Os investidores tiveram cabeça fria para afastar o pânico nos mercados financeiros, que não passou de um susto após o tombo do índice Dow Jones na segunda-feira. Mas a instabilidade nos negócios deve permanecer elevada, com os ativos buscando um novo ponto de equilíbrio em meio a grandes oscilações de preços, para cima e para baixo, tendo como pano de fundo o ritmo forte de crescimento das principais economias.
Nesta manhã, por exemplo, os índices futuros das bolsas de Nova York mergulham no vermelho novamente, um dia após Wall Street passar por uma dramática mudança e recuperar-se do crash desta semana. O recuo indicado para a sessão regular hoje foi ganhando força à medida que desaparecia a retomada dos mercados na Ásia, sugerindo que a recuperação dos mercados globais ainda não está em terreno sólido.
As bolsas de Hong Kong e Xangai fecharam em queda, ao passo que Tóquio registrou leve alta, apagando os ganhos de 3,5% durante a sessão. Na Europa, as principais bolsas da região também abriram no negativo. O movimento nas ações é prejudicado pela renovada busca por proteção, o que fortalece o iene e o ouro, ao passo que o dólar acompanha a queda no rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries), o que beneficia o petróleo.
Assim, o que parecia ser uma melhora firme dos mercados financeiros ontem, ficou apenas na promessa hoje. O investidor não sabe dizer se a liquidação nos preços dos ativos de fato acabou, pois ainda busca razões para explicar a forte onda vendedora (selloff) em todo o mundo que começou ao final da semana passada e se intensificou na segunda-feira, resgatando a volatilidade nos negócios.
A questão é de diante do cenário de recuperação econômica global e também nos resultados das empresas, as dúvidas passam a ser em relação aos movimentos dos bancos centrais. Lá fora, o Federal Reserve reforçou o cenário de três aumentos na taxa de juros dos Estados Unidos neste ano, abrindo espaço, inclusive, para uma alta adicional, se necessária.
O primeiro aperto deve ser já em março, quando se espera que o novo presidente do Fed, Jerome Powell, sinalize o ritmo e a dosagem do ciclo de alta dos juros sob nova direção. No mês que vem, deve haver uma atualização nas previsões do BC dos EUA para as principais variáveis econômicas do país e também uma entrevista coletiva com Jay, como é chamado.
Aqui, a dúvida é se haverá mais uma queda na Selic, após o corte de 0,25 ponto que deve ser anunciado hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom), renovando o piso histórico do juro básico, a 6,75%, após 11 cortes seguidos, que reduziram a taxa básica em mais de 7 pontos. Há quem diga, porém, que abaixo de 7% o juro é insustentável. Por isso, pode ser um equívoco o BC brasileiro deixar a porta aberta para mais uma queda, no mês que vem.
Ao contrário, a autoridade monetária deve subir o tom e redobrar a cautela em relação à ampliação dos estímulos. Afinal, o ambiente externo já não é mais o mesmo desde a última reunião do Copom, em dezembro, enquanto internamente, a inflação já não surpreende mais para baixo e a atividade não parece precisar de impulso. Além disso, tanto nos EUA quanto no Brasil, a questão fiscal preocupa e as dificuldades políticos são latentes.
O mercado doméstico espera encontrar pistas sobre os próximos passos do Copom no comunicado que acompanhará o anúncio da decisão sobre a Selic (18h20). Trata-se do grande destaque da agenda econômica desta quarta-feira. Antes (12h30), o BC anuncia os dados sobre a entrada e saída de dólares no país até a sexta-feira passada. Logo cedo (8h), sai a inflação da baixa renda (IPC-C1) em janeiro.
No exterior, o calendário está fraco e traz apenas os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos Estados Unidos (13h30) e os dados do crédito ao consumidor em dezembro (18h). Também merece atenção a decisão de política monetária do BC da Índia (RBI), que deve manter a taxa de juros e adotar um viés neutro, de modo a permitir um déficit fiscal maior no país.