Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O setor agrícola brasileiro, de maneira geral, celebrou o acordo comercial do Mercosul com a União Europeia, uma vez que há potencial de o Brasil expandir suas exportações de produtos como carnes, café industrializado e suco de laranja, disseram associações nesta sexta-feira.
Integrantes do setor no país, maior exportador global de carnes de frango, bovina, café, suco de laranja, etanol de cana e açúcar, aguardavam há tempos o acordo anunciado nesta sexta-feira, que era negociado há duas décadas.
A indústria de carne suína do Brasil comemorou, uma vez que o acordo deverá finalmente viabilizar o acesso do produto ao mercado europeu, destacou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
"O volume acordado é expressivo, suficiente para que o Brasil mantenha sua posição como parceiro em prol da segurança alimentar europeia", afirmou em nota o diretor-executivo da ABPA, Ricardo Santin, que acompanhou as negociações para o tratado em comitiva do Ministério da Agricultura em Bruxelas.
Com o acordo UE-Mercosul, a ABPA citou cota total de exportações de carne de frango de 180 mil toneladas no ciclo de 12 meses, que devem se somar a outras que superam 340 mil toneladas, com tarifas intra-cota e extra-cota, para o Brasil.
Já a Associação Brasileira de Café Solúvel (Abics) avaliou como "extraordinário" para o setor o acordo entre UE e Mercosul, que deve permitir que o país exporte 35% a mais para os europeus em cinco anos, disse o diretor de Relações Institucionais da entidade, Aguinaldo José de Lima.
Apesar de uma tarifa de 9%, a União Europeia é o segundo principal destino do café solúvel brasileiro, o que indica que o país já tem uma base importante para avançar mais no mercado europeu após o acordo com o Mercosul, acrescentou Lima em entrevista à Reuters.
O diretor da Abics explicou que a tarifa cairá 25% ao ano, segundo o acerto, sendo zerada ao quinto ano após a implementação do pacto.
O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia deve principalmente melhorar a competitividade do suco de laranja brasileiro, que hoje possui tarifas pesadas, afirmou a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), indicando que a taxa será zerada no futuro.
"O acordo... abre espaço para que as empresas adotem diferentes estratégias levando em consideração a nova realidade tarifária", afirmou em nota o diretor-executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto.
"Fica mais competitivo, deixa de ter um pedágio importante, 300 euros por tonelada em alguns casos. Para o importador fica mais barato...", afirmou Neto, evitando fazer estimativas sobre volumes potenciais no longo prazo.
Para a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), entretanto, o acordo comercial não foi ambicioso o suficiente, embora tenha sido o "melhor possível".
O tratado poderia ir além por conta da demanda europeia por açúcar e pelo grande consumo de biocombustíveis no bloco, acrescentou a associação.
No setor de soja, principal produto de exportação do Brasil, o acordo não tem influência.
A UE já é o principal mercado para o farelo de soja do Brasil, uma vez que a tarifa é zero.
"Então não tem benefício direto do acordo. O benefício virá do crescimento de exportações de carnes... Mas a conclusão do acordo foi um grande feito, muito importante no sentido de tornar a economia brasileira mais aberta", avaliou o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, André Nassar.