Por Francois Murphy
VIENA (Reuters) - O órgão de vigilância nuclear da ONU informou nesta segunda-feira que não houve progresso nas negociações com o Irã sobre questões delicadas, como a reinstalação de câmeras de vigilância e a explicação de vestígios de urânio em locais não declarados, de acordo com dois relatórios trimestrais vistos pela Reuters.
Ao mesmo tempo, o estoque de urânio enriquecido do Irã com até 60% de pureza, próximo aos cerca de 90% do grau de armamento, continuou a crescer, embora em ritmo mais lento, apesar de parte dele ter sido diluído, segundo um dos relatórios confidenciais da Agência Internacional de Energia Atômica para os Estados membros.
"O diretor geral (da AIEA) (Rafael Grossi) lamenta que não tenha havido progresso na resolução das questões de salvaguardas pendentes nesse período de relatório", disse um dos relatórios, referindo-se ao fracasso do Irã em explicar com credibilidade a origem das partículas de urânio encontradas em dois locais não declarados.
Os relatórios, enviados aos Estados membros da AIEA antes da reunião trimestral da Junta de Governadores da AIEA, composta por 35 países, na próxima semana, também afirmaram que, após um progresso limitado na reinstalação das câmeras de vigilância da AIEA no trimestre anterior, não houve nenhum progresso desde então, aumentando ainda mais as tensões com as potências ocidentais.
O Irã e a AIEA anunciaram um acordo em março sobre a reinstalação de câmeras de vigilância introduzidas sob um acordo com as principais potências em 2015, mas removidas a pedido do Irã no ano passado. Apenas uma fração das câmeras e outros dispositivos de monitoramento que a AIEA queria implantar foram instalados.
Além das questões que provavelmente causarão tensão com o Ocidente, o estoque de urânio enriquecido em até 60% do Irã aumentou em cerca de 7,5 kg, chegando a 121,6 kg, segundo o relatório, embora 6,4 kg tenham sido diluídos com urânio enriquecido em um nível mais baixo.
A produção iraniana de urânio enriquecido a até 60% diminuiu para cerca de 3 kg por mês, em comparação com cerca de 9 kg por mês anteriormente, afirmou um diplomata sênior.
Outros diplomatas disseram que a desaceleração poderia ser parte de esforços de redução das tensões entre o Irã e os Estados Unidos, envolvendo também fundos iranianos congelados no exterior e prisioneiros norte-americanos mantidos no Irã, embora o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, tenha negado que as questões estejam ligadas.
"É claro que o Irã afirma que (a desaceleração do enriquecimento para até 60%) é positiva, mas mais HEU (urânio altamente enriquecido) ainda é mais HEU", disse um diplomata ocidental.
O estoque de urânio enriquecido a 60% do Irã é agora quase três vezes maior do que os cerca de 42 kg que, segundo a definição da AIEA, são teoricamente suficientes, se enriquecidos ainda mais, para produzir uma bomba nuclear. Os especialistas acrescentam, entretanto, que parte do urânio seria perdida no processo. O Irã nega querer produzir armas nucleares.