Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A espanhola Abengoa "decidiu paralisar as obras em curso" no Brasil, independentemente do estágio dos empreendimentos, segundo notas de reunião entre a empresa e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) às quais a Reuters teve acesso, em meio à crise financeira da matriz do grupo, que entrou com pedido preliminar de recuperação judicial na Espanha.
A empresa também disse ao regulador que está em tratativas "há algum tempo" para vender ativos ou encontrar parceiros para os projetos no país, que incluem uma linha de transmissão de energia importante para escoar a produção da hidrelétrica de Belo Monte e linhas que farão a conexão à rede de usinas eólicasno Nordeste.
Em carta elaborada após a reunião com representantes da empresa, realizada em 2 de dezembro, superintendentes da Aneel admitiram que souberam da situação da Abengoa "por meio da imprensa" e queixaram-se de não terem sido avisados sobre a crise.
"Para manutenção da relação de confiança mútua entre as partes... e pela relevância dos empreendimentos afetados no Brasil, os fatos... bem como as repercussões nas concessionárias do Brasil, deveriam ter sido comunicados tempestiva e diretamente à Aneel", diz o documento.
Em notas tomadas durante a reunião, que contou com a presença de dois diretores da Abengoa, a Aneel relatou que a empresa disse que "não obterá recursos para realizar os empreendimentos em implantação até solucionada a questão da holding".
Após o pedido preliminar de recuperação judicial na Espanha, a Abengoa ganhou prazo de três meses, prorrogável por mais um, para negociar com credores. Se não conseguir um acordo nesse período, a companhia entra oficialmente em recuperação judicial.
A Abengoa informou à Aneel que a venda de projetos teria como objetivo levantar recursos para continuar as obras no país -- "o objetivo de venda de ativos no Brasil, caso se concretize, não será para pagar credores".
A agência solicitou à empresa que apresente até 18 de dezembro informações sobre o andamento dos projetos no país, incluindo estratégias ou planos de retomada do desenvolvimento das linhas.
Ficou acertado também que a empresa deverá apresentar relatórios semanais ao regulador com informações sobre o andamento das negociações com credores e as decisões quanto às atividades no Brasil.