especialmente no estado de São Paulo, provocassem uma redução drástica na safra. O medo era de uma "morte súbita" da safra, com a previsão de encerramento antecipado da moagem e uma produção total de cerca de 560 milhões de toneladas. Naquele momento, o total moído acumulava 466 milhões de toneladas, e poucos acreditavam na possibilidade de recuperação. Esse cenário de incertezas levou os preços futuros em Nova York a alcançarem 23.64 centavos de dólar por libra-peso. Quando convertidos para reais por tonelada, os preços chegaram a quase R$ 3.000, representando o nível mais alto registrado no período e evidenciando o impacto direto das condições climáticas sobre o mercado.
As condições climáticas favoráveis, com boas chuvas no final de outubro e durante novembro, somadas a um pico inesperado do dólar em relação ao real, criaram um cenário oportuno para as usinas acelerarem suas fixações de preços. Esse movimento foi incentivado não apenas pelos preços remuneradores, mas também pela perspectiva de juros elevados, que influenciava a curva de preços em reais para o próximo ano, o NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira.
Em agosto, as usinas estavam fixadas menos de 30% do volume esperado para exportação na safra 25/26. Esse percentual subiu para 38.5% em setembro, 45% em outubro e alcançou 53.5% até o final de novembro. É importante destacar que, enquanto a fixação média de agosto foi de R$ 2.410 por tonelada, nos meses seguintes (setembro, outubro e novembro) essa média superou R$ 2.600 por tonelada, refletindo uma estratégia acertada das usinas em aproveitar aquele momento favorável.
A pressão vendedora gerada pelas fixações, combinada com a percepção de uma moagem no Centro-Sul melhor do que o esperado, contribuíram para o movimento de baixa nos preços. No acumulado da última semana de novembro, a moagem já alcançava 603 milhões de toneladas de cana. Considerando a média histórica dos últimos cinco anos, excluindo o último ano excepcional, a projeção é de que a safra encerre com 618 milhões de toneladas moídas. Caso essa estimativa se confirme, será a segunda maior moagem da história, ficando atrás apenas da safra recorde 23/24. Está explicado.
Além das questões já mencionadas, um fator adicional que pressionou o mercado foi a postura dos fundos especulativos, que decidiram "recolher o trem de pouso" e zerar suas posições na bolsa. Essa retirada de participação reduziu o suporte que os preços vinham encontrando, aumentando ainda mais a pressão vendedora. Em tempo: os fundos estão long 2,300 lotes. Nada. Absolutamente nada.
Os indicadores técnicos também desempenharam um papel relevante (veja comentário do Marcelo Moreira abaixo). O mercado quebrou várias médias móveis importantes, acionando gatilhos automáticos para novas vendas, o que intensificou o movimento de baixa. Essa combinação de fatores técnicos e a saída dos fundos criou um cenário de maior volatilidade, ampliando as quedas observadas ao longo da semana.
O que podemos esperar daqui para frente? Como mencionamos anteriormente, o mercado estará focado na percepção do tamanho da próxima safra, que se inicia em abril de 2025. Os impactos da seca e dos incêndios ocorridos levantaram estimativas de uma redução de 5% a 7,5% na produção da safra 2025/26, dependendo da gravidade das perdas.
Se assumirmos que a safra atual termina com 618 milhões de toneladas e aplicarmos uma redução de 5%, a próxima safra pode atingir cerca de 585 milhões de toneladas, número que parece refletir o consenso atual do mercado. No entanto, qualquer estimativa inferior a isso poderá trazer instabilidade e sustentar os preços em níveis mais altos. Por outro lado, uma produção acima de 600 milhões de toneladas provavelmente será interpretada como um sinal baixista, pressionando os preços para baixo.
Ainda assim, há fundamentos que trazem perspectivas construtivas para o mercado no longo prazo. O consumo global de açúcar tem crescido em um ritmo superior ao da produção nos últimos cinco anos. Nossas projeções indicam que o consumo deverá superar a produção a partir da safra 2028/29, criando um cenário estruturalmente mais apertado para o mercado.
Outro ponto crítico a ser observado é o papel da Índia nos próximos anos. Com um crescimento de consumo estimado em 1 milhão de toneladas por ano, a grande questão é se a Índia se tornará um importador líquido dentro de 3 ou 4 safras. Essa possibilidade pode alterar significativamente o equilíbrio global de oferta e demanda, impactando diretamente os preços.
Por fim, o Brasil continua consolidando sua posição como principal fornecedor global de açúcar, o que, apesar de sua robustez, introduz maior volatilidade – ou melhor, vulnerabilidade – para os consumidores finais. Nesse contexto, a expectativa é que o mercado continue a oscilar entre os fundamentos de oferta e demanda no curto prazo e uma visão estrutural mais construtiva no longo prazo.
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Análise Técnica (Marcelo Moreira): O mercado finalmente cedeu, encerrando a semana abaixo dos principais suportes de curto prazo. Após atingir a máxima semanal de 21.90 centavos de dólar por libra-peso, o vencimento março/25 fechou em 20.72 centavos de dólar por libra-peso. Os níveis de referência foram: fechamento anterior 21.81, máxima 21.90, mínima 20.57 e fechamento atual 20.72 centavos de dólar por libra-peso. Agora, os suportes rompidos se tornam novas resistências em 20.77, 20.85, 21.81 e 22.85 centavos de dólar por libra-peso. Os próximos suportes estão em 20.21 e 18.75 centavos de dólar por libra-peso. O vencimento julho/25 fechou em 18.63 centavos de dólar por libra-peso. Assim como março/25, rompeu suportes importantes e encerrou abaixo das médias móveis de 100 e 50 dias. Suas novas resistências estão em 18.85, 18.94, 19.47 e 20.09 centavos de dólar por libra-peso, enquanto os próximos suportes se encontram em 18.00, 17.61 e 17.00 centavos de dólar por libra-peso. Atenção ao spread V5/H6, que voltou a abrir para -15 pontos!