Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A argentina Agrotoken, especializada na "tokenização" de commodities agrícolas, estreou operações no Brasil com a digitalização de 8 mil toneladas de grãos de Mato Grosso, e quer crescer em um primeiro momento aproveitando o grande mercado de "barter" do país, com a criptomoeda permitindo um aprimoramento das negociações de "trocas" de insumos por safras.
A companhia, que já "tokenizou" 250 mil toneladas de grãos na Argentina, projeta 1 milhão de toneladas para o Brasil em 2023, disseram executivos nesta quarta-feira, ao anunciar os planos que incluem uma parceria firmada com a Visa (BVMF:VISA34)(NYSE:V)para impulsionar os negócios com a utilização de cartão.
Neste início da operação brasileira, foram estabelecidos cinco polos de atuação em Mato Grosso para fomentar negociações envolvendo os ativos digitais, preliminarmente entre produtores, revendas de insumos e compradores de soja e milho.
"O token vai melhorar o 'barter', o produtor vai fazer o mesmo negócio, de forma mais barata, com menos burocracia e de fora mais eficiente", disse o CEO e cofundador da Agrotoken Eduardo Novillo Astrada, à Reuters.
Nessas operações de "barter", muito usadas para o produtor garantir os insumos para o plantio, com o compromisso de venda de parte da colheita futura, o produtor já usa sacas de soja ou milho como moeda, as quais, digitalizadas, podem dinamizar e otimizar os negócios, aposta a Agrotoken.
"O produtor já pensa em grãos, 40% das negociações são em 'barter', quando o produtor arrenda uma área, ele usa sacas de soja, o grão já atua como uma moeda, o token formaliza isso", exemplificou Astrada.
Nessa linha, ele acredita ser possível forte adesão à plataforma da Agrotoken nos próximos anos.
"Em dez anos, queremos ter 50% dos produtores com 40% de sua produção tokenizada", afirmou ele sobre planos para o Brasil.
Os executivos da companhia destacaram que os ativos da Agrotoken têm vantagens sobre outras criptomoedas, pois são fungíveis e inteiramente lastreados em produtos físicos.
Além disso, para o token ser emitido, não basta que o produto agrícola esteja armazenado, por exemplo. Ele precisa ter sido negociado, o que mantém compradores de grãos, como tradings, no processo.
"Queremos ajudar o mercado a evoluir", destacou o diretor da Agrotoken no Brasil, Anderson Nacaxe.
"Não queremos vir chocando com o mercado, queremos vir junto, queremos obter a confiança do produtor", acrescentou ele, salientando que houve boa aceitação neste início.
Na primeira fase, a companhia, que cobra uma taxa pelo gerenciamento das negociações, vai ofertar tokens de soja, milho e trigo, e no futuro projeta de carnes e etanol.
Nacaxe comentou que em um primeiro momento as transações estarão restritas a produtores agrícolas, mas no futuro a ideia é que as pessoas na cidade ou empresas de serviços e comércio possam negociar utilizando os tokens, uma forma de se proteger, por exemplo, de oscilações de preços.
"Só vamos abrir a base para pessoas físicas quando o produtor rural estiver bem atendido", disse o executivo, que vislumbra, no futuro, um consumidor realizando compras cotidianas, como o pagamento por etanol nos postos com token.
A utilização dos tokens poderá ser feita por meio da plataforma da companhia ou via cartão Visa, cuja parceria já está encaminhada, com possibilidade de lançamento do cartão específico para breve.
Segundo os executivos, não há pendências regulatórias para a companhia operar no Brasil.
(Reportagem de Roberto Samora)