Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A colheita de café no Brasil tem avançado "rapidamente" na safra 2024/25, com ajuda do clima seco e da maturação antecipada do arábica, enquanto a comercialização segue atrasada apesar de preços altos, de acordo com levantamentos da Safras & Mercado encaminhados à Reuters nesta segunda-feira.
Até o dia 11 de junho, 37% da safra já havia sido colhida, percentual que supera o mesmo período do ano passado (33%) e a média dos últimos cinco anos para o mesmo período (34%), segundo dados da consultoria.
A colheita de arábica, que responde por cerca de dois terços da produção brasileira de café, "está bastante acelerada", com 30% dos trabalhos já concluídos, disse a Safras & Mercado em relatório.
O ritmo supera em cinco pontos percentuais tanto o índice de igual época do ano passado como a média de cinco anos para o período.
"Embora a questão da peneira mais miúda continue sendo um problema, isso não tem se traduzido em quebra de renda (ou seja, mais café em coco para uma saca de beneficiado) devido à maior densidade do grão", analisou o consultor de Safras, Gil Barabach.
Portanto, segundo o analista, a expectativa é de uma produção de arábica maior este ano.
A Safras estima a colheita de café arábica em 47,05 milhões de sacas de 60 kg, alta de 7,3% na comparação com a temporada passada.
"Os produtores estão mantendo bons procedimentos de secagem, beneficiamento e descanso do café nas tulhas, o que contribui para a qualidade final", ressaltou.
Já a colheita de café canéfora (conilon e robusta) também segue em bom ritmo e atingiu 51% da expectativa, de 23,3 milhões de sacas, aumento de 1,6 milhão de sacas na comparação com a temporada passada.
"Após um início mais lento, os trabalhos aceleraram, especialmente em Rondônia. No entanto, as chuvas isoladas atrapalharam um pouco a colheita no Espírito Santo", comentou Barabach.
Mesmo assim, os trabalhos estão mais rápidos ante o mesmo período do ano passado (49%), mas em linha com a média dos últimos cinco anos.
Segundo o consultor, continuam os relatos de café miúdo e perdas em torno de 10% a 15% da safra, com alguns produtores indicando até 30% abaixo do esperado.
"Isso reforça a ideia de revisão negativa no número de safra", disse Barabach, em nota, sem entrar em detalhes sobre a projeção.
Somando a colheita esperada de arábica e canéforas, a previsão é de que o Brasil produza 70,37 milhões de sacas de 60 kg em 2024, alta de 7,38% na comparação com a temporada passada, uma vez que o ciclo atual é o positivo na bienalidade do arábica.
VENDAS ATRASADAS
Ele disse também que já começa a aparecer um pouco mais de café novo nas cooperativas e praças de negociação.
Mas, em outro relatório, a Safras notou que os negócios têm sido mais lentos, apesar dos bons preços.
Levantamento da consultoria até o último dia 11 de junho indica que 22% do potencial da safra brasileira 2024/25 havia sido vendido pelos produtores, versus 26% da colheita anterior nesta mesma época e abaixo da média dos últimos cinco anos (32%).
"A alta nas bolsas, tanto para o arábica em NY quanto para o robusta em Londres, combinada com a valorização do dólar (que atingiu 5,40 reais), levou o preço do conilon a níveis históricos no Brasil", lembrou o consultor.
O arábica de melhor qualidade também está sendo negociado acima de 1.300 reais por saca, um preço similar ao alcançado quando repercutia a geada de 2021.
Porém, isso não é suficiente para estimular o interesse de venda do produtor, segundo ele.
"Os produtores estão bem capitalizados devido às vendas do café remanescente da safra 2023 nos primeiros meses do ano, especialmente em abril, quando aproveitaram a forte alta nos preços. Isso ajudou a esvaziar estoques e garantir recursos para cobrir despesas de colheita, além de sustentar o intenso fluxo de embarques observado nos últimos meses no Brasil", comentou.
Para Barabach, os produtores anteciparam posições com relação à safra 2024, o que diminuiu a exposição à chegada da nova safra. "Agora, eles gerenciam a comercialização com mais tranquilidade, acompanhando os ganhos recentes sem pressa, monitorando a temporada fria e preparando com calma o café recém-colhido."
As vendas de café arábica representam 23% da produção estimada, abaixo dos 28% do mesmo período do ano anterior e aquém da média de cinco anos (34%).
A comercialização de café canéfora avançou cinco pontos percentuais, alcançando 20% da produção, versus 24% registrados no mesmo período do ano passado, quando os produtores estavam mais agressivos. No entanto, esse percentual ainda está bem abaixo da média dos últimos cinco anos (29%).
(Por Roberto Samora)